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13 Reasons Why (Netflix, 2017) | O cruel mundo conectado, salvo pela amizade analógica

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O quanto uma amizade é realmente importante para você?

Quando conhecemos alguém, esse pessoa fará parte da nossa vida para sempre. Não importa o que aconteça depois daquele primeiro cumprimento, aperto de mão ou primeira troca de nomes. Mesmo que vocês briguem feio depois disso, aquela pessoa não mais vai sair da sua vida. Logo, muito cuidado com o que você vai fazer ou dizer depois desse primeiro encontro.

Em um mundo tão contraditório como o nosso, onde estamos mais próximos das pessoas através das redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas, nos tornamos mais egoístas e individualistas. Fazemos qualquer coisa para receber a notoriedade de quem nos conhece e, principalmente, de que não nos conhece. E, por conta disso, deixamos de lado a ideia de fortalecer vínculos genuínos, verdadeiros e indestrutíveis.

A mesma tecnologia que constrói relações pode ser usada pelas pessoas para destruir relações. E 13 Reasons Why, drama juvenil da Netflix, fala de relações, usando as metáforas e os contrastes da contramão do senso comum de conectividade. Para fortalecer relações.

 

 

A série é muito bem pensada nesse aspecto. Quando Hannah resolve confidenciar quais foram os 13 motivos pelos quais ela se suicidou, e como todos os eventos da dita “geração conectada” resultou em sua morte, ela escolhe, de maneira genial, usar de jurássicas fitas cassete para registrar seus relatos. É uma analogia clara à tal contramão que eu disse no parágrafo anterior, além de uma referência ao sentimento de nostalgia que tomou conta da cultura pop atual.

Aliás, a série aposta muito nesse momento retrô. Uma trilha sonora de clássicos do pop/rock dos anos 80 e 90, carros antigos, vestimentas que eram moda há 30 anos. Pequenos easter eggs de nostalgia que servem como fio condutor para levantar uma discussão que é muito atual: os danos que as redes sociais podem promover a uma pessoa.

Toda a tragédia de Hannah começa a partir de um compartilhamento de uma foto sua para os demais colegas do seu colégio. Um momento que era para ser especial se tornou uma tragédia por conta da insensibilidade de uma geração que vive no modo zoeira.

Tudo piora para ela quando Clay, aquele que ela julgava ser a pessoa mais próxima dela dentro e fora do colégio, resolve pagar de falso moralista, cobrando a menina pela postura que levou a ter aquela foto compartilhada de forma não autorizada.

Esse parece ser outro reflexo dessa atual geração jovem: a falta de cumplicidade. O individualismo é tamanho dentro de um senso coletivo, que amizades são simplesmente descartadas. A lealdade é trocada pela popularidade no Facebook.

 

 

Com um roteiro maduro e bem estruturado, 13 Reasons Why tem a sensibilidade de apresentar essas situações sem rodeios. Romantizam sim a narrativa de Hannah, mas não a tornam uma personagem saída da saga Crepúsculo. Hannah tem personalidade, é inteligente, perspicaz. Mas pagou por um erro, um deslize.

Mesmo assim, o ato mais inteligente dela foi mostrar a todos – principalmente para Clay – que todos foram responsáveis por sua morte. De alguma forma.

 

Talvez meu discurso possa parecer piegas para a dita “geração conectada”, mas eu insisto. Para os mais jovens, muito preocupados com a imagem que vão criar nas redes sociais, e mais preocupados ainda em alcançarem a popularidade no Facebook, Instagram e Snapchat, comecem a olhar para o colega que está do lado. Isso mesmo: tire os olhos do smartphone, levante o rosto, e veja se aquela pessoa que está do seu lado não está precisando de um sorriso ou uma palavra amiga. Quem sabe essa atitude pode ser mais relevante que os likes que você tanto busca. Com sorte, vocẽ pode até salvar uma vida.

Para os adultos, observe se o comportamento do seu filho adolescente está fora dos padrões, e converse com ele. Não só para o seu filho muito ativo no WhatsApp, mas também para aquele filho que perde o gosto por tudo. Jovens muito calados podem estar em processo de fuga, e quando não encontram saídas e respostas podem buscar como solução um fim trágico e definitivo. Observar, conversar e orientar nunca é demais. Ainda mais em tempos onde o seu filho ou filha pode procurar conselhos com amigos e não receber resposta alguma.

 

Vale muito a pena assistir em maratona (mesmo que seja em um final de semana) essa excelente série da Netflix. 13 Reasons Why, baseada em um livro, pode trazer importantes reflexões sobre como você está se portando com as suas amizades. Sobre como de vez em quando temos que nos desconectar do mundo virtual para se conectar com os reais sentimentos das pessoas.

E em como o mundo analógico pode salvar relações.

Sim… pois se Hannah tivesse gravado seus relatos em MP3, muito provavelmente Clay jamais teria dado a devida importância para isso.

O que fez tudo ficar ainda mais instigante era o fato dessas confissões estarem registradas em fitas cassette.


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@oEduardoMoreira