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A caligrafia está desaparecendo com a Geração Z?

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Antes, a gente interagia com os colegas de classe através de trocas de papeis que não podiam ser pegos pelos professores, ou era uma visita certa para a diretoria. Agora, toda a comunicação acontece por troca de mensagens nas redes sociais e aplicativos dedicados.

É a evolução da comunicação humana que foi construída basicamente pelos Millennials e, principalmente, pela Geração Z. Se comunicar com alguém está mais fácil, a informação chega mais rápido e o mundo de hoje está sem fronteiras.

Por outro lado, estamos perdendo a capacidade de escrever à mão. A caligrafia, uma prática que existe há mais de 5.500 anos, está se tornando obsoleta.

 

A origem e a importância da caligrafia

A caligrafia foi desenvolvida por civilizações antigas como a suméria, egípcia e chinesa, inicialmente restrita às elites sociais.

Com a Revolução Industrial e a invenção da imprensa, a alfabetização tornou-se acessível a um público mais amplo, estabelecendo a escrita manual como uma habilidade básica para qualquer ser humano que queria prosperar na vida.

Escrever é essencial para o ser humano. É que coloca comida na mesa de muita gente. E é o que garante a minha pizza fria no domingo de manhã, mostrando que estou vencendo na vida.

E isso está se perdendo lentamente.

Estudos como os divulgados pela T.rkiye Today mostram que a transição da Geração Z para a escrita digital afeta negativamente sua habilidade de escrever manualmente.

Até mesmo o uso de teclados tradicionais do computador está em declínio, com os celulares e seus aplicativos liderando essa mudança.

Na prática, mal seguramos uma caneta para assinar documentos. E várias pessoas (eu, inclusive) estão com uma caligrafia horrível por conta dos teclados de computadores e smartphones.

Como qualquer habilidade humana, a caligrafia exige prática constante. A falta de uso frequente resulta em uma caligrafia simplesmente ilegível, linhas tortuosas e erros ortográficos.

Para piorar a situação, a escrita abreviada e informal, comum em redes sociais, torna o quadro ainda pior, pois além de ninguém mais conseguir usar uma caneta para escrever, o vocabulário utilizado não só é limitado como absurdamente errado.

 

As evidências dos estudos científicos

Pesquisas da Universidade Stavanger na Noruega revelaram que, após apenas um ano focado exclusivamente na escrita digital, 40% dos estudantes apresentaram uma perda significativa na fluidez da caligrafia.

Além disso, a incapacidade de construir frases longas e parágrafos foi identificada como uma consequência desse hábito de apenas ficar no formato digital na hora de escrever.

De um modo geral, a Geração Z demonstra dificuldades em criar textos com frases longas e argumentos bem estruturados, o que compromete a profundidade de suas comunicações.

Sem falar na maior limitação de uma geração inteira em compreender contextos mais completos e complexos, utilizando apenas os recortes de narrativa para o desenvolvimento do pensamento crítico (que, na verdade, é um raciocínio incompleto).

Mas nem tudo é desastre neste caso. A habilidade de sintetizar ideias em poucas palavras é um ponto positivo que surgiu desse novo padrão de escrita.

O uso intenso de redes sociais levou à preferência por textos curtos e objetivos, o que aumenta a capacidade de síntese do indivíduo. E isso não é algo exatamente ruim em alguns cenários.

Por outro lado, essa sintetização da expressão de pensamentos também dificulta a elaboração de mensagens mais complexas e argumentativas.

Em um debate mais amplo sobre uma ideia ou conceito, o jovem não consegue ir além de um determinado ponto nos seus argumentos, o que pode resultar em uma geração imediatista e pouco articulada na visão de mundo.

 

Como ficará o futuro da escrita?

A perda da caligrafia e da escrita estruturada na Geração Z levanta questionamentos sobre como será o futuro da comunicação de massa como um todo.

Será possível encontrar um equilíbrio entre os benefícios da tecnologia e a preservação de habilidades essenciais para a expressão humana?

Sem uma mudança de paradigma neste aspecto, chegar a um denominador comum parece ser algo bem difícil.

O sistema educacional enfrenta o desafio de integrar habilidades digitais enquanto preserva competências tradicionais, como a caligrafia, a leitura, a ortografia e o estudo das regras gramaticais.

Apesar da familiaridade com tecnologias digitais, muitos jovens sentem-se despreparados para o mercado de trabalho em termos de habilidades práticas, como redigir e-mails ou realizar pesquisas que entregam resultados eficientes.

É uma geração que não sabe usar um computador, e talvez nem precise, dependendo do campo profissional que vai atuar no futuro.

Porém, neste momento, as principais funções laborais ainda dependem do uso adequado do computador para o desenvolvimento laboral e garantia na vaga de trabalho.

É um cenário complexo.

De um modo geral, as pessoas não só não escrevem textos longos. Elas não querem mais perder tempo em ler conteúdos que gastam mais de dois minutos para serem consumidos por completo.

É assustador pensar que a “geração TikTok”, na sua imensa maioria, não passa do título de um artigo que você compartilha nas redes sociais.

E com o advento da inteligência artificial, que entrega a resposta em poucos segundos, os blogs e sites de notícias ficarão esvaziados, com a tendência de desaparecimento progressivo.

A não ser que o seu conteúdo seja muito diferenciado, como é o caso desse artigo.

Há um movimento crescente para reintroduzir práticas que valorizem a caligrafia nas escolas, reconhecendo sua importância não apenas como habilidade técnica, mas também como forma de expressão pessoal e criatividade.

Por outro lado, as empresas devem adaptar suas expectativas em relação à Geração Z, reconhecendo que sua abordagem única à tecnologia pode trazer inovação e eficiência se bem direcionada.

Para isso, precisam deixar de lado antigas exigências para os postos de trabalho e, ao mesmo tempo, seguir valorizando as habilidades que ainda são os diferenciais para determinar profissionais competentes e proativos.

A Geração Z representa um paradoxo interessante: enquanto navega com facilidade no mundo digital, enfrenta problemas no desenvolvimento de habilidades tradicionais que foram fundamentais ao longo da história.

Nada será como antes, e o mundo está em constante transformação. Mas algumas coisas não mudam, e cabe ao coletivo se encontrar no meio de tantas mudanças.


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