A Ferrari é um caso complicado de se entender, e os torcedores da equipe sabem disso melhor do que eu e você. Mas o sentimento agridoce que ficou com o seu desempenho no GP da Hungria de 2024 precisa ser melhor compreendido.
E confesso que tenho algumas dificuldades em entender a estratégia da equipe hoje. Será que foi o plano ruim? Ou se tudo o que aconteceu é fruto de um carro que ainda não está no mesmo nível que Mercedes e Red Bull?
Nessa análise, vou tirar a responsabilidade de melhor desempenho dos ombros de Charles Leclerc e Carlos Sainz. Até porque entendo que ambos são reféns de algo maior.
Como Leclerc não tentou ultrapassar Hamilton?
O movimento mais flagrante (ou melhor, a falta de um movimento) da Ferrari na corrida de hoje foi o fato de Leclerc que, após a segunda parada, tinha pneus mais rápidos que Lewis Hamilton, mas não investiu na ultrapassagem do seu futuro companheiro de equipe.
Eu realmente não entendi isso aqui.
A Ferrari até que apresentou um ritmo de corrida melhor na Hungria, a ponto de andar próximo da Mercedes e obrigar Max Verstappen a disputar posições com seus carros.
Mas não tentar a ultrapassagem contra Hamilton, que estava com pneus duros, é algo estranho, para dizer o mínimo.
Tudo bem, a pista de Hungaroring estava degradando os pneus médios em demasia, e tentativas de ultrapassagens aceleram o processo.
Por outro lado, não tentar pode indicar uma ausência de ritmo de corrida em relação a Mercedes, e isso deixou Leclerc refém da situação apresentada.
Sainz não seria mais competitivo que Verstappen?
Essa pergunta não é em função da corrida como um todo, pois bem sabemos que a Red Bull é superior à Ferrari como um todo.
Falo mesmo das últimas voltas.
Depois que Verstappen decidiu brincar de Rocket League com Lewis Hamilton, Carlos Sainz não teve caro para segurar o holandês, que o ultrapassou para conquistar a quinta posição na corrida.
Ou seja, mesmo com um carro desalinhado, avariado e fora do eixo, a Red Bull ainda é mais competitiva que uma Ferrari que, em teoria, estava com tudo funcionando.
Mais uma vez, temos a questão de ritmo de corrida que deve ser observado. A Ferrari ainda não é competitiva o suficiente para superar os carros que estão tecnicamente na sua frente.
E, de novo, Sainz se torna refém de uma situação que é maior do que ele.
Virou quarta força?
Sim. Neste momento, a Ferrari é a quarta força da categoria, atrás de McLaren, Red Bull e Mercedes.
A equipe italiana é outra que encontra dificuldades em melhorar o seu pacote técnico. Da mesma forma que hoje acontece com a Red Bull, tinha um carro que já era bom nas temporadas anteriores, o que resultou em uma curva de evolução mais curta que as demais.
McLaren e Mercedes tinham muito mais a evoluir, e fizeram isso. E é possível imaginar a frustração de Leclerc e Sainz, que já venceram em 2024, mas não conseguem entregar algo além do que estão mostrando hoje.
Talvez a última chance de alguma evolução dessa Ferrari em 2024 seja justamente em uma eventual atualização para o GP da Bélgica, na semana que vem.
Com as férias de verão (na Europa) que resulta na obrigatoriedade do “congelamento” dos trabalhos nas equipes e a necessidade de olhar para 2025, entendo que a Ferrari vai ficar nisso mesmo.
Ainda mais agora, que a McLaren assumiu a vice-liderança no campeonato de construtores.
Não estou aqui afirmando que a Ferrari tem que jogar a toalha. Mas para mim, está bem óbvio que é melhor começar a trabalhar para garantir a terceira posição entre as equipes.
Ou perde esse posto para a Mercedes, transformando o gosto agridoce que mencionei no começo do artigo em um amargo típico do retrogosto de mini vômito.