Apenas 4% dos profissionais de TI se declaram negros, 20% pardos e 73% brancos, evidenciando a falta de diversidade étnica no setor. Os dados são o resultado do estudo “Diagnóstico Comportamental dos Profissionais de TI”, realizado pelo IT Forum, em parceria com Eu Capacito, Futuros Possíveis e LANDTech.
Sinceramente? Não precisava de um estudo para concluir que pretos e pardos são minoria entre os profissionais de tecnologia. Eu bem sei disso, como produtor de conteúdo do setor. Poucos como eu estão trabalhando profissionalmente nesse segmento.
O que assusta mesmo é pensar que a minoria está bem longe de ser o equivalente aos 54% de pretos e pardos que compõem a maioria da população brasileira.
Uma minoria insatisfeita
Dois terços dos profissionais negros não estão satisfeitos no trabalho, contrastando com níveis mais altos de felicidade entre brancos e pardos, refletindo um ambiente de trabalho pouco acolhedor para esse grupo minoritário.
Para os profissionais negros, o reconhecimento é um motivador crucial, enquanto cargos e salários são menos significativos, indicando uma busca por valorização pessoal em função do trabalho realizado.
De fato, a impressão que fica é que pessoas pretas precisam fazer seis ou sete vezes mais do que outros grupos para receberem esse reconhecimento ou valorização pessoal.
E aqui, não estou incluindo necessariamente a valorização profissional, pois os salários pagos não é necessariamente um fator de reconhecimento dentro da profissão.
Falta de lideranças negras
Aqui, o cenário de contraste é ainda mais flagrante, mas igualmente comprovado na realidade prática dos negros no mercado de trabalho brasileiro.
Apenas 4% dos cargos de diretoria são ocupados por negros, enquanto brancos ocupam 83%. Ou seja, temos um cenário de escassez de representatividade em posições de liderança mais do que consolidado.
São raras as empresas que contam com programas específicos para promoção de pessoas negras em posições de liderança. E quando isso acontece, a iniciativa é vista pelo grande grupo como algo negativo, usando a hipócrita defesa da meritocracia (que não existe) como argumento.
Como alternativa, muitos profissionais acabam tomando a mesma decisão que eu tomei: ser um CNPJ e abrir a própria empresa para obter o total controle e protagonismo de sua perspectiva profissional.
Um em cada três profissionais negros considera o empreendedorismo uma saída viável, buscando autonomia em um ambiente corporativo que limita oportunidades.
Para os profissionais que ainda estão no mercado de trabalho, a busca por diversidade não é o principal motivo para mudar de empresa. A demanda por ambientes mais inclusivos e variados é crescente. O que faz sentido, pois ninguém quer se ver obrigado a ir embora porque não se sente parte integrante daquele ambiente de trabalho.
Infelizmente, é o que mais acontece nos diferentes segmentos da sociedade. O normal é ver a pessoa preta saindo da empresa, de grupos de trabalho ou solidariedade, atividades artísticas e culturas e vários outros núcleos sociais porque não se sentem integrados pelos demais membros do coletivo.
Eu bem sei disso também.
Por fim, o estudo aponta que a disparidade racial e a falta de inclusão precisam ser abordadas urgentemente para promover um setor de TI mais forte e representativo.
Mas levanto sérias dúvidas se as empresas estão preparadas para essa conversa.
Várias coisas apresentadas no próprio estudo me levam a crer que a resposta é (infelizmente) NÃO.
Via MundoRH