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A nova moda do TikTok: o “antinatalismo”

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E eu, tentando produzir conteúdo sério na internet…

O TikToker argentino (e é claro que essas coisas nascem no TikTok) Hassan Azteca ganhou notoriedade na web com um vídeo onde ele questiona a obrigação de trabalhar, uma vez que nunca pediu para nascer.

Seus pais também nunca pediram para você seguir respirando e dando despesas para eles, pois entenderam que, uma vez que transaram e engravidaram, se viram na obrigação de criar a criança.

De qualquer forma, o vídeo levantou o debate sobre a “filosofia” do antinatalismo, ou seja, a crítica sobre a decisão de trazer novas vidas ao mundo sem consentimento.

 

Filosofia de vida? Ou desculpa para vagabundagem?

Vamos primeiro entender o que é o tal do antinatalismo para depois discutir o vídeo com o mínimo de contexto e entendimento.

O antinatalismo é uma “filosofia” (e eu tenho uma certa resistência em aceitar que isso é realmente um pensamento filosófico) que argumenta que trazer filhos ao mundo é moralmente questionável.

O vídeo de Azteca usa essa ideia como base, e traz referências a pensadores como David Benatar, autor do livro “Melhor Não Ter Existido”.

O pensamento antinatalista defende que pessoas que nasceram sem o devido consentimento tendem a sofrer os efeitos da vida moderna, da sobrepopulação e seus respectivos impactos ambientais.

A história do antinatalismo não é novam e já teve outros defensores históricos. Como foi o caso de Raphale Samuel, que em 2019 anunciou sua intenção de processar seus pais por tê-lo gerado sem seu consentimento.

E não é bem isso que Azteca defende em seu vídeo.

Ele afirma de forma repetitiva e até cansativa que “não está obrigado a trabalhar” porque não pediu para nascer, criando a desculpa perfeita para ser um vagabundo pelo resto da vida.

Por outro lado, não podemos culpá-lo por tentar. Ele desafia normas sociais previamente estabelecidas e impostas aos indivíduos sobre a vida, o modo de viver e nossa relação ao trabalho.

Historicamente, fomos convencidos de que “o trabalho enobrece o homem”. Mas nos últimos anos, nós vivemos para trabalhar, e não o contrário.

Muitas pessoas estão abraçando modos de vida mais simples, com menos apego à matéria e menos luxos. O que é bem diferente da não obrigatoriedade em trabalhar, dando a entender que os pais devem ser provedores pelo resto da vida…

…porque, basicamente, não perguntaram para um ser que não existe se ele queria existir ou não!

 

Tudo isso “é uma piada”

É claro que apareceram defensores e críticos do Azteca nas redes sociais.

Em entrevista recente, ele mencionou que muitos que os criticavam eram “pessoas frustradas com suas rotinas de trabalho”.

Amigo, eu trabalho em casa, e amo o meu trabalho. Só estou afirmando que sua visão de mundo é, no mínimo, fruto de muita criatividade.

Na prática, dá para encarar a visão dele como uma grande piada, até mesmo na estratégia de viralização. E ele mesmo confessou que fez tudo isso para aparecer.

Azteca utiliza hashtags como #humor e #comédia para atrair visualizações, mas não podemos deixar de pensar que o contexto apresentado tem sim o objetivo de abrir o debate para algo que, sinceramente, não faz muito sentido.

A ideia de que a vida deve ser uma escolha consciente e consensual ressoa como muitos se sentem sobrecarregados pelas expectativas sociais, e eu até entendo essa parte.

Acredito que é válido o debate mais amplo sobre a responsabilidade individual e coletiva em relação à vida.

Só não compreendo como válido o pensamento de corresponsabilidade dos pais sobre o pedido de consentimento prévio para um ser que não existe.

E usar esse “pedido de consentimento” como desculpa para não trabalhar.

A não ser que Azteca também aceite que os pais resolvam o problema com o “descarte do ser não autorizado”, se é que você me entende.

Na boa? É poste mijando no cachorro de novo.

Tirem o TikTok das mãos de algumas pessoas, e o mundo será um lugar melhor para se viver.


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