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“A Outra Zoey” (2023) mostra que mentir e trair te entrega o amor verdadeiro

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Sei que não deveria exigir muito de comédias românticas adolescentes totalmente previsíveis, pois todo mundo sabe que a protagonista vai se dar bem no final, não importa o que aconteça.

Porém… Deus do céu… “A Outra Zoey”, comédia romântica dirigido por Sara Zandieh e protagonizado por Josephne Langford, não chega nem perto de tentar ser um filme minimamente coerente e crível.

Tudo bem, eu sei que estou diante de uma história de ficção. Mas isso aqui é um conto de fadas que tenta te convencer que você pode conquistar o amor verdadeiro na vida quando revela para o mundo ter códigos morais e éticos questionáveis, mas se arrepende de tudo isso.

Bom… se até a Suzane von Richthofen tem alguém que a ama do jeito que ela é… ter o desmemoriado amando aquela que te humilhou não é algo tão grave assim…

 

Do que se trata?

“A Outra Zoey” gira em torno de Zoey Miller, interpretada por Josephine Langford, uma estudante de ciência da computação que é extremamente inteligente, mas desinteressada em relacionamentos românticos.

Na verdade, ela é uma menina chata para um cacete, que julga as pessoas por estereótipos e ignora completamente que todo mundo tem uma personalidade, mas como só o que importa o mundo dela, a tendência é que ela humilhe quem não se alinha com sua visão de mundo.

Sua vida muda drasticamente quando Zach MacLaren, o capitão do time de futebol da faculdade (o cara que foi humilhado por Zoey por ser considerado burro… por jogar futebol), sofre um acidente que resulta em amnésia e a confunde com sua namorada real, Zoey Wallace.

Zach visita a livraria onde Zoey trabalha para comprar um presente para sua namorada. Ao se despedir, esquece seu cartão de crédito.

Quando Zoey sai atrás dele, acaba provocando um acidente que resulta no atropelamento de Zach, que perde a memória.

Ao acordar no hospital, ele vê Zoey e a trata como se fosse sua namorada. Por recomendação médica, Zoey é proibida de contar a verdade a Zach, pois qualquer estresse poderia agravar sua condição.

Assim, ela decide manter a farsa.

 

Por que “A Outra Zoey” é problemático?

Porque Zoey Miller é a pessoa mais egoísta e insensível que existe na história do cinema.

Tá, estou exagerando, pois Karla Sofía Gascón ainda está viva, e merece esse título mais do que uma personagem fictícia.

“A Outra Zoey” é um filme que não precisava existir se Zoey dissesse a verdade, custe o que custar. O agravamento do quadro de amnésia temporária não é justificativa para não revelar o que está acontecendo, principalmente quando a real motivação não é o cuidado à Zach.

Zoey seguiu com a farsa por pena dele. E depois, quase colocou tudo a perder por interesses próprios, já que beijar o primo de Zach, correndo o risco de ser pega e ter a farsa revelada, o que certamente causaria o tal estresse emocional à ele (que tinha que ser evitado por orientação médica).

Sem falar que ela ficou na mentira (em partes) porque estava com inveja da melhor amiga, que estava se dando bem nos seus relacionamentos afetivos, apenas e tão somente porque tinha uma vida normal (e não o ranço que Zoey carregava dentro dela).

Ou seja, não faz o menor sentido: ou Zoey é egoísta e só pensou nela, ou o roteiro foi escrito pelo ChatGPT.

Além disso, a dona Zoey, um poço de personalidade própria para humilhar e rotular as pessoas, segue o conselho da melhor amiga na maior parte do tempo, sendo que ela poderia decidir sozinha em acabar com tudo isso para seguir com sua vida normalmente.

Mas foi conveniente para Zoey viajar com Zach e a família e, de forma ainda mais conveniente, descobrir que Miles, seu interesse amoroso pelas afinidades sobre a visão de mundo de relacionamentos, é primo do desmemoriado…

…e beijar o cara dentro da casa do Zach (de novo, correndo o risco de ser pega).

O roteiro do ChatGPT é tão ruim, que nos obriga a acreditar que toda a cidade se resume a, no máximo, um bairro. Porque… convenhamos: que diabos é esse mundo ser tão pequeno assim para que Miles seja primo de Zach, para que ele e Zoey se encontrassem em uma viagem de férias, em uma estação de esqui, longe da universidade?

Sem falar nas soluções fáceis e baratas de um roteiro porco, com o arrependimento de Zoey ao descobrir que Miles não tem os mesmos interesses que ela, ou da Zoey original (a verdadeira namorada de Zach) aparecer depois de dias sem ter notícias do desmemoriado.

A culpa, o arrependimento e a redenção são elementos baratos para dar uma vitória fácil para a Zoey manipuladora, dando a entender que você pode fazer tudo errado e, ainda assim, ficar com aquela pessoa que você ama no final.

Basta contar a verdade, passar por todas as humilhações possíveis e imagináveis na universidade e brigar com sua melhor amiga que você está automaticamente perdoada por mentir, manipular e trair as pessoas.

Sério… são esses os valores que o Amazon Prime Video quer passar?

Não me entenda mal. Não quero ser hipócrita ou conservador. Mas… “A Outra Zoey” não faz o menor sentido. No mundo prático, o final justo seria Zoey (a manipuladora) terminar sozinha, tentando reconstruir sua reputação.

O que seria um ótimo gancho para um eventual segundo filme (que, neste caso, não precisa existir).

Tudo bem, o filme ser fraco e não ter uma história consistente é algo tolerável. E eu aceito que seja a comédia romântica bobinha para desligar o cérebro.

Mas a falta de coerência e, principalmente, a mensagem final altamente duvidosa transformam “A Outra Zoey” em uma história de fantasia. Um surrealismo fantástico. Um exemplo do que não fazer para conquistar a empatia de alguém.

Em um mundo sério, esse roteiro jamais seria aprovado. Mas como existe um grande público que abraça essa palhaçada em forma de filme, essas bombas de coliformes fecais são jogadas na nossa cara de tempos em tempos.


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