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A polêmica montagem de Bohemian Rhapsody lembra que a edição não é uma ciência exata

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Não há nada como obter uma indicação ao Oscar (ou cinco, como é o caso) para um filme atrair ainda mais holofotes. Um bom exemplo do que eu estou falando pode ser encontrado em ‘Bohemian Rhapsody’, cuja indicação para Melhor Edição ao Oscar 2019 levantou a discussão por causa de uma cena.

O fragmento de discórdia coloca os membros da banda Queen em um terraço, onde eles se encontram com John Reid, o personagem interpretado por Aidan Gillen. Qual é o problema com esse momento do filme? Teoricamente, e de acordo com alguns comentaristas em redes sociais, uma montagem especialmente cortada usa o recurso de corte mais de 50 vezes em um minuto e vinte segundos.

 

 

Cinema como arte, e não como ciência exata

Como tantas outras coisas na narrativa cinematográfica, cheia de ferramentas e padrões previamente estabelecidos, tudo o que está aí existe para ser quebrado em favor da história e da transmissão de sentimentos através de uma edição que pode ser mais ou menos agradável para o espectador, o que está longe de estar certo ou errado – o cinema (e é sempre muito importante lembrar isso de tempos em tempos) não é uma ciência exata.

 

 

Vale a pena salientar que julgar individualmente um trecho tão curto e integrado em um filme que tem mais de duas horas de duração é algo tão inadequado quanto injusto. Descontextualizar essa parte da narrativa e de suas peculiaridades, em um filme que tem uma montagem relativamente frenética, é a forma de evidenciar algo que, para a maioria dos espectadores, passou completamente desapercebido.

Tudo isso não pode ser avaliado em termos de sucesso ou fracasso, mas de preferências pessoais. Como exemplo, no gênero de ação, no qual a montagem é uma ferramenta decisiva. Assim, podemos encontrar exercícios sobre planificados, onde atingir 15 cortes em sete segundos para uma cena onde se pula uma cerca pode ser o recurso necessário para aumentar a imersão do espectador na narrativa apresentada.

 

 

Um exemplo que deixa mais claro o que eu quero dizer está em ‘Mad Max: Estrada da Fúria’ e sua esmagadora média de 22,5 cortes por minuto. Um bombardeio que funciona perfeitamente graças à maneira inteligente pela qual George Miller mantém o peso visual de cada plano no centro da imagem, reduzindo o tempo de leitura e permitindo uma ótima legibilidade.

Mesmo que ‘Bohemian Rhapsody’ não seja o favorito para ganhar o Oscar 2019 de Melhor Edição, é justo reconhecer o trabalho de John Ottman, colaborador regular de Bryan Singer, na sala de edição.


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@oEduardoMoreira