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“A Substância”: Demi Moore venceu!

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O seu maior inimigo é você mesmo.

“A Substância”, ou “o filme que (muito provavelmente) vai dar o Oscar 2025 de Melhor Atriz para Demi Moore” (sim, eu torço para Fernanda Torres, mas sou realista) trabalha de forma quase mordaz temas como o etarismo em Hollywood, a objetificação da mulher pela mídia e o machismo institucionalizado no cinema e na TV.

Mas faz isso em uma narrativa que combina ficção científica e terror corporal de forma magistral, adotando várias referências a outros clássicos do terror, mas exalando personalidade própria em sua estética, narrativa e execução.

O longa, que foi dirigido e escrito por Coralie Fargeat e estrelado por Demi Moore e Margaret Qualley explora também temas como a busca pela juventude eterna, a pressão da sociedade sobre as mulheres, e os extremos que as pessoas podem alcançar para atender aos padrões de beleza.

 

Do que se trata?

A história segue Elisabeth Sparkle (Demi Moore), uma ex-estrela de Hollywood agora em declínio.

No seu 50º aniversário, ela é despedida sem cerimônia do programa de aeróbica que apresentava há anos. A justificativa? Sua idade avançada não mais atende aos requisitos da emissora.

Enquanto se recupera de um acidente ocorrido após ser demitida, Elisabeth descobre uma substância misteriosa chamada “The Substance”, oferecida por um jovem enfermeiro no hospital.

Essa substância promete criar uma versão mais jovem e perfeita dela mesma. Após alguma hesitação inicial, Elisabeth decide experimentar o soro. Como resultado, surge uma versão mais jovem dela própria através de uma fenda nas costas — Sue (Margaret Qualley).

A relação entre os dois corpos é simbiótica; Elisabeth precisa transferir sua consciência entre eles a cada sete dias para manter ambos vivos. O problema começa justamente quando Sue, a versão mais nova, desrespeita as regras do experimento, e o corpo original começa a sofrer as consequências disso.

Elizabeth e Sue entram em embate direto. Na prática, criatura luta contra ela mesma.

 

Por que “A Substância” é genial

“A Substância” serve como crítica contundente à obsessão pela juventude eterna na sociedade moderna. O filme ilustra como essa busca pode levar indivíduos ao extremo da autodestruição física e emocional.

Além disso, aborda a pressão exercida sobre as mulheres para manter-se sempre belas conforme os padrões culturais vigentes. Principalmente em um meio como o de Hollywood que, historicamente, objetificou e transformou várias de suas estrelas em meros pedaços de carne, para depois atirarem as carcaças ao nada quando chegavam em uma determinada idade.

O uso das duas personagens principais — Elisabeth (representando o declínio) e Sue (simbolizando renovação) — destaca a dualidade existencial enfrentada pelas mulheres sob esses padrões irracionais.

Enquanto Sue vive plenamente sua nova vida hedonista como estrela emergente na TV, Elisabeth se torna cada vez mais insegura em seu papel recluso no mundo real, se limitando ao seu papel de ser que só existe, passando os dias comendo e vendo televisão.

O impacto cultural do filme está diretamente ligado à forma chocante com que ele retrata os horrores corporais resultantes dessa busca incessante pela perfeição física.

As cenas explícitas são usadas não apenas para causar repulsa ou choque nos espectadores, mas também para refletir sobre os limites éticos cruzados na jornada em direção à beleza idealizada pela mídia.

Além disso,”A Substância” tem sido discutido extensivamente por suas críticas ao machismo dentro dos meios midiáticos tradicionais onde mulheres são frequentemente julgadas pelo aspecto físico antes mesmo das suas habilidades profissionais ou talentos pessoais.

“A Substância” é um filme que, de fato, faz uma grande crítica ao mundo do entretenimento moderno, mas que cabe como uma reflexão histórica, já que desde os primórdios dessa indústria a mulher foi colocada em uma posição degradante.

Falando especificamente de Demi Moore, que passou a carreira inteira tentando se provar como uma atriz que poderia ir além do que ser mais uma das “it girls” que apareciam de tempos em tempos, o filme se alinha de forma direta com o seu histórico.

Moore entrega uma performance física, visceral e, principalmente, autêntica. É a sua realidade de vida e carreira. É a performance de sua vida e, muito provavelmente, aquela que vai lhe render um Oscar de Melhor Atriz que, muito provavelmente, ela jamais acreditou que um dia seria possível.

E… antes de terminar… quero deixar bem claro uma coisa.

É óbvio que estou torcendo (e muito) por Fernanda Torres em “Ainda Estou Aqui”. A “pessoa física” ou o meu CPF desejam que a brasileira vença e dedique o prêmio para sua mãe. Seria uma reparação histórica sobre aquele nefasto ano de 1999.

Porém, qualquer um que assistir “A Substância” e entender todas as referências, as motivações e o plot de fundo do filme vai entender que Demi Moore deve vencer pela competência e alto grau de entrega e fidelidade ao papel. Sem falar que este é um filme que conversa diretamente com Hollywood, o que também soma pontos nos critérios de decisão.

Eu realmente espero estar errado. De verdade.

Mas a forma contundente de abordar questões profundamente arriscadas na cultura contemporânea, e sem fugir às responsabilidades éticas envolvidas na decisão fazem de “A Substância” um filme singular. E Demi Moore foi muito feliz em escolher um projeto que consegue mostrar ao mundo seu talento de forma consistente.

Em 2 de março, descobriremos a verdade.

E… independente de qualquer coisa, vá assistir a “A Substância”. É um baita filme. É bom pra caralho.

Um dos melhores de 2024, com relativa facilidade.


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