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A temporada 11 de Arquivo X foi um desastre, e a série está obsoleta

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É inevitável sentir uma profunda melancolia ao testemunhar a deterioração de uma produção televisiva que cativou milhões de espectadores ao redor do mundo.

Arquivo X, série que mudou a forma como as narrativas paranormais eram retratadas na televisão durante os anos 90, infelizmente não conseguiu acompanhar as transformações do meio audiovisual nem atender às expectativas de uma audiência contemporânea mais exigente.

O programa, que em seu auge representou um marco para produções de ficção científica e investigação paranormal, terminou a sua décima primeira temporada em um estado lamentável, incapaz de reconquistar a magia que um dia o definiu como referência do gênero.

A incapacidade de adaptação aos novos tempos revelou-se fatal tanto para atrair novos espectadores quanto para manter o interesse daqueles que acompanharam as aventuras de Mulder e Scully desde o princípio.

 

Entre monstros semanais e mitologias confusas

A estrutura narrativa que garantiu o sucesso de Arquivo X durante anos baseava-se em um equilíbrio delicado entre episódios autoconclusivos — os famosos “monstro da semana” — e arcos narrativos mais complexos relacionados à mitologia da série. O formato funcionou excepcionalmente bem em sua época dourada, proporcionando tanto experiências isoladas quanto uma narrativa maior que mantinha os espectadores intrigados.

Mas após ultrapassar a marca de 200 episódios, a série começou a enfrentar os desafios naturais de uma produção longeva: repetição temática, esgotamento criativo e dificuldade em manter a coerência narrativa. O que antes era revolucionário tornou-se previsível; o que era misterioso transformou-se em confuso.

Em 2018, tanto o público quanto a crítica especializada desenvolveram um paladar mais refinado para narrativas complexas, tornando as falhas de Arquivo X ainda mais evidentes e imperdoáveis.

 

A tentativa frustrada de modernização

A décima primeira temporada de Arquivo X revela um Chris Carter desesperado para revitalizar sua criação, tentando incorporar elementos contemporâneos sem compreender verdadeiramente o espírito das produções que influenciaram a nova geração de séries sobrenaturais.

É perceptível sua tentativa de emular o sucesso de produções como Black Mirror, porém sem captar a essência do que torna essas narrativas relevantes para o público atual. O resultado é uma colcha de retalhos desconectada que não consegue estabelecer sua própria identidade nem honrar o legado que a precedeu.

Os episódios dedicados à mitologia, que anteriormente serviam como pontos altos capazes de resgatar temporadas medianas, transformaram-se em narrativas incoerentes e insatisfatórias, demonstrando que o criador da série parece ter absorvido as piores lições de Lost: oferece resoluções superficiais que deixam a impressão de uma falta completa de planejamento narrativo.

 

Um elenco desmotivado

Somando-se aos problemas criativos, a falta de comprometimento do elenco principal é palpável em cada cena.

David Duchovny, que interpreta o icônico Fox Mulder, demonstra um desinteresse evidente, como se estivesse apenas cumprindo uma obrigação contratual sem qualquer investimento emocional no personagem que ajudou a construir. Sua performance transmite a sensação de alguém que memoriza suas falas minutos antes das gravações, sem qualquer preocupação com a profundidade ou autenticidade necessárias.

Gillian Anderson, por sua vez, apesar de ser a protagonista e possuir responsabilidades contratuais mais rígidas, deixa transparecer sua relutância em continuar dando vida à Dana Scully.

A química que fez desta dupla uma das mais memoráveis da televisão encontra-se agora completamente dissipada, substituída por um desempenho mecânico.

 

Uma oportunidade desperdiçada

A décima primeira temporada de Arquivo X representa não apenas uma decepção, mas um verdadeiro desperdício de potencial e legado. Os episódios finais evidenciam como a série se tornou obsoleta em um cenário televisivo em constante evolução, incapaz de oferecer relevância temática ou inovação narrativa.

O que um dia foi considerado revolucionário e imprescindível para os entusiastas do gênero sobrenatural agora não consegue sequer atingir o patamar da mediocridade, estabelecendo-se definitivamente como uma produção inferior em todos os aspectos.

Diante deste cenário desolador, é impossível não concluir que teria sido melhor preservar a memória da série em seu estado anterior, permitindo que os fãs guardassem as lembranças de sua era dourada, ao invés de testemunhar sua deterioração progressiva e irremediável em uma tentativa malsucedida de ressuscitar algo que já havia completado seu ciclo natural.

Na verdade, e sendo bem sincero… Arquivo X acabou na sétima temporada, quando Fox Mulder foi abduzido, e Dana Scully ficou grávida e sozinha aqui na Terra.

Tudo o que veio depois disso pode ser completamente descartado, sem maiores problemas.


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