Não é a primeira vez que um artista renomado abre guerra contra o Spotify. Taylor Swift parece ter criado escola quando abriu fogo contra praticamente todas as plataformas de streaming de música, e Adele parece ter apontado suas armas contra o serviço mais popular desse segmento, mas por motivos diferentes.
O Spotify funciona assim: você ouve uma música na plataforma e, tanto o artista quanto o serviço de streaming se beneficia disso, obtendo os lucros dessa reprodução. Porém, Adele não está muito feliz com a funcionalidade que é, talvez, a que melhor define o comportamento no consumo de música da atual geração: a reprodução aleatória.
Adele está falando em causa própria
E nem poderia ser diferente.
Adele, como qualquer pessoa que quer ganhar dinheiro em função da promoção de um novo disco, está pensando neste momento em impulsionar o lançamento de “30”, seu mais recente álbum.
A cantora criticou que o Spotify prioriza a reprodução e o consumo de músicas dentro do serviço no modo aleatório no lugar da reprodução sequencial, que é o que ela considera o mais adequado para escutar as suas obras completas ou álbuns.
This was the only request I had in our ever changing industry! We don’t create albums with so much care and thought into our track listing for no reason. Our art tells a story and our stories should be listened to as we intended. Thank you Spotify for listening 🍷♥️ https://t.co/XWlykhqxAy
— Adele (@Adele) November 21, 2021
Esse raciocínio é mais associado à era dos discos de vinil e CDs, onde você comprava a obra completa e acabava ouvindo as músicas em sequência. E, em alguns casos específicos, até faz sentido, como em “American Idiot”, do Green Day. Esse disco é uma Opera Rock que deve ser ouvido na sequência, pois conta uma jornada única do começo ao fim, com seus capítulos separados faixa a faixa.
Adele usa o mesmo argumento: em seus discos, a ordem das canções existe por algum motivo, e aquela sequência está lá porque tem uma razão de ser. E o Spotify não estaria respeitando a sua visão criativa.
Por outro lado, Adele ignora a liberdade de escolha do consumidor de música atual, que está mais do que acostumado a ouvir as músicas em sua playlist de modo aleatório e randômico. Ou pelo menos faz isso desde o lançamento do iPod Shuffle, em 2005.
Tá, sei que não foi a Apple que lançou o modo aleatório nos players de MP3. Ele existe antes disso. Mas foi o iPod Shuffle que massificou esse formato de consumo musical.
Então, eu pergunto: como modificar os hábitos presentes nas pessoas há pelo menos 15 anos?
O que o Spotify respondeu?
O Spotify respondeu Adele de forma imediata, e ajustou a plataforma para que o modo aleatório deixasse de ser o prioritário e visível na parte superior, deslocando a função para a parte inferior de cada álbum.
Dessa forma, quem quer usar o modo aleatório de reprodução de música terá que se deslocar para a parte inferior do álbum para isso.
Anything for you 🙏✨
— Spotify (@Spotify) November 21, 2021
Bom, pelo menos o Spotify não eliminou o modo aleatório. Mas…
É sempre importante lembrar: Adele está falando em causa própria.
Com o modo sequencial, a cantora vai ganhar pela reprodução de cada faixa do seu novo álbum, aumentando de forma considerável os lucros do seu novo álbum e dos demais disponíveis no Spotify. Afinal de contas, se ela não pode aumentar os lucros de forma direta com o serviço, pelo menos motiva o usuário a ouvir o álbum “como deve ser”.
E isso não tem nada de errado, ao meu ver.