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American Idol: seu series finale e seu legado para a TV

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Uma das maiores revoluções da história da televisão mundial.

Nesse semana, American Idol (Fox) chega ao seu fim, após 15 temporadas. Bem sabemos que esse não foi o programa original da franquia Idol, que nasceu no Reino Unido e só chegou aos Estados Unidos porque a filha de Rupert Murdoch, dono dos canais do conglomerado Fox, assistia ao programa por lá, e convenceu o pai de que aquele formato seria um grande sucesso na TV norte-americana. Ela estava bem certa. Mais do que certa. Foi uma ideia bilionária.

Desde a sua estreia, em junho de 2002, American Idol se mostrou com um potencial enorme para capitalizar, não apenas na audiência, mas também no cenário musical da época. Naquele tempo, as gravadoras ainda tinham um peso muito grande, mas já se via ameaçada pelos formatos alternativos de consumo de música. As pessoas estavam começando a buscar os seus ídolos em outras plataformas, principalmente no YouTube. Sem falar no compartilhamento de arquivos pela rede, com o Napster como o seu principal expoente.

Por outro lado, a MTV ainda exibia música em sua programação, com o TRL (Total Request Live) como um verdadeiro campeão de audiência do horário. O programa que combinava a parada dos 10 videoclipes mais votados do dia com matérias sobre cultura pop e entrevistas com os principais astros da música diante de uma seleta audiência ao vivo. É inegável dizer que American Idol sobre aproveitar muito bem desse momento, extraindo ao máximo o potencial de ampliar o alcance de suas estrelas de uma forma única e especial. Algo que o rádio não consegue. Algo que o YouTube ainda não consegue.

Algo que só a TV é capaz de fazer.

Pensando de forma bem crítica, a primeira temporada de American Idol é bem tosca. O programa apresentado por Brian Dunkelman e Ryan Seacrest deu a clara impressão que foi feito como uma “simples aposta de summer season”, sem ter o devido cuidado com produção, por exemplo. Porém, o que ninguém esperava era que o programa fosse dar uma audiência tão expressiva, ainda mais em um período do ano onde o norte-americano médio faz qualquer outra coisa, a não ser ficar em casa vendo televisão.

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A primeira temporada de American Idol entrou no ranking dos 30 programas mais vistos da temporada 2001-2002, mesmo sendo um programa de summer season. Ajudou e muito ter como vencedora Kelly Clarkson, que na época se alinhava perfeitamente com todo o movimento de cultura pop que dominava o mundo da música. Se tornou uma das artistas que mais foram exibidas no mesmo TRL da MTV, e alcançou as primeiras posições da parada da Billboard com facilidade, e tudo isso deu uma visibilidade maior para o programa, que já na segunda temporada foi migrado para estrear em janeiro de cada ano, apostando na janela após a pausa de final de ano.

A partir daí, American Idol se transformou em um autêntico megahit da TV norte-americana, e porque não dizer, em todo o planeta. O programa foi vendido em todos os continentes, com médias de audiência que superavam os 20 milhões de telespectadores. Nenhum reality competition tinha alcançado tal marca até então, com exceção de Survivor (CBS) na segunda temporada (e, mesmo assim, não manteve tais números). Idol foi o programa mais visto da TV norte-americana por pelo menos 7 de suas 15 temporadas, sendo que cinco delas de forma consecutiva. Pouquíssimos programas ficaram tanto tempo como líderes absolutos de audiência.

O mercado fonográfico tem muito a agradecer a Simon Fuller (criador do formato), Simon Cowell (que vendeu o formato da versão norte-americana para a Fox) e Nigel Lythgoe (que produziu o programa na maioria das temporadas). American Idol ajudou na descoberta de inúmeros artistas que hoje estão na parada musical norte-americana, e com um custo muito baixo. No passado, artistas de talento tinham que batalhar por suas carreiras, e as gravadoras tinham dificuldades para encontrar os verdadeiros astros. Hoje, é bem mais fácil: é possível encontrar excelentes artistas no YouTube, por exemplo. Os realitys musicais estão no meio do caminho de tudo isso, fazendo a ‘ponte’ entre a seleção de um artista de talento e o lançamento de um novo astro razoavelmente consolidado junto ao seu público.

Por conta desse programa, não apenas os vencedores conseguiram a popularidade. Finalistas muito destacados se tornaram astros globais. Jennifer Hudson é um dos casos mais emblemáticos, chegando a ganhar um Oscar. Adam Lambert, que perdeu para Kris Allen sua temporada (alguém se lembra do Kris Allen?) hoje canta para o Queen. Chris Daughtry tem na sua banda Daughtry uma das mais executadas dos Estados Unidos. E por aí vai.

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Os finalistas que tinham suas músicas lançadas no iTunes se davam bem. Tinham uma projeção direta junto ao seu público. Conseguiam visibilidade maciça, mesmo sem ter um álbum. Era algo muito funcional para um candidato que, meses antes, estava em um emprego qualquer, escondido em um canto qualquer dos Estados Unidos. As demais gravadoras ficam de olho nesse desempenho, e aproveitam alguns resultados infelizes de votações populares para resgatar esses astros.

Aliás, outro grande trunfo de American Idol é permitir que a audiência decidisse o seu vencedor, em várias etapas eliminatórias. A cada semana, todos ficavam presos por apenas duas horas no telefone para votar nos seus favoritos, e presos no dia seguinte diante da TV para saber quem foi eliminado. Toda a metodologia do programa era bem simples: a seleção por conta dos jurados até um determinado ponto (normalmente as semi-finais), e a partir daí, a audiência selecionava aqueles que eles entendiam que mereciam ficar, em eliminações diretas, semana após semana, até alcançarmos um vencedor.

Outros realitys não permitiam isso. As competições de realidade da CBS (Big Brother, Survivor e The Amazing Race) determinavam os seus vencedores através de metodologias que ficavam restritas aos envolvidos na competição, ou seja, os próprios participantes determinavam quem merecia vencer. No máximo uma fase final entrava a votação popular em alguns casos específicos. Já em American Idol, o poder foi dado ao povo. E poucas coisas funcionam tão bem para dar audiência do que entregar à própria audiência o poder de decidir o que vai acontecer.

Sem falar que, por conta do sucesso de American Idol, não só a Fox mas outros canais abertos dos EUA decidiram investir nos musicais nas suas respectivas grades de programação. Sem o reality musical mais bem sucedido de todos os tempos, Glee jamais teria ido ao ar, alcançando um sucesso estrondoso nas suas três primeiras temporadas. A aposta foi repetida pela NBC (Smash) e pela ABC (Nashville). A sequência disso foi ver como a NBC insistiu nos musicais ao vivo, obtendo relativo sucesso, algo que a Fox recentemente decidiu investir, com o bem sucedido Grease: Live. Tudo isso teve como origem o reality musical que se encerra nessa semana.

Por fim, os jurados.

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Seres amados/odiados, que em muitos casos não entendiam do que estavam falando (segundo as vozes mais revoltadas da audiência), que com suas personalidades singulares escolhiam aqueles astros para a audiência votar. O trio clássico de jurados de American Idol (Randy Jackson, Paula Abdul e Simon Cowell) foi um dos elementos mais importantes para o sucesso desse programa, justamente por darem o tom de suas escolhas de acordo com suas personalidades diferentes. O entrosamento com Ryan Seacrest era total. Aliás, Ryan também tem crédito nessa equação: se tornou um excelente apresentador e, ao meu ver, é o candidato direto a ser o novo Dick Clark na TV norte-americana.

American Idol chega ao fim nessa semana.

O programa entra para a história como um dos projetos mais bem sucedidos de todos os tempos. Cometeu erros sim, principalmente o erro de não saber como e quando se reinventar. Foi superado por The Voice (NBC) na audiência e na popularidade, trouxe de forma equivocada Nicki Minaj e Mariah Carey para avaliar pessoas, sendo que ambas não contam com condições e capacidade técnica para essa função, e insistiu por anos em um repertório musical que não se conectava mais com o seu público-alvo. Vários erros. Mas… quem não erra nesse mundo?

Fato é que American Idol chega ao fim para ter o seu legado imortalizado. É uma marca que se tornou sinônimo de recordes de audiência, artistas musicais consagrados, e alguns dos melhores momentos que tive diante da televisão. Posso dizer que, como alguém que acompanhou cada segundo de suas 15 temporadas, tenho a honra e a satisfação de assistir aos episódios finais do programa com aquela sensação de ver a história sendo construída diante dos meus olhos. Que as pessoas agora se lembrem de tudo como foi, e que continuem absorvendo música de forma intensa e divertida, tal como a Fox nos ofereceu ao longo de 14 anos de história desse programa.

Por mais que tenha se tornado um formato decadente (assim como são os realitys musicais hoje), ver a música na TV é algo que ainda chama a atenção. E se temos tantos cantores e bandas promissoras disputando um lugar ao sol no horário nobre, é porque American Idol abril o caminho para tudo isso.

Vai deixar saudades.


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@oEduardoMoreira