Uma história um pouco menos engraçada hoje.
Hannah Grundy, uma professora do ensino médio de Sydney, Austrália, descobriu que sua imagem estava sendo usada para criar conteúdos adultos em formato deepfake sem o seu consentimento, após receber um e-mail anônimo.
Essa é a coisa mais desagradável que pode acontecer com uma mulher, e o tipo de evento que qualquer pessoa pode ser vítima a qualquer momento.
Grundy e seu namorado, Kris, investigaram a fonte das mensagens, e descobriram um tópico de fórum intitulado “A Destruição de Hannah”, apresentando centenas de estranhos discutindo maneiras de agredi-la sexualmente.
E o episódio vai ficando cada vez mais bizarro.
Violência a partir de deepfakes
O tópico continha mais de 600 imagens geradas por IA mostrando seu rosto sobreposto a corpos de mulheres em situações violentas e degradantes, bem como GIFs animados replicando abuso sexual.
As fotos originais foram tiradas de seu círculo íntimo, indicando que o perpetrador era alguém próximo a ela, o que ajudou a reduzir o escopo de suspeitos.
Hannah e Kris identificaram outras vítimas, rastrearam conexões de mídia social e criaram uma lista de suspeitos, que foi reduzida para apenas um nome: Andrew Thomas Hayler, um amigo próximo e mentor.
Eles ficaram chocados ao descobrir que Hayler estava por trás dos deepfakes, produzindo as imagens que eram distribuídas na internet, e ajudando a construir a cultura de ódio contra Hannah.
Apesar de fornecerem fortes evidências à polícia, Hannah e Kris foram recebidos com indiferença e comentários depreciativos pelas autoridades policiais, o que torna tudo algo ainda mais chocante.
Afinal de contas, era um crime online com graves proporções que estava acontecendo.
Como Hannah e Kris resolveram o problema
O casal foi obrigado a contratar um investigador particular e advogados, gastando mais de 10.000 euros para pressionar as autoridades locais.
O relatório do investigador particular fez com que a polícia invadisse a casa de Hayler, onde encontraram dispositivos contendo evidências irrefutáveis dos seus crimes. O acusado havia criado e espalhado deepfakes de pelo menos 26 mulheres, muitas das quais eram ex-colegas de trabalho e amigas próximas.
Em 2022, Hayler se declarou culpado de 28 acusações de uso indevido de um serviço de comunicação para assediar, ofender ou ameaçar mulheres. Ele foi condenado a nove anos de prisão, com cinco anos a serem cumpridos sem liberdade condicional, mas anunciou sua intenção de apelar da sentença.
O caso de Hannah estabeleceu um precedente jurídico na Austrália, contribuindo para reformas na legislação de deepfake e abuso digital. Ela agora paga por um serviço de monitoramento online para detectar e remover qualquer novo conteúdo que possa aparecer, preocupada que futuros amigos, empregadores e até seus próprios filhos possam encontrar as imagens.
Grundy afirma que, sem recursos financeiros suficientes e determinação pessoal, seu agressor teria permanecido livre.
E o que podemos aprender de tudo isso?
Que a sensação de impunidade existe também em países considerados desenvolvidos e economicamente estáveis, como é o caso da Austrália.
E que ser mulher é algo extremamente complexo em qualquer país.
Complexo, desafiador e perigoso.
Via BBC