O ano de 2024 chega ao fim bem diferente do que começou na minha vida pessoal. Não foi um 360 graus pois, se fosse isso, eu seria aquele estúpido que deu a volta no próprio eixo e voltou ao mesmo ponto.
A mudança foi de 180 graus. Meu trabalho mudou, meus corais mudaram, conheci novas pessoas, aprendi muitas coisas diferentes e, é claro, encerrei ciclos.
Em julho de 2024, encerrei um ciclo de seis anos que precisava chegar ao fim antes, mas não tive a devida coragem. Caí na armadilha de me acomodar com o “status quo” de que valia a pena continuar quando os sinais de desgastes eram inúmeros.
E não foi o fim de ciclo mais fácil da minha vida. E eu já esperava por isso.
Desde então, sei que algumas coisas a meu respeito foram ditas, e eu não posso fazer absolutamente nada sobre a liberdade de expressão alheia. Algumas coisas a meu respeito são sim verdadeiras, e não vou negar minhas manias, medos e defeitos.
Depois de um determinado tempo na vida, você percebe que essa ideia de “ter uma imagem intocável, ser alguém acima de qualquer suspeita ou fazer curso para santo” é algo tão anti-humano, que não vale a pena fazer tanto esforço para não decepcionar as pessoas.
Fica a dica: quem faz muito esforço para ser perfeito e não ter os seus erros descobertos têm sérios problemas. No mínimo precisam lidar com as decepções que vai gerar em algumas pessoas com uma certa frequência.
Por outro lado, quando chegamos neste entendimento, nos tornamos pessoas livres para sermos nós mesmos. Ou estamos mais próximos disso, pois deixamos de ter tantos esqueletos presos em nossos armários.
Então… o que estou fazendo aqui?
No lugar de fazer aquela típica declaração de contenção de danos e me defender do que falaram de mim nos últimos meses (e, no caso de regente de canto coral que não teve a capacidade de concluir o curso de música na UDESC, ou de sequer passar no vestibular da instituição, anos), vou fazer exatamente o contrário.
Falar dos meus acertos ou de como sou bom como pessoa? É claro que não! Isso seria uma enorme presunção da minha parte. Soaria até arrogante.
Vou compartilhar com vocês todas as coisas que eu NÃO FIZ ao longo desse tempo. Comentar fatos que são públicos, com testemunhas, que passaram bem longe de serem feitos por este que vos fala.
Apenas pelo reposicionamento de narrativa.
Sei que é muito difícil fazer um vídeo como esse sem criar juízo de valor, e sei que vou falhar na tentativa. Mas… tirem as suas próprias conclusões no final.
- Eu nunca disse para alguém “eu não te cobro nada, eu não exijo nada”, para depois disso, passar a exigir exatamente aquilo que abri mão no começo. É claro que posso mudar de ideia ao longo do tempo, mas se eu combino algo com alguém, tenho que convencer a essa pessoa a mudar algo previamente combinado.
- Eu não criei uma narrativa para o meu grupo de amigos e outra (bem diferente) para alguns familiares e outros conhecidos. Era justo que, se estava tomando uma decisão, que assumisse a mesma narrativa para todos, já que queria dar tanta satisfação sobre meus posicionamentos.
- Eu não tive o cuidado extremo de distorcer narrativas e disfarçar evidências a ponto de me incomodar quando fui descoberto por terceiros, que compartilharam minhas decisões com aquelas pessoas que tinham que saber por mim (e não pelos outros) que decidi dessa forma.
- Eu não cheguei para os meus amigos e disse “ele não vai me dobrar fácil, pois tem que ser muito bom de argumentos”, subestimando a inteligência e capacidade de visão de mundo de quem quer que seja.
- Eu não passei a mão na bunda de meus colegas coralistas, diante de todos em um evento, sob o pretexto do “ah, foi só uma brincadeira… até porque ele é gay e não vai se importar com isso”. Caso contrário, não só eu seria expulso do coral, como também seria enquadrado como assédio.
- Eu não ofendi meus regentes com falas verborrágicas e homofóbicas, apenas e tão somente por não concordar com as opiniões expressas por ele. Sempre respeitei a hierarquia dentro da sala de ensaios, mesmo com inúmeras situações que agrediram a minha inteligência (indo de quebra de isonomia até violação de privacidade). Para mim, agressão verbal ao outro passa bem longe de ser liberdade de expressão. É só falta de educação mesmo.
- Eu não dei chilique público quando não concordei com o comportamento dos outros, saltando os assentos do CIC aos berros, afirmando que deixaria o recinto para que, na verdade, eu permanecesse para assistir ao espetáculo que aconteceria no local.
- Eu não fiz comentários debochados e depreciativos contra pessoas que pensam diferente de mim pelas costas dessas pessoas. Sempre trabalhei minhas divergências com seriedade, pois ironia e deboche nas divergências é uma forma de subestimar quem pensa diferente.
- Eu não promovi a expulsão de ninguém de um coral porque chamei pelas costas (de forma debochada) a presidente daquela associação de “elite”, quando deveria ter tratado essa questão de forma direta com a pessoa, com o devido respeito que qualquer adulto merece.
- Eu não abandonei ninguém no processo de defesa daquela pessoa que foi vítima das circunstâncias que eu mesmo criei, muito menos prometi (de forma falsa) que ficaria na questão até que tudo fosse solucionado para, no final, virar as costas e dar a questão como resolvida porque “para mim, está tudo certo”. Jamais deixei para trás quem não teve direito à ampla defesa, e que foi vítima de uma situação criada por mim.
- Pelo contrário: no pior momento, eu não abandonei quem quer que seja, ajudando em trâmites burocráticos importantes relacionados ao falecimento de pessoa próxima, auxiliando aos familiares como um todo. Não tinha a obrigação de ajudar ou de me envolver, mas sabia em mim que era o mínimo que eu poderia fazer dentro dos meus conceitos de empatia e compaixão.
- Eu não relativizei a responsabilidade de algumas pessoas que manipularam relatorias financeiros de eventos de canto coral, apenas e tão somente porque “ele é marido de uma amiga minha de longa data”. Para alguém que prega justiça e transparência em todos os campos da vida, não cobrar posicionamentos de transparência de pessoas próximas é algo muito seletivo.
- Eu não roubei narrativas alheias, contando histórias que não protagonizei. Jamais cometi a grosseria de passar na frente do direito dos outros em contar a própria história, apenas porque tenho enorme vontade de aparecer ou ficar em evidência o tempo todo.
- Eu não passei anos da minha vida me vitimizando sobre meus próprios erros, usando a regra do “todo mundo erra” para justificar as falhas que cometi com o outro. Não fui severo demais com os outros e indulgente demais comigo mesmo para relativizar minhas falhas. Principalmente quando essas falhas afetam e prejudicam de forma direta a terceiros.
- Eu não me comprometi com a pessoa que falhei em me corrigir em função dos erros do passado e, de forma recorrente, não só repeti os erros, como também não tive a capacidade de reconhecer que fiz tudo errado de novo.
- Eu não menti para os meus colegas de coral, afirmando que não poderia participar de ensaios extras porque tinha compromissos com outras pessoas. Até porque jamais teria a covardia de não contar para o grupo que eu estava livre para participar dessa atividade de aprendizado coletivo, pois isso revelaria que eu não fui porque não quis.
- Eu não fui covarde a ponto de não chegar para o meu colega coralista do qual eu discordava de seus posicionamentos e decisões para discutir o assunto. Não fui eu que usei o nome de outras pessoas para distorcer a narrativa apenas para evitar o conflito com quem eu não concordava.
- Eu nunca menti para um grupo usando o nome de terceiros. Sempre assumi minhas divergências e diferenças com qualquer coralista ou regente. E sempre mantive a minha ética em promover discussões que resultassem na melhora do coletivo, sem descambar para ofensas de teor pessoal, moral ou discriminatório.
- Eu não fiz com que pessoas virassem as costas para quem quer que seja, onde amizades que eram prometidas como “profundas e eternas” se transformaram em um completo nada. Nunca manipulei a narrativa a ponto de descredibilizar alguém para outra pessoa. E nunca promovi a desconstrução de um indivíduo para pessoas que, no fundo, fingem ter respeito e empatia, já que só pode conviver com quem estabelece concordância absoluta.
- Eu nunca menti ou ocultei minhas visões sobre relacionamentos. Sempre afirmei que não estava disposto a renunciar meu posicionamento neste aspecto, e jamais envolvi quem quer que seja nos aspectos emocionais sobre perspectivas que jamais ofereci.
- Eu nunca ignorei quem quer que seja em público, não dirigindo a palavra quando alguém se reportava à mim. Nunca provoquei nos outros reações de gaslighing, burnout, ansiedade ou gatilhos emocionais sob o pretexto do “é só uma brincadeira, você está exagerando, você me obrigou a fazer isso porque você fez isso aqui que eu não gostei”. Nunca apelei para a tática da “punição pelo silêncio” para prender quem quer que seja à mim.
- Eu sempre respeitei a todos, inclusive aqueles que me detestam. Principalmente esses, pois eles sempre me apontam onde eu posso estar errado. Nunca me considerei uma pessoa incapaz de reconhecer meus erros ao longo do caminho, pois quem não consegue olhar para as próprias falhas tende a ser narcisista demais para não enxergar seus traços de humanidade.
Recentemente, alguém me perguntou por que sou tão reativo nas divergências.
Agora, posso dizer, com toda a calma e tranquilidade, que reagir é o que mostra para as pessoas que vou lutar até o final por aquilo que eu acredito como certo e justo. Inclusive para não me curvar para as narrativas que criam a meu respeito.
Me defender sobre o que falam de mim é algo que é completamente desnecessário quando eu posso simplesmente dizer tudo o que eu não fiz ao longo do tempo. E de onde veio tudo isso tem muito mais pois, afinal de contas, a vida real é muito mais divertida que a ficção.
E o que não falta é os artistas que tentam ser a estrela do palco da vida… dos outros.
Por fim… o que eu fiz?
Eu voltei a cantar em grupos de canto coral com regentes competentes, que reconhecem e valorizam as minhas habilidades. Líderes que me respeitam como alguém relevante dentro dos grupos que está.
Voltei a fazer o meu trabalho nos sites com prazer, escrevendo textos melhores e com uma capacidade dissertativa mais envolvente.
Construí um canal de vídeos no YouTube que hoje conversa com mais de 9 milhões de pessoas por ano sobre os principais temas do mundo da tecnologia. Sou um dos poucos produtores de conteúdo negros na internet que alcança esses números.
Estou me alimentando melhor. Estou mais magro. Estou transando mais e melhor. E tudo isso eu fiz sem precisar fazer caminhadas na beira-mar norte.
Decidi fazer terapia, não só para me entender melhor no mundo caótico que me cerca, mas também para entender os outros. Compreender a contradição alheia. E aceitar que o ser humano, por natureza, é contraditório.
Refletindo melhor sobre aquilo que fiz nos últimos 12 meses, compreendo cada vez mais que a perfeição não existe, e que preciso aceitar melhor os meus erros para aceitar os erros dos outros.
Eu sei que todo mundo erra, e que vou errar com muitas pessoas que amo ao longo da vida. Mas pode ter certeza que reconheço o erro rapidamente, e tenho a coragem de ir até você e dizer “eu peço desculpas porque te machuquei”.
Jamais vou usar a cretina expressão “me desculpa SE eu te machuquei”. Isso indica que você vai fazer de novo, e quando a borracha gasta mais que o lápis, é um problema.
Eu escolhi todas as mudanças que fiz na minha vida em 2024. E não me arrependo de absolutamente nada. Porque encerro o ano muito mais forte do que comecei.
Porque eu escolhi assim.
Seria muito pior se eu tivesse feito as coisas que eu não fiz e comentei neste manifesto. Eu simplesmente me odiaria se eu causasse tantos danos na vida de alguém.
Me odiaria se eu terminasse o ano percebendo que, no fundo, meu narcisismo me tornou uma pessoa abjeta e inescrupulosa, me condenando em uma prisão onde tento vender a todos que sou uma pessoa perfeita quando, na verdade, é a minha imperfeição que me torna humano.
E isso é tudo o que eu tenho a dizer a quem possa interessar.
Este assunto está encerrado. Assim como o ano de 2024 que, para mim, termina agora.