Deu ruim para El Salvador. E podemos afirmar que deu ruim de forma previsível.
O primeiro país do mundo a adotar o Bitcoin como uma moeda de curso legal e oficial sofreu as consequências da queda vertiginosa da cotação dessa e de várias outras criptomoedas. Com a perda de 40% do seu valor de mercado, o país entrou em crise.
E no caso específico de El Salvador, existe uma enorme dependência das decisões políticas para se determinar uma estabilidade monetária. Algo que não combina muito com a enorme volatilidade das criptomoedas.
Dívidas enormes
Por causa da variação do valor do Bitcoin, a qualificação da dívida de El Salvador passou do nível B- para CCC, o que pode levar o país a entrar em status de “default”, perdendo o acesso aos financiamentos junto aos mercados internacionais. Apenas para colocar em perspectiva, foi exatamente a mesma coisa que aconteceu com a Grécia em 2012, ou com o Lehman Brothers em 2008.
Aqui, não dá para dizer que El Salvador não foi avisada. A volatilidade do Bitcoin existe desde o seu início, e muitas pessoas no país se preocuparam com essa instabilidade, sem falar com a maior possibilidade de execução de crimes de lavagem de dinheiro por conta da falta de regulamentação da criptomoeda no país.
O governo de El Salvador aproveitou os períodos de queda do Bitcoin para investir na criptomoeda, comprometendo parte de suas reservas financeiras. Mas com a sua enorme desvalorização resultou no cenário de crise de momento. É importante lembrar que o Banco Mundial não quis apoiar o país nessa aventura, e tal posicionamento torna o cenário ainda pior para os representantes do governo.
Além disso, o FMI e o Fundo Monetário Internacional recomendaram que El Salvador revertesse a decisão de nacionalizar o Bitcoin, algo que foi ignorado porque os governantes daquele país entenderam que os dois órgãos financeiros estavam falando em causa própria. O que não deixa de ser uma verdade, já que as criptomoedas são concorrentes diretas do atual sistema monetário estabelecido.
O governo dava dinheiro para a população adotar o Bitcoin
O governo de El Salvador também contribuiu decisivamente para o cenário atual de crise no país. Para estimular e acelerar a adoção do Bitcoin, foram distribuídos US$ 30 para cada cidadão investir na criptomoeda.
O problema é que apenas um de cada cinco cidadãos do país seguiram utilizando o aplicativo do governo depois que utilizaram os tais US$ 30 oferecidos. E é seguro dizer que a grande maioria que usou o dinheiro não investiu em Bitcoin.
Além do bônus em forma de blockchain para financiar a compra de mais criptomoedas, o governo de El Salvador criou a Bitcoin City, uma cidade costeira livre de impostos que contava com a sua própria central geotérmica para minerar bitcoins.
No final das contas, El Salvador só não está pior que a Ucrânia nos aspectos econômicos em todo o planeta. E ser comparado com um país que está desaparecendo em função de uma guerra estúpida não é a melhor notícia que você pode receber.
O Bitcoin, assim como qualquer outra criptomoeda atual, ainda é uma aposta de alto risco. Se para o cidadão comum ele pode ser um problema que gera prejuízos enormes, imagine para um país que decide nacionalizar a moeda virtual.
El Salvador errou feio. Errou rude. Fato.