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Breaking Bad, ou como o anti-herói foi reinventado, mudando a TV para sempre

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Breaking Bad. Até o nome é forte. Impactante. Algo que ninguém consegue passar indiferente. A grande obra prima de Vince Gilligan completou dez anos de vida, e deixou para nós legados inestimáveis, onde o mais importante para nós que amamos o mundo do entretenimento torna essa série única: a reinvenção do anti-herói, tal e como conhecíamos.

Walter White nos entregou Heisemberg, e este nos entregou um novo universo de possibilidades narrativas. Nunca um alter ego foi tão importante na TV, e talvez jamais vimos uma dualidade de personalidade ser utilizada de forma tão inteligente em uma narrativa de ficção. Os resultados vistos foram sem precedentes, onde o público acabou entrando em uma reação em cadeia rara dentro de uma sociedade que está calcada pelos conceitos tradicionais de moralidade.

Por causa de Heisemberg, por alguns instantes, nós torcemos não apenas pelo anti-herói. Torcemos a favor de um monstro.

Muitos de nós entendíamos que personagens como Tony Soprano, Vic Mackey e Jack Bauer eram reinvenções de um anti-herói no mundo do entretenimento. Afinal de contas, cada um deles mostrou, do seu jeito, uma nova forma de ser aquele que vai andar na linha entre o bem e o mal, mas com um senso de justiça que só que aplica a aquele indivíduo. Ao mesmo tempo que todos eles mostraram fraquezas calcadas na moralidade, algo que todo anti-herói possui em algum momento.

Já Walter White se valeu do medo que ele tinha em deixar sua família desamparada e da doença terminal que iria tirar a sua vida em dois anos para ser exatamente aquilo que ele sempre quis: um monstro capaz de revidar e destruir quem passasse pelo seu caminho para ser quem ele sempre quis ser.

Heisemberg deixou de lado todos os conceitos morais de Walter White, e se apresentou ao mundo como aquele que iria basicamente salvar Walter dele mesmo. Cometeu os piores crimes possíveis com inimigos e até parentes. A moralidade dele era basicamente inexistente, contrastando com o perfil de Walter.

Aliás, bem sabemos que Walter só criou ou deixou Heisemberg emergir porque entendia que esta era a única forma que ele tinha para suportar suas monstruosidades. E essa foi a decisão mais importante de Breaking Bad, sem sombra de dúvidas. Foi o que tornou a série única e sem precedentes.

Não só a audiência comprou a ideia, como passou a torcer e defender Heisemberg de todas as formas possíveis. Ele era o símbolo máximo daquele que sabia como revidar, que sabia lutar, mesmo com um câncer matando ele aos poucos. Por diversas oportunidades nos centramos tanto no anti-herói, que nos esquecemos que até ele tinha uma falha muito evidente, que poderia limitar o cessar suas ações.

Só o câncer poderia parar Walter White e Heisemberg. Curiosamente, só a doença maldita poderia parar um ser maldito. Um ser maldito, criado pela mente de um homem bom. E nós torcemos por esse cara.

 

 

Obviamente, Walter White e Heisemberg não poderiam ser quem foram se não fosse por dois atores excepcionais. Sim, digo dois mesmo. Bryan Cranston deu aula para o mundo, mostrando ser um dos atores mais versáteis de sua geração. Por outro lado, ele só alcançou tais resultados ao trabalhar ao lado de Aaron Paul, um dos atores mais promissores do nosso tempo. Poucas vezes vi uma química (sem trocadilhos) tão bem alinhada em uma série de TV.

Me lembro que escrevi no final de Breaking Bad que esta era uma série tão boa, que levantava questões morais profundas no telespectador. Uma delas é justamente o ‘torcer pelo cara mau, pelo bandido, pelo anti-herói’. Hoje, dez anos depois de sua estreia, também deixa uma lição do ‘ser quem você sempre quis, mesmo com uma doença terminal tentando te impedir disso’. Pode parecer estranho, mas faz todo o sentido do mundo tal premissa. No final das contas, não podemos mesmo deixar a tal doença maldita vencer. Temos que lutar até o fim.

E, mesmo por linhas tortas, Walter White fez isso. Lutou até o fim. E não se arrependeu de nada do que fez. E é assim que tem que ser.

Insisto que, para mim, Breaking Bad é uma das três melhores séries de TV que eu vi na vida. É uma experiência televisiva tão singular, que ajudou a moldar parte do meu caráter, mesmo com mais de 30 anos de vida. Mostra como é sim possível ter na TV um conteúdo inteligente e bem estruturado, com personagens e eventos impactantes, e um clímax final inesquecível.

E, até o fim, eu sempre vou pensar no peso de uma frase pontual. Aquela que define a vida daqueles que enfrentaram a morte para defender suas convicções, mesmo que sejam convicções criminosas…

Say my name!

 

 


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@oEduardoMoreira