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Como a popularidade do ‘tradwife’ no Pornhub revela os traços de hipocrisia humana

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E lá vou eu comentar sobre termos e temas polêmicos, só para viralizar…

O mundo está em constante transformação. E os relacionamentos afetivos, também. Porém, sinto que defender o relacionamento aberto me deixa um pouco desatualizado.

Confesso que quero ter a liberdade de estabelecer vínculos afetivos e sexuais, mas sem as amarras de convenções sociais. Mas o que acontece nesse momento é um passo adiante, que ainda estou tentando entender.

Se as gerações mais novas abraçam o gênero fluído e preferem se envolver com pessoas, a galera da minha geração está, de forma assustadora, optando pelo “tradewife”, ou “esposas transversais”, em livre tradução.

E o Pornhub é a prova do que estou falando.

 

O que é uma “tradwife”?

Antes de chegar ao tema central do artigo, vamos colocar o casal tradicional em perspectiva de contraste, uma vez que o passado explica o presente.

Nos Estados Unidos, existe o termo pejorativamente machista “esposa de vaca”, que representa a mulher tradicional. Ou uma Bree Van De Kamp (e só quem viu Desperate Housewives vai entender a referência).

A esposa tradicional é a dona da casa, recatada e do lar. Cuida dos filhos, é temente à Deus e ao marido, e apanha secretamente do dito “cidadão de bem cristão”.

É a mulher que reforça os estereótipos conservadores da sociedade.

O movimento “tradwife” exalta a ideia de uma mulher tradicional como símbolo de valores familiares, em um estilo de vida que está chamando a atenção de muitas pessoas…

…a ponto de virar fetiche no site de conteúdos adultos mais popular na internet.

 

A sexualização e o fetiche das esposas

A crescente popularidade do termo foi evidenciada no ranking anual do Pornhub, que mostrou aumento nas buscas por “esposa tradicional” (+34%) e “esposa amadora” (+21%).

Quem sou eu para julgar as preferências das pessoas. Porém, há um certo ar de contradição nessa escolha, pois o Pornhub, na esmagadora maioria dos casos, mostra um perfil feminino que é exatamente o oposto.

O fetiche por figuras femininas modestas e castas reflete a idealização de um papel tradicional como mera fantasia sexual.

O que pode ser algo assustador: mulheres recatadas tendem a dizer NÃO para o entregador de pizza sem camisa e com uma calça jeans colada que chega no final da noite em seu apartamento.

Será que essa galera que pede a mulher conservadora e tradicional alimenta o seu fetiche pelo fato de uma mulher resistente ou casta ser mais, digamos, “ousada” que a periguete que usa shortinho na praia?

 

Mudança no consumo de conteúdo adulto

Seja como for, houve uma transição no setor de conteúdos adultos nos últimos anos.

O extremo e agressivo que fez a cabeça do mulherio 50+ após “Cinquenta Tons de Cinza” deu lugar para as mulheres que são consideradas “normais”.

O OnlyFans foi outra plataforma que se beneficiou dessa mudança. O volume de mulheres maduras que alimentam o fetiche de “senhora séria” dos homens aumentou de forma expressiva.

Tudo isso também pode indicar que as pessoas estão mais interessadas por figuras mais acessíveis, vistas como “boas garotas” ou com valores conservadores idealizados.

O psicólogo Enric Sprankle destaca que o fetiche por figuras de modéstia e castidade é algo antigo na humanidade, remontando à sexualização de freiras e comunidades como os Amish.

É só você assistir a séries como “The Handmaid’s Tale”, e você vai entender melhor do que estou falando.

A busca por ‘esposas transversais’ segue essa lógica, combinando fantasias com tradições culturais estabelecidas e reinterpretadas.

 

Enfim, a hipocrisia

A popularidade da “tradwife” revela a hipocrisia das gerações.

Ao mesmo tempo que parte da humanidade exalta o conservadorismo e os valores tradicionais, esse mesmo grupo explora o desejo por aquelas pessoas que tendem a ser submissas e controladas pelo macho dominante da espécie.

Por outro lado, um outro grupo (majoritariamente feminino) busca o desejo de se libertar em espaços que são controlados pelo pai, marido e até filhos.

No fundo (e digo isso por experiência própria), a dita “senhora recatada” está doida para virar uma (e peço desculpas pelo uso do termo) puta na cama.

A internet vive reciclando e redefinindo conceitos quando, na prática, refletem suas prisões internas através de tendências de consumo.

E é por isso que a Geração Z se recusa a falar sobre sexo de forma mais aberta: porque seus pais ficam pregando valores que travam o indivíduo nos mis diferentes aspectos.

Nunca mais vou me sentir mal por defender o poilamor e os relacionamentos abertos. Mil vezes isso do que essa hipocrisia disfarçada de fetiche opressor.

Mas… essa é apenas a minha opinião, tá?


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