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Como se Tornar o Pior Aluno da Escola (2017) | Cinema em Review

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como se tornar o pior aluno da escola

A pergunta não é “o que você vai ser quando crescer?”, mas sim “QUEM você quer ser quando crescer?”

Danilo Gentili tem 38 anos de idade. Tem exatamente a minha idade. Logo, pertencemos à mesma geração. Logo, posso dizer que, apesar de não tomar os mesmos procedimentos e atitudes de Danilo (até porque, nesse mundo cada um é cada um), eu posso dizer que eu entendo a sua forma de pensar e onde ele quer chegar. Nem que seja na teoria.

Dito isso, eu posso dizer que entendi a piada. Entendi qual é a do filme Como se Tornar o Pior Aluno da Escola. Tanto nas referências como na moral da história. Aliás, são duas coisas muito claras para o longa, mas parece que algumas pessoas se esqueceram disso. Ou são jovens demais para se lembrar, e simplesmente querem cagar regra na adolescência.

Então, eu vou desenhar para quem não entendeu.

Em 1985, o mundo viu um dos melhores filmes do genial John Hughes: Curtindo a Vida Adoidado. O filme que revelou Matthew Broderick ao mundo como astro adolescente (mas que infelizmente ele nunca saiu desse biotipo, de forma bem estranha) mostrava a vida de um jovem mais esperto e inteligente que a média, que decidiu tirar um dia de folga da escola, armando um mega plano para garantir que ele jamais seria pego.

Esse filme é um cult. É um dos meus filmes preferidos, e um dos filmes preferidos da minha geração. Minha mãe tentou impedir que eu assistisse esse filme quando ele estreou na Tela Quente, mas desde 1986 eu assisto ao longa pelo menos uma vez por ano. Sou um daqueles que decorou praticamente todas as falas, bordões, jargões e piadas. É um dos filmes que passa fácil na regra dos 15 anos, por contar com uma linguagem moderna mesmo depois de três décadas.

Pois bem… Danilo Gentili fez, do seu jeito, o seu Curtindo a Vida Adoidado.

 

 

Não estou querendo dizer que seu filme é tão bom quanto o de John Hughes. Nem de longe. Mas sim que a premissa básica é, de forma aprofundada, a mesma, e que a mensagem final também é a mesma.

As diferenças são sutis. Bueller era popular, fez tudo praticamente sozinho (Cameron mais atrapalha que ajuda), e já sabia o que fazer. Já os dois protagonistas contam com a ajuda de Danilo, do zelador (o ótimo Moacir Franco) e de mais de 100 lições que eles tiveram que aprender. Gentili está longe de ser carismático como Ferris Bueller era, mas funciona fazendo ele mesmo (até porque ele não é ator).

Mas, na prática, Como se Tornar o Pior Aluno da Escola deixa a lição de que a vida se vive hoje. Que a pressão que a escola exerce em se pensar no futuro mais atrapalha do que ajuda. E até faz uma crítica sobre a sociedade do “politicamente correto” de hoje, que luta contra o bullying que, no passado, era visto como o comportamento normal das crianças e adolescentes. Aqui, Danilo tem como papel contestar uma geração de “cabaços”, que corre o sério risco de se tornar um bando de adultos frustrados e infelizes, que não sabem encarar os problemas de frente e vivem com medo de tudo.

Minha identificação com o filme foi rápida também por conta de reconhecer essas brincadeiras. A maioria das ações vistas no filme (principalmente contra a escola considerada “modelo”) foram coisas que eu e meus colegas de escola fizemos há 30 anos. Não tem nada de novo nisso. Só que hoje as pessoas tomam como algo absurdo.

Tudo bem, tem algumas situações mais pesadas (como piadas com pedofilia ou agressão física), mas dentro do universo de situações propostas pelo longa, não é algo que resulte em um processo ou banimento do filme dos cinemas, como alguns chegaram a propor.

 

 

Aliás, Como se Tornar o Pior Aluno da Escola é uma vitória pessoal de Gentili em alguns aspectos. Primeiro, por contar a história de parte de sua experiência escolar, do seu jeito, sem travas e de forma direta. Depois, por conseguir atores de quilate para compor o elenco de professores (Joana Fomm, a eterna Perpétua, por exemplo… mais uma referência forte da minha geração). E terceiro, por conseguir Carlos Villagrán para ser o antagonista do longa. O Quico (do Chaves) é um ícone da minha geração, e ter um cara desses no filme (mesmo com uma interpretação limitada pelas questões idiomáticas) é, de fato, uma espécie de “zerar a vida”.

Como se Tornar o Pior Aluno da Escola não é o melhor filme que você verá em 2017. Muitos se sentirão incomodados com a proposta de humor apresentado. Mas ao menos eu entendi a piada do filme. Ri onde tinha que rir, achei sem graça em alguns momentos, mas… não é um desastre.

 

Felizmente.

 

 


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@oEduardoMoreira