
Cabos proprietários são uma verdadeira maldição. Quantos aparelhos ficaram abandonados porque perdemos aquele “cabo oficial”? Quantas vezes tivemos que decifrar pinagens para instalar conectores alternativos?
Hoje apresento algo ainda pior. O USB-C possui padrões rigorosamente documentados e acessíveis a qualquer fabricante. Mesmo assim, alguns insistem em economizar centavos à custa da experiência do usuário.
Foi exatamente o que descobriu o canal australiano The Stock Pot ao comprar uma “Lâmpada Recarregável Portátil” na rede Kmart local. A embalagem prometia explicitamente “Carregamento Type-C”, mas a realidade era bem diferente.
A descoberta frustrante

Ao tentar carregar com um cabo USB-C padrão, nada aconteceu. A lâmpada incluía seu próprio cabo e uma curiosa etiqueta alertando para não usá-lo com outros dispositivos.
O fabricante simplesmente reinventou o padrão USB-C num produto de apenas AU$17 (aproximadamente R$50). Se o comprador perdesse o cabo original, a lâmpada viraria lixo eletrônico instantaneamente.
Muitos consumidores pediriam reembolso. The Stock Pot fez algo diferente: comprou uma segunda unidade para hackear completamente ambas.
Da frustração à inovação
Em vez de apenas corrigir o conector, o youtuber substituiu todo o controlador por módulos ESP32, que também gerenciam a bateria, além de um MOSFET para o LED. O resultado: lâmpadas verdadeiramente inteligentes, com código aberto.
Todos os detalhes do projeto estão disponíveis na página do The Stock Pot, incluindo o código ESPHome para quem quiser reproduzir a modificação. Serve também como alerta aos consumidores: hoje mais do que nunca, cuidado com o que compra.
Anatomia de uma decepção
Por dentro, a lâmpada original revelou uma mistura simples de componentes: um PCB controlando tudo (sensor de toque, bateria, LED e porta USB), brilho ajustado via PWM e um circuito de carregamento básico.
Em vez de apenas consertar a porta USB-C, o projeto substituiu todo o circuito por uma placa ESP32 executando ESPHome. A escolha foi estratégica: o ESP32 possui circuito de carregamento próprio, suporta entrada de toque e oferece controle total via Home Assistant.
Para garantir a segurança dos LEDs, foi utilizado um MOSFET, essencialmente um interruptor eletrônico que permite controlar correntes mais altas com sinal de baixa potência.
A transformação completa
O processo de modificação envolveu cinco etapas principais:
- Ampliação do orifício da porta USB para acomodar um cabo de extensão USB-C padrão
- Impressão 3D de arruelas personalizadas para fixação
- Conexão de um MOSFET em stripboard ligado ao ESP32
- Ajuste da polaridade do conector da bateria conforme requisitos do ESP32
- Remontagem cuidadosa com isolamento adequado dos componentes
As automações programadas transformaram lâmpadas ocasionais em elementos centrais da rotina doméstica. Elas agora acendem quando a TV desliga, quando alguém entra no quarto à noite ou quando o alarme dispara pela manhã.
Custo-benefício surpreendente
Cada lâmpada modificada custou aproximadamente US$7 (R$40) em peças e uma tarde de trabalho, elevando o investimento total para menos de US$25 (R$140). O resultado supera qualquer expectativa: carregamento com qualquer cabo USB-C padrão, integração com Home Assistant e funcionalidade genuinamente útil no cotidiano.
Para consumidores cansados de produtos baratos que sacrificam qualidade, este projeto oferece uma alternativa viável. E envia um recado claro aos fabricantes que insistem em ignorar padrões estabelecidos: podemos fazer melhor.

