Quero deixar bem claro logo de cara que este artigo não é para levantar o hate contra “Wicked”.
Eu gostei (muito) do filme, a ponto de me surpreender positivamente com uma história que eu não conhecia a fundo, mas que entrega reflexões e mensagens importantes para o nosso tempo. E reconheço que o longa é um sucesso absoluto de bilheteria.
O problema está nos efeitos colaterais desse sucesso.
As pessoas estão se comportando de forma tão espontânea, que é correto dizer que “Wicked” é mais uma prova de que a experiência tradicional de assistir a um filme em uma sala de cinema está em processo claro de extinção.
O sucesso potencializado pelas redes sociais
Nos EUA, “Wicked” tem sido um grande sucesso, arrecadando mais de US$ 330 milhões em apenas três semanas.
É o quarto musical de maior bilheteria da história e o quarto filme a superar a marca de US$ 300 milhões no ano, ao lado de blockbusters como “Divertida Mente 2”, “Deadpool & Wolverine” e “Meu Malvado Favorito 4”, que deve ser superado e perder o seu posto de Top 3 de bilheterias de 2024.
Até aqui, tudo certo.
O problema é que desde a sua estreia, “Wicked” inundou as redes sociais com vídeos caseiros das sessões de cinema, com as pessoas totalmente desprovidas de pudor em compartilhar como são a experiência com o filme dentro dos cinemas.
Comentários em voz alta, pessoas cantando e dançando e (a pior parte) cenas do final do filme são compartilhadas de forma indiscriminada no Twitter e no TikTok, acabando com o fator surpresa de quem não viu o filme.
E, de quebra, irritando profundamente aquelas pessoas que só querem assistir ao filme sem maiores distrações.
A Universal não tomou medidas rigorosas contra esse tipo de compartilhamento, pois entende que essa é uma expressão de entusiasmo e amor pelo filme pelos fãs, o que se converte em publicidade espontânea para “Wicked”.
E o estúdio decidiu surfar no hype, anunciando 1000 sessões de “sing-along” nos EUA, onde o público é encorajado a cantar junto com as letras das músicas exibidas na tela.
Podem se envolver com o filme
A disseminação de trechos do filme nas redes sociais não parece prejudicar as bilheterias; ao contrário, pios fez com que o interesse do público aumentasse ao longo das semanas.
Um executivo da Variety comentou que o comportamento do público nos cinemas mudou pós-pandemia, sugerindo uma relação mais pessoal com o material cinematográfico.
O que faz sentido.
O atual público dos cinemas se envolve mais e interage mais com os filmes que estão assistindo. E neste aspecto, entendo que sou eu que precisa entender que, de fato, algo mudou nessa relação.
A interação dos fãs vai além do compartilhamento de trechos do filme nas redes sociais. Eles reagem quando uma participação especial repentina aparece, como foi no caso de Chris Evans em “Deadpool & Wolverine): algumas pessoas simplesmente começaram a aplaudir de forma entusiasmada quando o ator entrou em cena.
E quando a atriz Cynthia Erivo, a protagonista de “Wicked”, apoia a prática dos fãs de cantar junto com as músicas do filme, eu simplesmente entrego os pontos.
Particularmente, sou contra o comportamento que não é de consenso, já que nem todo mundo quer ouvir a galera cantando por cima do elenco, ou ser atrapalhado com gente dançando pelos corredores do cinema.
Por outro lado, pode ser o meu “eu envelhecido”, que não consegue se adaptar ao comportamento da nova audiência que paga para ver filmes no cinema.
E neste caso, sou eu que tenho que investir um pouco mais no home cinema para ver os meus filmes sossegado, no conforto da minha casa.