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Comprei o álcool em gel (finalmente), mas queria um hambúrguer

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Não trouxe a mesma alegria que sinto ao comprar um hambúrguer artesanal #Saudades, mas deixou um alívio estranho. Só ontem (05), eu consegui comprar o meu tubo de álcool em gel, que vai ser o meu companheiro ao longo da pandemia do coronavírus (ou depois disso, já que todos nós vamos mudar sensivelmente os nossos hábitos de interação com as pessoas).

Eu escrevi lá atrás sobre a postura das pessoas que compraram o álcool em gel como se fossem tomar banho de piscina com ele, e critiquei essas pessoas por isso. E continuo criticando: tem gente muito idiota e com ausência de bom senso ou consideração pelo próximo que está cometendo absurdos inexplicáveis durante esse momento de crise de saúde.

Mas eu não quero ser crítico nesse texto. Quero tentar rir um pouco da situação inusitada em ficar “feliz” por encontrar o tal álcool em gel ao preço “razoável” de R$ 19,90 pelo tubo de 460 gramas. De novo: nesse momento, um hambúrguer suculento e cheio de gordura trans (artesanal, com ovo escorrendo pelos lados, molho rosé e uma salada para dizer que é um alimento saudável) me deixaria mais feliz nesse momento.

Porém, um lanche suculento só me deixa mais feliz, e não protegido de um vírus que eu não posso pegar de jeito nenhum, já que estou no grupo de risco da doença. Se parar para pensar, o hambúrguer também pode me matar, já que tenho diabetes. Mas é uma morte lenta, prazerosa e (o melhor de tudo) pode ser evitada: as pedaladas diárias servem para isso.

Na farmácia onde fui atendido, era um por vez. Foi estranho ver uma faixa de isolamento, no melhor estilo filme policial que isola a cena do crime com tal faixa. Até parece que morreu alguém ali. Porém, de forma muito irônica, é um estabelecimento cheio de remédios que podem salvar vidas de muitas pessoas.

O local estava relativamente seguro, inclusive para os farmacêuticos que precisavam lidar com o público o tempo todo. Essa galera da saúde merece o máximo de respeito da nossa parte, pois estão dando a cara para bater por nós, meros mortais, que precisam (e devem) ficar em casa.

Fiquei distante do caixa, e na hora de fazer o pedido, usei da racionalidade quase imposta pela minha mente, e solicitei apenas dois tubos de álcool em gel. Um para mim, e outro para a Dona Lourdes, moradora solitária do nono andar em um prédio aqui no centro, com os seus 70 e poucos anos de idade e dificuldade de locomoção.

Ela também estava sem álcool em gel porque muitos bocós aqui em Florianópolis esgotaram os estoques.

Eu só precisava de dois tubos de álcool em gel. Porque eram suficientes para duas pessoas. Nada mais do que isso.

Confesso que senti um certo frio na barriga ao fazer o pedido, pois pensei por alguns instantes: “a que ponto chegamos”. Estou consciente que essa é uma fase que vai passar. Mas eu quero que passe logo. Não porque estou ajudando outras pessoas ao mesmo tempo em que tento me proteger. Mas porque esse isolamento e distanciamento social deixa tudo mais pesado, frio e impessoal.

Levei o tubo de álcool em gel para a Dona Lourdes. Ela pediu um abraço, e eu disse NÃO. Sem vontade.

Em compensação, o álcool em gel está comprado. A maior proteção está garantida. E vamos seguir em frente. Resistentes. Vamos superar isso.

E, lá na frente, trocar o álcool em gel pelo suculento hambúrguer.


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@oEduardoMoreira