Eu confesso que não me lembrava do produto que vou comentar neste conteúdo. Mas recordar é viver, e resgatar determinados episódios do mundo da tecnologia é algo importante para entender o presente tecnológico que vivemos.
Precisamos afastar de uma vez por todas essa ideia absurda de que a Apple é uma empresa perfeita ou infalível. A gigante de Cupertino tem uma lista de alguns fracassos que a ajudaram a alcançar o sucesso que testemunhamos hoje. Mesmo porque todo mundo aprende muito mais nas derrotas do que nas vitórias.
Por isso, vamos refrescar a sua memória ou apresentar para os mais novos o que foi o Macintosh TV, um dos grandes fracassos da Apple.
A tentativa fracassada de vender uma TV dentro de um computador Mac
A lista de fracassos da Apple é mais longa do que você pode imaginar. Só para lembrar alguns itens, temos o Mac Portable, o console de videogames Pippin e a rede social iTunes Ping, entre outros. Mas não podemos culpar a gigante de Cupertino por tentar: quando o Google lança um monte de produtos e serviços para cancelar no futuro, a desculpa é porque “esta é uma empresa beta”, e há quem diga que essa é uma forma de gourmetizar o fracasso.
O Macintosh TV é um dos fracassos menos conhecidos de uma Apple que, em 1993, era muito diferente da gigante que conhecemos hoje. Naquela época, a empresa se sentia meio perdida sem a visão de Steve Jobs para novos produtos, e atirava para todos os lados, na tentativa de acertar em alguma possível tendência de mercado.
Um desses tiros no escuro se materializou no Macintosh TV, uma espécie de computador no formato “tudo em um” que tinha preço sugerido de absurdos US$ 2.079, um valor que se já é caro hoje, imagine naquela época, sem o fator inflacionário que temos agora.
No passado, se você queria usar um Macintosh, você poderia comprar um monitor ou uma TV para trabalhar com o computador. Então, a Apple teve a ideia de facilitar a vida daquelas pessoas com dinheiro ilimitado e ofereceu um produto que combinasse os dois produtos, aumentando de forma obscena os lucros da gigante de Cupertino por unidade vendida.
E foi assim que nasceu o Macintosh TV.
O computador era bonito. Tinha carcaça em preto, algo incomum para o seu tempo, e contava com teclado, mouse e controle remoto. No seu interior, habitava um potente processador Motorola 68030 de 32 MHz e 5 MB de RAM.
O Macintosh TV também abrigava uma unidade de armazenamento de 160 MB e um leitor de CD-ROM. E seu grande diferencial era a sua tela, uma TV Sony Trinitron com tela CRT de 14 polegadas com sintonizador de TV integrado e som estéreo. E pouquíssimos computadores de sua época contavam com isso.
Em teoria, este era um produto que poderia convencer com facilidade aos usuários interessados na praticidade e na experiência informática combinada. Na prática, tudo deu muito errado, e o fator preço não foi o único que determinou o fracasso do Macintosh TV.
Por que o Macintosh TV deu tão errado?
Este conceito não convenceu também pelas limitações técnicas, já que os demais computadores Macintosh comercializados pela Apple eram mais potentes que o equipamento com TV integrada.
Com um processador mais lento e com baixa capacidade de atualização de memória, os equipamentos Macintosh TV não foram bem vistos por aqueles que desejavam computadores com uma maior potência para as tarefas mais complexas.
E não apenas o processador e a baixa capacidade de atualização de hardware pesaram na decisão em não adoção do computador com TV da Apple. O conector para usar o equipamento com um monitor externo também ficou de fora, algo que incomodou os mais produtivos.
E o mais grave de tudo isso: a Apple determinou que o comprador do Macintosh TV só poderia utilizar o equipamento em formato “tudo em um” em um modo de cada vez. Ou seja, ou você usava como computador para trabalhar, ou ligava o televisor para ver TV. Não dava para utilizar os dois modos ao mesmo tempo.
Após cinco meses de chegada ao mercado, apenas 10 mil unidades do Macintosh TV foram comercializadas, o que indica claramente o fracasso comercial deste produto. Por outro lado, a Apple sobre tirar proveito dessa experiência, já que as versões posteriores do equipamento que chegaram ao mercado em 1995 contavam com placas sintonizadoras de vídeo que permitiam realizar inclusive capturas de tela.
Na verdade, o Macintosh TV foi copiado por muitos fabricantes de computadores com Windows em sua proposta, já que eu mesmo vi muitos equipamentos à venda na Fenasoft com o mesmo conceito. Ou seja, nem tudo foi perdido neste caso.
Ou seja, a Apple é referência até mesmo quando a empresa realiza um movimento errado no mercado, o que indica que a marca sempre foi relevante o suficiente para estabelecer algumas das bases do mercado de tecnologia.
E isso, em um período da empresa onde Steve Jobs não estava presente, e é sempre importante lembrar isso. Jobs foi expulso da própria empresa em 1985 e criou a NeXT em função disso. Só voltou para a Apple em 1997, depois que a empresa quase foi à falência. A partir deste ponto, liderou a recuperação da marca no mercado de tecnologia com vários lançamentos muito acertados, como o iMac, o iPod, o iPhone e o iPad.
E o resto, como você bem sabe, é história.