Março de 2025 está sendo marcado como um dos piores meses para as bilheterias nos últimos anos, especialmente nos Estados Unidos. Por tradição, é um mês de transição no calendário cinematográfico, e os estúdios tentam evitar grandes lançamentos. Mas em 2025 a situação atingiu níveis críticos.
Com mais da metade do mês decorrido, os números são assustadores: a arrecadação total está próxima aos patamares de 2020 e 2021, quando a pandemia fechou salas de cinema. A exceção, porém, é que agora não há uma justificativa tão clara para a baixa procura.
Filmes como Mickey 17, da Disney, que chegou com expectativas moderadas, decepcionaram clamorosamente, assim como outras apostas como Black Bag e Novocaine, que estão chegando aos cinemas brasileiros agora.
Este último, mesmo alcançando US$ 8,7 milhões em três dias, está longe de compensar seu orçamento de US$ 18 milhões. A soma de todos os filmes em cartaz no último fim de semana, por exemplo, não passou de US$ 54 milhões, configurando-se como o segundo pior resultado desde 2023.
Um desastre!
A dependência de franquias e a falta de apelo ao público
O cenário atual expõe uma realidade incômoda: o cinema mainstream depende quase que exclusivamente de franquias para atrair o público.
Desde a pandemia, os espectadores dividem-se entre “filmes de cinema” — grandes produções com efeitos visuais, ação e narrativas previsíveis — e “filmes para ver em casa”, geralmente dramas ou obras mais autorais. Quando faltam os filmes do primeiro grupo, as salas de cinema ficam simplesmente esvaziadas.
Um exemplo claro é Capitão América: Admirável Mundo Novo que, mesmo com uma campanha publicitária massiva, arrasta-se para alcançar US$ 400 milhões mundialmente, um valor modesto para os padrões de blockbusters.
Já produções menores no orçamento, embora tecnicamente competentes, são tratadas pelo público como “dispensáveis”, relegadas ao streaming ou a sessões vazias.
A indústria parece presa a um ciclo que pode ser chamado de vicioso: sem franquias, não há bilheteria; sem bilheteria, os estúdios apostam ainda mais em franquias, alimentando a saturação.
O fracasso do chamado “Cinema de Qualidade”
A máxima repetida nas redes sociais — “faça bons filmes e o público vai ao cinema” — revelou-se uma ilusão com o passar do tempo. O que os espectadores buscam, na verdade, é segurança.
Assim como alguém escolhe uma marca conhecida no supermercado, o público prefere franquias já estabelecidas, mesmo que medianas, a correr riscos com propostas originais. Isso explica o fracasso de Mickey 17, que, apesar do carisma do personagem e da premissa inovadora, não conseguiu engajar.
A exceção seria Morte de um Unicórnio, da A24, estrelado por Jenna Ortega e Paul Rudd, mas até mesmo esse filme, com potencial para ser uma surpresa, enfrenta ceticismo, e só deve atrair público muito por conta dos nomes envolvidos como protagonistas.
A indústria parece ter perdido a capacidade de criar eventos cinematográficos fora de sagas consolidadas, e o resultado é um calendário marcado por buracos negros como este em março de 2025.
E isso, porque eu já venho cantando em prosa e verso que “a criatividade em Hollywood está morta e enterrada”.
A frase se confirma pelos fatos.
A ausência de soluções
A esperança agora recai sobre o polêmico live-action de Branca de Neve, próximo lançamento da Disney. E, mesmo assim, até essa aposta é vista com cautela. Afinal, o estúdio tem acumulado fracassos recentes, e o público parece cada vez mais resistente a remakes e continuações.
E não ajuda em nada todas as polêmicas envolvendo a dupla protagonista (Rachel Zegler e Gal Gadot), o que não ajudou em nada a promoção internacional do filme.
Enquanto isso, a China tenta revitalizar seu mercado cinematográfico com Bomba de Fantasia, um blockbuster local que, embora bem-sucedido, é tratado como uma trégua temporária em vez de uma solução.
As perspectivas são sombrias
A crise de março não é um acidente, mas sim um sintoma de problemas estruturais que existem no setor há muito tempo. A pandemia acelerou a migração do público para plataformas de streaming, e os cinemas ainda não se recuperaram desse movimento até agora.
Além disso, a falta de diversidade no calendário — com estúdios concentrando lançamentos em meses específicos — deixa determinados períodos do ano à mercê de produções secundárias.
Sem uma mudança radical na estratégia, com mais espaço para filmes originais e campanhas de marketing que incentivem a ida às salas, o cinema corre o risco de se tornar um espaço exclusivo para blockbusters esquecíveis.
Enquanto isso, março de 2025 já entra para a história como um alerta: ou a indústria se reinventa, ou o público continuará votando com os pés — ou, melhor dizendo, com o controle remoto.
Via Box Office Mojo