Poucas vezes a frase ‘em time que está ganhando não se mexe’ foi tão bem aplicada em uma série como no caso de Desaventuras em Série. A mecânica exata, o humor afinadíssimo e quase matemático, a estética excelente e bem estudada entrega uma série onde nada falta e nada sobra.
Tudo estava na proporção certa na primeira temporada, e a química se mantém a mesma na segunda temporada, para a nossa alegria.
Absolutamente tudo o que fez grande a primeira temporada de Desaventuras em Série está aqui, de novo. Desde o humor negro e até cruel até as caracterizações de um perfeito Neil Patrick Harris, passando pelos secundários bem alinhados e a quebra constante da quarta parede que, agora, praticamente não existe.
A série segue narrando as peripécias dos órfãos de Baudelaire, cujos pais faleceram em um misterioso incêndio, e cuja herança é cobiçada pelo Conde Olaf, mestre do disfarce. Entre crianças que se comportam como adultos e adultos que se comportam como crianças, as tramas acontecem, com Olaf fazendo sombra aos acontecimentos.
Assim, a série se permite a apresentar leves novidades, como o papel cada vez mais importante de Jacqes Sniket (Nathan Fillion, que se reveza entre essa série e Santa Clarita Diet), que garante o humor negro a enésima potência. Por conta disso, conhecemos detalhes sobre os pais de Baudelaire, cuja implicação em uma trama de espionagem mortal é cada vez mais evidente.
A nova temporada não tem o peso deprimente e abstrato do primeiro encontro dos protagonistas: o tom escuro do primeiro encontro das crianças com Olaf não está presente, mas é inevitável. A atmosfera de farsa macabra se acentua, porque o mistério já não existe: todos sabem as intenções de Olaf, logo as tramas fluem melhor, com uma demência cada vez maior.
Desaventuras em Série tem a sorte de contar com Barry Sonnenfeld, diretor da maioria dos episódios e produtor da série, que faz com que a produção não desvie muito da história contada nos livros originais, além de Daniel Handler, produtor executivo e roteirista da série.
Os dois conseguiram eliminar a fina linha que separa o mórbido do atraente, o humorístico do terrível. A essência do humor negro. Algo que Sonnenfeld mostrou muito bem nos dois filmes da Família Addams. A série consegue manter o complexo equilíbrio entre a aparente leveza argumental e o pesado aparato estético.
Desaventuras em Série evoluiu para novas direções argumentais, mas sendo perfeitamente reconhecível como um todo. Independente do gosto do espectador, uma coisa é certa: cer concebida com um começo e um fim a beneficia no que refere ao tom e tensão narrativa.
Em temos de séries longas e da adoção da indecente prática de dezenas de spin-offs, a vontade de contar uma história específica, concreta e estudada a fundo como é o caso de Desaventuras em Série, com riqueza nos mínimos detalhes, é um autêntico luxo.
Altamente recomendada.