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Destruindo a maior mentira sobre a série Adolescência (Netflix)

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É meu dever como jornalista desde 2008 colocar as coisas nos seus devidos lugares. E combater a desinformação, seja ela disseminada de forma induzida ou inconsciente, seja pelo único objetivo de espalhar mentiras generalizadas.

“Adolescência” (Netflix) é uma das grandes séries de 2025, e um grande “tapa na cara” dos pais que acreditam que sabem o que estão fazendo com os seus filhos quando, na verdade, perpetuam o compartilhamento de preconceitos e códigos de ódio e violência que, neste momento, são trabalhados pelos membros da Geração Z através da visão extrema, com a adição das redes sociais, que são ambientes tóxicos.

Desconfio que boa parte dos pais que assistiram à série não entenderam o final de “Adolescência”, por conta do vitimismo combinado com a incapacidade de autocrítica. Até porque o quarto e último episódio da trama deixa esse comportamento em primeiro plano, o que oblitera uma reflexão sobre a real responsabilidade dos pais no crime cometido por Jamie.

Mas o que me deixa realmente incomodado é o nível de desinformação que algumas pessoas estão disseminando sobre a origem da produção. A série, em si, tem sim inspiração na realidade, mas não em um crime ou criminoso em específico.

E a mentira que estão contando sobre a origem de “Adolescência” tem, é claro, a ideia de estabelecer um viés racial. Mais uma vez, tentam associar a violência extrema ao negro.

Só se esqueceram de combinar isso com o criador da série.

 

O que estão dizendo?

A Revista Oeste, de forma até sensacionalista, coloca como título:

Netflix transforma assassino negro em adolescente branco

A série Adolescência foi inspirada no crime cometido por Hassan Sentamu, um adolescente negro, em 2023

Na matéria, a Oeste afirma que:

Durante entrevista à revista Radio Times, Stephen Graham, um dos atores principais de Adolescência, disse que a série tem o objetivo de “provocar reflexão sobre a cultura incel e suas consequências na sociedade”.

Ele também afirmou que Adolescência se propõe a “examinar a influência das redes sociais sobre os jovens e como essas plataformas os expõem a visões extremas”.

Incel (aglutinação das palavras inglesas involuntary celibates, ou celibato involuntário, em português) é uma referência a integrantes de uma subcultura virtual que se definem como incapazes de encontrar um parceiro romântico ou sexual, apesar de desejarem ter.

“Você olha para isso e vê que somos todos responsáveis até certo ponto”, disse Graham. “Há falhas no sistema escolar que precisam ser abordadas, especialmente com o aumento dessas tendências misóginas.”

P.S.: a “ideia” do “ser incel” é mais disseminada entre os grupos do espectros mais conservadores. È uma forma de assédio moral que se tornou mais presente nos últimos anos, principalmente entre os membros da Geração Z.

Mais adiante, a mesma matéria da Revista Oeste faz a afirmação sobre “o caso que inspirou a série da Netflix”:

Além do incidente com Ava, na entrevista à Radio Times, Stephen Graham citou o assassinato de Elianne Andam, de 15 anos, como um dos casos que inspiraram o roteiro.

“Houve vários incidentes que me fizeram ter essa ideia”, disse Graham. “Houve outra jovem, Elianne, no sul de Londres, que foi esfaqueada até a morte em um ponto de ônibus. Fiquei pensando: o que está acontecendo? O que é isso que está acontecendo?”

Em 2023, Hassan Sentamu, de 18 anos, esfaqueou Elianne durante uma discussão sobre um ursinho de pelúcia em um shopping no sul da capital britânica. Ele foi condenado a 23 anos de prisão.

Sentamu era ex-namorado de uma amiga de Elianne. O assassino cometeu o crime quando Elianne tentou ajudar a amiga a recuperar o ursinho de pelúcia que estava em posse de Sentamu. Ele havia dado o brinquedo de presente à ex-namorada.

Sentamu já tinha histórico de agressões e porte de facas. Usuário de Cannabis, o assassino ignorou os pedidos de clemência de Elianne e a esfaqueou no pescoço e no ombro.

No julgamento, alegou que suas ações foram influenciadas por seu transtorno do espectro autista e baixo QI, mas os jurados rejeitaram essa defesa e o condenaram por assassinato e posse de arma branca. Durante a prisão, teria dito a um colega de cela que “faria tudo de novo”.

 

Então… eu tenho sérios problemas com o “jornalismo” da Revista Oeste, pois ele se vale de contorcionismo retórico para vender a desinformação para os seus leitores.

E, infelizmente, tem gente acreditando nisso.

Bom… hora de estabelecer algumas verdades a partir de agora.

 

De onde a Revista Oeste tirou essa informação?

Do mesmo lugar que a dona de casa que acredita em kit gay e mamadeira de piroca recebe na internet: de outros usuários que criam mentiras e alucinações sobre qualquer coisa, compartilhando a desinformação nos aplicativos de mensagens instantâneas e redes sociais.

Para começo de conversa, a Revista Oeste “se esqueceu” (e aqui, vou ser um cara legal, pois jamais vou dizer que a matéria omitiu ou ocultou essa informação dos seus leitores) de mencionar que, além de ator (na série, ele interpreta Eddie Miller, pai de Jamie), Stephen Graham é co-criador de “Adolescência”, ao lado do roteirista Jack Thorne.

A ideia para criar a série surgiu após Stephen ler uma notícia sobre um jovem acusado de esfaquear uma garota, mas em nenhum momento ele menciona que é especificamente o caso de Elianne Andam.

Em nenhuma mídia. Nem mesmo na RadioTimes.com. E eu vou chegar na fonte original da matéria mais adiante.

A principal “fonte” da informação da Revista Oeste foi um usuário da internet qualquer: Jonathan Wong que, por usa vez, replicou algo publicado por outro mentiroso, o Ian Miles Cheong, que não citou fonte nenhuma para comprovar sua afirmação.

Na mensagem no X (e… que saudades do Twitter que tinha sistema de verificação de fatos…), Ian afirma:

A Netflix tem um programa chamado Adolescence que é sobre um assassino de facas britânico que esfaqueou uma garota até a morte em um ônibus e é baseado em casos da vida real, como o assassino de Southport.

Então adivinhe. Eles trocaram o assassino real de um homem negro / migrante para um menino branco e a história diz que ele foi radicalizado online pelo movimento da pílula vermelha.

Apenas o estado absoluto da propaganda anti-branca.

Isso mesmo: ele jogou a teoria da conspiração dele baseado “no nada”. Só fez a associação porque era conveniente para a crença dele. Porque ele queria que fosse assim.

Ou, como gosto de dizer de forma mais coloquial: ele tirou do cu dele.

Sem verificar fatos. Sem consultar o criador da série.

Aliás, o trabalho da Revista Oeste é tão porco, que nem coloca na matéria o link da RadioTimes.com como fonte para verificação das “aspas” mencionadas por Graham (que agora a gente sabe que ele sequer disse o que a matéria afirma).

E chamam “isso” de “jornalismo”.

E a cereja do bolo de cocô: Elon Musk, dono do parquinho do X (que fez gesto nazista na posse de Donald Trump – e é bom a gente deixar isso bem claro), compartilhou a mensagem de Ian, ajudando o algoritmo de sua rede social a impulsionar a mentira junto ao grande público.

Faltou para a Revista Oeste fazer o trabalho que estou fazendo neste artigo: pesquisa de campo, cruzar dados e, o mais importante, compartilhar a informação correta para os leitores.

 

“Adolescência” é baseada em uma história real?

Em uma história específica, não. Na verdade, em várias. E o próprio Stephen Graham, criador da série, deixou isso bem claro em falas oficiais, em diversas oportunidades.

Um dos principais materiais que influenciaram o roteiro de “Adolescência” foi o livro Cries Unheard: Why Children Kill, da autora Gitta Sereny, que examina o caso de Mary Bell, uma menina de 11 anos que matou duas crianças na década de 1960.

Para inserir contexto à narrativa, apresento um breve resumo da obra literária:

“Cries Unheard: Why Children Kill” é um livro que explora o caso de Mary Bell, uma menina BRANCA de 11 anos que, em 1968, assassinou dois meninos em Newcastle upon Tyne, Inglaterra. A autora, Gitta Sereny, que acompanhou o julgamento de Mary, busca entender os fatores que levam crianças a cometer crimes graves. Sereny argumenta que, para compreender esses atos, é necessário ouvir as histórias dessas crianças quando elas se tornam adultas.

Mary Bell, nascida em 1957, cresceu em um ambiente extremamente conturbado. Sua mãe, uma prostituta, a submetia a abusos psicológicos e físicos, incluindo a obrigação de realizar atos sexuais com clientes desde os cinco anos de idade. Essas experiências traumáticas influenciaram seu comportamento, levando-a a praticar atos violentos contra animais e, eventualmente, contra outras crianças.

Em 1968, Mary, junto com sua amiga Norma Bell, sem parentesco, matou Martin Brown, de três anos, e Brian Howe, de quatro anos. Os crimes chocaram a comunidade e levaram a um julgamento altamente divulgado. Norma foi inocentada, enquanto Mary foi condenada por homicídio involuntário e cumpriu 12 anos de prisão.

Ou seja, a principal fonte de inspiração para o ROTEIRO não foi um jovem negro e usuário de drogas. E “Adolescência” não foi criada ou escrita ESPECIFICAMENTE inspirada no caso de Hassan Sentamu.

E isso é um fato.

Mas se você ainda não acredita em mim, vamos então para a fonte mencionada pela Revista Oeste para afirmar que Graham trocou o protagonista de “Adolescência” para “não gerar ainda mais polêmica”.

A mesma RadioTimes.com menciona que os autores não basearam a série em um único caso (nem mesmo o livro que inspirou o ROTEIRO, e não a MOTIVAÇÃO OU INSPIRAÇÃO para a série como um todo), mas sim “uma série de eventos perturbadores da vida real e pela crescente epidemia de crimes com faca no Reino Unido”.

Aliás, o único caso que Graham cita a vítima como o exemplo nem é o de Elianne Andam, que foi pinçado por quem queria vender mentiras na internet.

Stephen menciona outro caso.

“De onde veio, para mim”, explicou Graham para a Radio Times, “é que houve um incidente em Liverpool, uma jovem, e ela foi esfaqueada até a morte por um menino. Eu apenas pensei, por quê?

“Depois, havia outra jovem no sul de Londres que foi esfaqueada até a morte em um ponto de ônibus. E havia essa coisa no Norte, onde aquela jovem Brianna Ghey foi atraída para o parque por dois adolescentes, e eles a esfaquearam. Eu apenas pensei, o que está acontecendo? O que é isso que está acontecendo?”

E até mesmo o caso de Brianna tem várias similaridades com a narrativa apresentada por “Adolescência”. Vale a pena a leitura da matéria da BBC.com para entender melhor do que estou falando.

 

O ator também ecoou esses comentários em um evento Next on Netflix no início deste ano.

“A ideia surgiu quando – nos últimos 10 anos ou mais – vimos uma epidemia de crimes com faca entre jovens, em todo o país”, disse ele.

“E para mim, houve certos casos que realmente se destacaram em que meninos – e eles são meninos, você sabe, eles não são homens – estavam matando meninas.

“Quando mencionei isso a Phil [Barantini, diretor da série], isso realmente me atingiu com força. Eu apenas pensei: ‘Por quê? O que está acontecendo? O que está acontecendo? Por que esse é o caso?'”

Graham continuou: “O que está acontecendo com nossa sociedade como um todo, como um coletivo, e sem ser desrespeitoso, quando essas coisas estão no noticiário – e somos um casal de crianças de propriedades do conselho – mas quando essas coisas estão no noticiário, seu julgamento instantaneamente vai culpar a família, você culpa a mãe e o pai.

“Somos todos culpados disso, porque esse é o denominador comum fácil. Eu apenas pensei: ‘E se não for esse o caso?'”

 

Portanto, embora a série não seja baseada em uma história real específica, ou mesmo inspirada em um incidente específico, parece que a ideia veio de uma trágica série de eventos nos últimos anos, que Graham e a equipe por trás do programa queriam explorar.

E… eu não estou citando um zé mané qualquer e aleatório que coloca uma merda dessas na internet. Estou apresentando FALAS do CRIADOR DA SÉRIE, em diferentes eventos.

 

E para completar a minha narrativa…

 

Nesse último final de semana, Stephen Graham decidiu responder de forma específica a ideia de que “Adolescência” é uma série que prega o ódio contra o povo branco, que é a raiz da teoria da conspiração apresentada no X e compartilhada por Elon Musk.

Jack Thorne, co-criador da série, negou as afirmações rapidamente no podcast The News Agents, descrevendo como “absurdas” as insinuações de que crimes com faca no Reino Unido “são cometidos apenas por crianças negras”.

Além disso, o próprio Thorne quis deixar claro que a questão racial é um tanto irrelevante no caso de ‘Adolescência’, já que o foco da aclamada minissérie está em outro tema:

“Com isso, não estamos falando de raça. Estamos falando de masculinidade. Estamos tentando resolver um problema. Não estamos dizendo que é uma coisa ou outra. Estamos dizendo que é sobre meninos.”

Agora, Graham foi categórico sobre o assunto no The Hollywood Reporter:

“Eles estão completamente errados. Porque se você olhasse para os fatos, veria que a coisa horrível que aconteceu em Southport aconteceu depois que terminamos nossa série. Simplesmente não faz sentido. Então, eles estão usando isso para perseguir seus próprios interesses. Eu entendo o conceito de liberdade de expressão, eu entendo e entendo o que eles dizem. Mas acho que há uma linha tênue entre liberdade de expressão e ódio.”

Graham se refere ao caso de Axel Rudakubana, que foi condenado a 52 anos de prisão pelo assassinato de três meninas, ferindo também outras 10.

Axel é uma pessoa preta.

Acontece que os eventos envolvendo Axel aconteceram em julho de 2024 e a essa altura ‘Adolescência’ já estava escrita, com as filmagens apenas começando, o que torna impossível para Thorne e Graham se basearem nessa tragédia.

Na mesma matéria do THR, Graham reforça que:

“Alguns disseram que é acordado e o levaram ao extremo. Nunca foi sobre raça … Era simplesmente para ser uma representação de uma família normal que poderia morar na sua rua. Eles podem ser filhos de sua irmã ou, Deus me livre, seu próprio filho. Tudo o que me influenciou foi o realismo social. Embora eu não possa deixar isso mais claro, parece-me que muitos aplicarão o que disseram em um episódio de ‘Futurama’ de “Prefiro acreditar no que fui programado para acreditar”…

 

Em suma, é inevitável que algumas pessoas queiram trazer qualquer coisa que tenha sucesso para o seu terreno, não importa o que esteja acontecendo, para apoiar as suas narrativas e perspectivas individuais sobre a sua realidade, mesmo que essa visão seja desalinhada com a realidade dos fatos. E com uma bomba do calibre de “Adolescência”, que também trata de um assunto particularmente delicado, ainda mais.

Agora… se mesmo com tudo isso você só quer acreditar nas vozes da sua cabeça, ou nas mentiras que terceiros contaram… o problema é seu.

Aliás… é um enorme problema que você está criando para você mesmo.

 

Você realmente entendeu a série “Adolescência”?

Para terminar, o meu recado vai para você, que assistiu “Adolescência” e, mesmo assim, acreditou sem questionar que o roteiro da série ou sua inspiração foram alteradas para ser um discurso de “propaganda contra os brancos”, ou para esconder que o real assassino é uma pessoa preta.

Eu realmente tenho sérias dúvidas sobre a sua capacidade cognitiva para compreender de forma correta a narrativa da série.

Porque, diferente do filme “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, que trabalha com metalinguagem o tempo todo para falar sobre a profunda questão do “como seria a minha vida se eu tivesse tomado outras decisões?” (algo que, de fato, é mais complexo para o grande público”, “Adolescência” tem um discurso direto e objetivo: a perpetuação da masculinidade tóxica.

A série é complexa porque não trabalha com a obviedade de provar a culpa ou inocência de Jamie. Logo de largada sabemos que ele realmente é o autor do crime. A trama aprofunda a questão nas MOTIVAÇÕES dele no ato extremo, o que resulta no envolvimento de várias outras digitais na tragédia.

Colocar como dupla de investigadores uma mulher que possui gatilhos emocionais por suas experiências traumáticas na escola e um homem negro que tem um filho no colégio da vítima de bullying e racismo, mas que, pela ausência de comunicação efetiva com o garoto, não consegue compreender os códigos de expressão da Geração Z nas redes sociais para identificar o assédio que Jamie estava sofrendo, é uma das decisões mais inteligentes dos roteiristas.

Pois os investigadores abraçam basicamente o grande público consumidor de “Adolescência”: as mulheres adultas que ficam traumatizadas por todo o assédio que sofreu na escola e na vida adulta, e os homens adultos que até poderiam ser populares no passado, mas que não conseguem se comunicar com os mais jovens para compreender o que acontece no mundo deles, ignorando que são parte desse problema.

E… sobre os pais de Jamie… não perceberam nada?

Não estou falando do “pervertido” pichado na van de Eddie. Falo da leniência e enorme aceitação dos pais sobre a situação do filho.

De forma até constrangedora, os pais tentam seguir com a vida normalmente, enquanto o filho está preso e será julgado por um crime onde claramente ele não tem um envolvimento independente ou isolado (outras pessoas estão envolvidas). Ao mesmo tempo, os pais se vitimizam com o discurso do “não fizemos o suficiente”, sabendo que deveriam mover todos os recursos possíveis para tentar tirar Jamie da cadeia de alguma forma.

Mesmo porque metade da cidade já sabe que Jamie não cometeu o crime sozinho.

E, muito provavelmente, mexer nesse vespeiro pode se voltar contra os próprios pais de Jamie.

“Adolescência” é uma série que depõe diretamente contra os pais. Liga o sinal de alerta para adultos que, em boa parte, são estúpidos o suficiente para não perceberem que seus filhos são de uma geração completamente diferente do que eles foram, mas que absorvem códigos morais e éticos de gosto duvidoso a partir do que os adultos ao redor deles mostram como certo e errado, tal e como sempre foi na história da humanidade.

Jamie tem apenas 13 anos (14 quando for julgado). A ideia de odiar mulheres veio dentro de casa. Suas ações e reações são reflexos de sua observação do comportamento do seu pai e da ausência de correção de rota de sua mãe.

Da mesma forma que as demais crianças foram influenciadas pelos adultos dentro de casa sobre a cultura incel, racismo, homofobia, misoginia, xenofobia e preconceitos de todas as espécies.

Não é o colega que deu a arma. Nem a escola com professores esquerdistas, nem a amiga preta que bate no colega racista. Nem psicóloga que vira as costas para Jamie.

São os pais. Eles são os culpados.

“Adolescência” não tem nada a ver com uma guerra racial. Tem a ver com camadas profundas do psicológico e emocional humano. De problemas que afetam ao grande grupo (e um desses problemas é sim o racismo).

É muito mais crível pensar que Jamie nasceu e cresceu em uma família conservadora quando olhamos para todos os detalhes apresentados pela série, principalmente quando ele descreve o comportamento do pai como “algo normal”, mesmo destruindo um celeiro inteiro em um ataque de raiva.

E, no final das contas, a série é o que ela é quando chega ao público.

Para quem acreditou que seus autores alteraram a narrativa central para omitir a suposta característica racial do assassino, eu só tenho quatro alternativas para você:

  1. Você é burro (pois nem se deu ao trabalho em questionar essa narrativa absurda e racista, muito menos pesquisar tudo o que levantei neste artigo para alinhar essa teoria com a realidade prática);
  2. Você não entendeu a série (e está tudo bem, pois não é todo mundo que consegue enxergar subtramas paralelas dentro de uma narrativa complexa);
  3. Você é desonesto (porque finge que não entendeu, mas na verdade sabe muito bem que a trama fala EXATAMENTE O CONTRÁRIO do que você defende ou acredita);
  4. Você é racista. Infelizmente. Pois o racismo se vale também na crença em falas, rumores e boatos que se alinham com nossas convicções profundas. E é crível para você acreditar que pessoas pretas são, de forma previamente concebida, mais propensas ao consumo de drogas e violência.

Normalmente quem acredita em fake news e desinformação é uma pessoa preconceituosa, com visão de mundo limitada, mal-informada, estúpida e com um QI pouco desenvolvido.

Por favor, tente não ser essa pessoa.

Apenas melhore.


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