E essa nova versão do Mark Zuckerberg, hein? O que achamos disso?
Um homem que, por anos, personificou a eficiência robótica ao usar roupas neutras, discursos calculados e uma obsessão por produtividade e que, agora, sobe em um piano, vestindo um macacão azul brilhante, imitando uma performance de Grammy para surpresa (ou horror) dos convidados da festa de aniversário de sua esposa.
Essa é a nova versão de Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook que, em menos de um ano, trocou a imagem de “androide corporativo” pela de um showman extravagante. Se antes ele era sinônimo de discrição, hoje seu nome está associado a relógios de US$ 1,3 milhão, festas temáticas e polêmicas empresariais.
O que explica essa transformação? E como ela reflete não apenas suas escolhas pessoais, mas também os paradoxos de um império como a Meta?
Quando Zuckerberg virou uma estrala do rock
A celebração do 40º aniversário de Priscilla Chan foi um símbolo da “Zuckaissance”, como a mídia apelidou seu renascimento público. Entre risadas, performances e um guarda-roupa que rivaliza com o de celebridades, Zuckerberg parece ter descoberto que ser bilionário não basta — é preciso ser iconicamente bilionário.
Mas enquanto ele dança sobre pianos, sua empresa demite milhares e redefine prioridades. Como conciliar o hedonismo pessoal com a responsabilidade corporativa?
Será o que o Rolex que ele estava usando no pulso foi pago com as lágrimas dos funcionários demitidos?
A cena parece saída de um roteiro de comédia do Adam Sandler: Mark Zuckerberg sobe ao palco vestindo um smoking impecável. De repente, assistentes arrancam seu terno, revelando um macacão azul metálico idêntico ao usado por Benson Boone no Grammy.
Ele tenta subir no piano, hesita, e opta por um salto desengonçado em vez da acrobacia planejada. A plateia ri, aplaude, e o vídeo viraliza, é claro.
Se uma bizarrice dessas não viralizar, nada mais ganha visibilidade nas redes sociais de hoje.
Por que um dos homens mais poderosos do mundo se arriscaria a virar meme?
Bom… tudo isso pode muito bem ser uma estratégia calculada para humanizar uma figura historicamente criticada por sua frieza.
A escolha de “Beautiful Things”, música que fala de gratidão e transformação, não foi aleatória. Zuckerberg não está apenas entretendo os convidados. Ele está reescrevendo sua narrativa.
Ao compartilhar o vídeo no Instagram com a legenda “Sua esposa só faz 40 anos uma vez”, ele transmite uma mensagem subliminar: “Sou humano, sou divertido, sou real”.
Essa reinvenção não é mero capricho ou vaidade do executivo. Não podemos nos esquecer que ele tentou se aproximar do perfil de Elon Musk e, por algum motivo que ainda não ficou claro, já fez as contas, e viu que não era tão positivo assim ser a imagem e semelhança de alguém que flerta com visões de mundo controversas.
Sim. O movimento do menino Zuck é calculado. E, ao mesmo tempo, arriscado.
Enquanto o público ri da performance desastrosa, acionistas observam com preocupação. Afinal, qual é o limite entre o CEO que inspira e o que se torna piada?
Zuckerberg parece apostar que, na era do TikTok e Instagram, a autenticidade (mesmo que desastrosa) vale mais do que a perfeição.
Resta saber se os investidores concordam — ou se prefeririam vê-lo focado em salvar o metaverso, não em imitar astros do pop.
O Rolex de US$ 1,3 milhão, um luxo como símbolo de poder
Enquanto os holofotes estavam no macacão azul, outro detalhe chamava a atenção dos presentes na festa (e nos internautas que viram o vídeo nas redes sociais): no pulso de Zuckerberg, brilhava um Rolex Daytona 6269, peça raríssima avaliada em US$ 1,3 milhão.
Com 44 diamantes na luneta e 240 no mostrador, o relógio é um símbolo de status quase mitológico. Das 10 unidades existentes no planeta, uma agora pertence ao homem que, até pouco tempo atrás, vestia camisetas cinzas iguais todos os dias.
A mudança radical pode ser explicada pela competição silenciosa entre bilionários.
Enquanto Bezos ostenta iates e Musk coleciona carros elétricos, Zuckerberg parece ter descoberto nos relógios uma nova linguagem de poder.
O Daytona 6269 não é apenas caro; ele é inacessível, inclusive para pessoas como Musk e Bezos. Ao usá-lo, ele não apenas exibe riqueza, mas também conexões privilegiadas — afinal, adquirir uma peça dessas requer influência além do cheque-book.
É uma mensagem clara: “Posso ter o que vocês nem sabem que existe”.
Mas há também uma dose ironia nesse gesto. Neste caso, uma ironia indigesta.
A meta demitiu recentemente 5% de seus funcionários sob a justificativa de “eficiência”, e Mark Zuckerberg gastou o equivalente a 130 anos do salário médio de um engenheiro da empresa em um mero adorno de pulso.
Será mero exibicionismo? Ou uma estratégia para atrair olhares — e investidores — para uma marca que precisa se manter relevante em meio a concorrentes como TikTok e OpenAI?
Seja qual for a motivação, o Rolex lembra todo mundo que, na era da “Zuckaissance”, até os acessórios contam uma história.
Uma história com final bem infeliz para quem está sem emprego neste momento.
O Paradoxo Zuckerberg
Ao mesmo que os convidados da festa brindavam com champanhe, na sede da Meta, milhares de funcionários recebiam e-mails informando que seus empregos estavam cortados.
A empresa, que anunciou a demissão de 5% de sua força de trabalho em 2024, justifica os cortes como parte de uma “reestruturação para a era da IA”.
Mas há uma contradição gritante nisso tudo: os funcionários perdem benefícios enquanto altos executivos da empresa recebem bônus cada vez maiores.
Quem aprova essas decisões é o próprio Zuckerberg, que parece viver em dois mundos paralelos — um de celebração desenfreada, outro de “austeridade” corporativa.
A dualidade aqui apresentada incomoda. Como um líder pode promover uma cultura de “família” dentro da empresa enquanto demite milhares de pessoas e, ao mesmo tempo, coloca um relógio raro e milionário no pulso para ostentar o seu poder?
E como conciliar o aumento de bônus para gerentes com o corte de 10% nas ações para a base?
É a lógica impiedosa do capitalismo tecnológico: Zuckerberg não é mais o garoto prodígio do dormitório de Harvard, mas o CEO de uma empresa que vale US$ 1,2 trilhão.
Suas prioridades, agora, são agradar acionistas e manter a Meta na vanguarda — mesmo que isso custe empregos e coerência narrativa.
Zuckerberg sabe que vai pagar um preço por tudo isso.
A imagem do CEO pulando em festas com um Rolex milionário enquanto funcionários perdem seus sustentos alimenta críticas sobre a desconexão dos super-ricos da realidade da maioria das pessoas.
Com a desigualdade social como um tema global (a ponto de – pasmem – Sam Altman (da OpenAI) defender a renda mínima universal), Zuckerberg arrisca transformar sua “Zuckaissance” em um símbolo de excesso insensível.
Até quando o público — e os funcionários da Meta — vão tolerar essa dicotomia?
A transformação de Zuckerberg é um espelho do tempo presente: vivemos em um mundo totalmente polarizado, e os milionários estão escolhendo os personagens que querem interpretar.
Ou são amados, ou são temidos.
A nova persona de Mark Zuckerberg faz parte de um roteiro meticulosamente desenvolvido para um homem que, agora, tenta redefinir o seu legado, buscando uma reconexão consigo mesmo.
Mesmo que isso signifique trocar algoritmos por holofotes.
É bom que o menino Zuck saiba bem o que está fazendo.
Cada risada nas redes sociais, cada diamante no pulso, cada demissão em massa… cada movimento alimenta narrativas que fogem ao seu controle.
Zuckerberg pode ter descoberto que, no século XXI, até um CEO precisa ser influencer. Resta saber se sua reinvenção vai inspirar uma nova geração de líderes — ou servir de alerta sobre os perigos de confundir palco com realidade.
Enquanto isso, o show deve continuar.
Afinal, como o próprio (e novo) Mark Zuckerberg diria: “Só se vive uma vez”.