A ABC não teve qualquer tipo de medo ou receio em realizar uma cerimônia do Emmy Awards em pleno domingo (16), enfrentando nada menos que o Sunday Night Football (NFL) na NBC. Vamos então esperar para ver como será o massacre na audiência nos próximos dias.
E isso quase passa desapercebido, mas… foi a SEGUNDA EDIÇÃO dos Emmys em 2024. Oito meses antes, aconteceu o Emmys 2023, por conta da greve de roteiristas e atores de Hollywood, que atrasou o cronograma de tudo no ano passado.
E todos esses fatores combinados podem explicar um Emmys 2024 mais contido, buscando referências em si mesmo e nos arquétipos televisivos.
Além de explicar as surpresas na lista dos vencedores.
Um momento de transição
Da mesma forma que aconteceu em outras eras da TV, os finais de séries aclamadas por público e crítica como Game Of Thrones, Sucession e Better Call Saul resultam em um espaço para que novas produções sejam reconhecidas.
Por outro lado, recebemos uma competição menos emocionante e mais previsível, onde a maioria dos vencedores poderia ser previamente antecipada por quem acompanhou de forma razoável as produções que chegaram na TV nos últimos 12 meses.
Há quem diga que está faltando séries mais criativas e ousadas na programação, o que é algo discutível. Temos vencedores que se destacam pela qualidade técnica, e aqueles que entregaram propostas diferentes nas suas histórias.
O grande destaque da noite foi a vitória de Shōgun como Melhor Série Dramática, consolidando sua posição como série dominante da temporada.
Shōgun entrou para a história dos Emmys por quebrar vários recordes de indicações e vitórias. E aqui, temos o mérito do Disney+ em apostar em uma grande produção televisiva para contar uma história ambientada no Japão para o público norte-americano.
Vale também o registro que O Urso se tornou a série de comédia mais premiada em uma edição do Emmys na história. Mesmo que algumas pessoas não considerem essa história uma comédia.
Além disso, a vitória de Liza Colón-Zayas como Melhor Atriz Coadjuvante em Comédia foi um momento marcante, sendo a primeira Latina a conquistar esse prêmio.
Um Emmys 2024 marcado pela diversidade, em um sentido amplo. Dos apresentadores aos homenageados (Greg Berlantti recebeu o Governor’s Award).
E pelo menos uma grande surpresa na lista de vencedores: Hacks superando O Urso como Melhor Série de Comédia.
Confesso que não esperava por isso, mas fico muito contente. Hacks foi uma das poucas séries novas que acompanhei minimamente na temporada, e a história protagonizada por Jean Smart (que venceu como Melhor Atriz em Comédia) é sensacional.
Por outro lado, fica o registro que a Academia de Ciências Televisivas falhou miseravelmente em criar uma categoria para que o Saturday Night Live vença todos os anos.
Explico: o Emmys estreou a categoria Melhor Programa de Variedades Roteirizado, algo que cai como uma luva para o Saturday Night Live. Porém, o John Oliver, de forma muito esperta, inscreveu o seu TALK SHOW Last Week Tonight na mesma categoria… e venceu!
Complementando a bizarrice… o Melhor Talk Show foi o The Daily Show… que nem apresentador tem direito!
Como o Trevor Noah saiu do programa, seus produtores foram para o caminho mais seguro: trazer o “aposentado” Jon Stewart de volta.
E ele voltou… apenas para apresentar os programas de segunda-feira.
Vai entender…
O melhor e o pior do Emmy 2024
A apresentação dos anfitriões Eugene e Dan Levy trouxe uma mistura de humor e leveza, mas também com alguns momentos de desconforto produzidos por um roteiro que fazia piadas inconvenientes em alguns momentos.
E o que é bizarro é que o mesmo time de roteiristas entregou bons momentos, como a participação de Candice Bergen, que fez piadas políticas afiadas em pleno ano de eleição presidencial, em referência à sua série de maior sucesso, Murphy Brown.
Aqui, é o Emmys criticando o momento atual da sociedade norte-americana e de seus líderes políticos, ao mesmo tempo em que tenta promover a relevância da televisão como uma plataforma de discussão para temas relevantes ao grande grupo.
Esse contraste de narrativas do Emmys resultou em um evento que foi menos ousado do que poderia, o que teve como consequência direta uma premiação mais “protocolar”.
A tentativa de homenagear a história da televisão, embora bem-intencionada, pode ser encarada como confusa, desconexa da realidade de momento e até “corporativa”.
Na prática, o Emmys quis levantar a própria bola, que está murcha junto ao grande público. As novas gerações não assistem mais a TV aberta nos EUA, e quando assistem, o fazem pela tela do smartphone.
Com o streaming dominando completamente o entretenimento doméstico (nenhuma série da TV aberta ou TV a cabo/paga recebeu um prêmio entre as principais categorias), as homenagens aos estereótipos televisivos é quase uma forma de revirar o passado do lixo para que todos se lembrem como tudo isso foi bom um dia.
O Emmy Awards precisa se reinventar como premiação. Na verdade, não só ele. Todas as premiações, em maior ou menor grau, perderam sua relevância porque:
- O entretenimento mudou drasticamente;
- As premiações estão engessadas em formatos desinteressantes para as novas gerações.
Foi um Emmy Awards feito para o público mais velho, que (muito provavelmente) estava assistindo ao futebol americano na NBC.
Uma das soluções adotadas pelos organizadores do Emmys foi deslocar algumas das categorias técnicas que antes eram anunciadas no evento principal para os Creative Arts Emmys, que acontecem na semana anterior.
O objetivo aqui é deixar a premiação mais ágil, dando mais espaço para o entretenimento pontual e outras dinâmicas em uma premiação que dura “apenas” três horas.
O que deu certo, em partes: o Emmys estourou em “apenas” 15 minutos das três horas originalmente planejadas. Mas não sei se foram três horas que conseguiram segurar a audiência em algo semi-protocolar.
Falta para a premiação a capacidade de se adaptar às mudanças que estão acontecendo na indústria do entretenimento e até mesmo de nossa sociedade.
Quem sabe considerar a inclusão de categorias e indicados que melhor refletem a diversidade de conteúdos, gêneros, etnias e perspectivas de coletivo.
Ou até mesmo oferecer categorias cujos indicados se aproximam da realidade de consumo do grande público. Sim, eu sei que é polêmico, mas uma categoria como “Melhor Série Popular” não seria algo tão ruim assim.
Até porque o People’s Choice Awards corre o risco de ter mais audiência que o Emmy hoje.
No final das contas, o Emmys 2024 foi OK.
Valeu a pena por ver alguns vencedores saindo do lugar comum. Valeu por ver alguns astros sendo reconhecidos depois de anos de serviços prestados.
E valeu porque esse é o último Emmy Awards desse ano. Agora, só em 2025, se tudo der certo.
Lista de Vencedores | Emmy Awards 2024