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Eu odeio a segunda-feira!

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Se você ama as segundas-feiras, e consegue chegar ao trabalho pela manhã sorrindo e feliz da vida… você tem problemas!

Somo a minha voz ao clamor de todo um povo sofrido, que abre os olhos a cada segunda-feira pela manhã e, ao constatar que está vivo no dia mais infeliz da semana, parte para a sua jornada de trabalho pensando no final de semana que ficou para trás, ao mesmo tempo em que pensa em tudo o que pode fazer no próximo final de semana.

Eu odeio as segundas-feiras. Com todas as minhas forças. Eu tenho tanta raiva desse dia que, para mim, segunda-feira não deveria se chamar assim. Ela deveria se chamar Los Hermanos.

Eu adoro essa piada, e eu vou defendê-la até o final.

Minha aversão às segundas-feiras só não é maior por causa de alguns hábitos que eu cultivo na vida. Ou melhor, hábitos que eu não tenho, e que poderiam tornar tudo pior. Por exemplo, eu não consumo bebidas alcoólicas. E penso na ressaca física (e, em alguns casos, moral) que algumas pessoas que eu conheço acabam vivenciando a cada manhã de segunda-feira, depois de um final de semana recheado de churrasco, cerveja, caipirinha e outras bebidas com elevado teor etílico.

Ao menos a minha insatisfação com as segundas-feiras é consciente e racional. Eu tenho certeza que eu odeio a segunda-feira. E ainda sonho com algum dispositivo que provoque um apagão temporário, me jogando direto para a terça-feira.

Mas… estamos falando do tempo, certo? E o tempo é sempre o senhor da razão.

Foi em uma segunda-feira, enquanto eu estava de férias na casa dos meus pais em Araçatuba (SP) que eu comecei a ler o ótimo livro “Todos contra todos: O ódio nosso de cada dia”, de Leandro Karnal. Nesse livro, ele basicamente faz uma desconstrução dos mitos que pregam mentiras históricas, como “o brasileiro é cordial, é solidário, é pacífico e não é preconceituoso”. Ele traça um paralelo histórico sobre a origem do nosso ódio e preconceito (sim, porque todo país tem essa narrativa, de acordo com os eventos que ajudaram a construir a história daquela sociedade ou comunidade), mostrando que essa cultura tóxica existe no nosso povo desde os tempos da escravidão (sim, cara gente branca… ela existiu) e se tornou mais evidente com as eleições de 2014, com a definição do “nós” contra “eles”.

É uma pena que Karnal escreveu esse livro antes das eleições de 2018. Mas… quem sabe daqui a alguns anos ele escreve um segundo livro, apenas abordando os “novos tempos” que estamos vivendo.

Eu li o primeiro capítulo do livro, e tive que parar para respirar. É um texto que bate na sua alma com todas as forças. Independente de sua origem ou história de vida, com certeza você vai encontrar alguma narrativa estabelecida pelo autor e identificá-la como algo muito ruim que você fez na vida. E sentir vergonha alheia.

É um livro que vai provocar dores internas. Fique avisado desde já.

Desde então, eu estou pensando muito nesse livro e na sua proposta principal. Apesar de não trazer em mim vários dos preconceitos apresentados pelo livro (que são institucionalizados em nossa sociedade, como por exemplo fazer piadinhas patéticas com negros e homossexuais – o que automaticamente dá a entender que os membros da dita sociedade branca cristã tradicional é superior), eu reconheço que carrego dentro de mim algumas das culturas tóxicas historicamente estabelecidas pelo brasileiro médio.

E a que mais me assusta é a cultura do ódio.

Isso não é nem cristão!

Quer dizer… não precisa ser cristão para ser uma boa pessoa, tá? Basta você não desejar trucidar o próximo, e já está de bom tamanho.

Na prática, eu não odeio pessoas. Não existe alguém que eu sinta o genuíno sentimento de ódio. Eu aprendi a ser indiferente às pessoas que eu não gosto, pois a indiferença em vários momentos machuca mais do que um soco na boca do estômago. E não faço cerimônias quando encontro alguém que eu não gosto: eu nem olho na cara.

Podem me chamar de mal educado. Mas aprendi com os meus pais que somos gentis e educados com quem é assim conosco.

O que eu realmente odeio? As posturas e atitudes.

Mesmo compreendendo que “errar é humano”, eu não posso aceitar o racismo, a misoginia, a homofobia e qualquer outra atitude que resulte na diminuição daquele que é diferente como um “erro”. No mundo de hoje, isso é abominável. O mundo civilizado não pode aceitar isso. Ao mesmo tempo, eu não tenho o direito de odiar aquele ser. Ou pelo menos preciso me esforçar para não me sentir estimulado a alimentar esse sentimento dentro de mim.

No final das contas, o livro “Todos contra todos: O ódio nosso de cada dia” me convida a refletir sobre as práticas cotidianas que promovem a divisão e o distanciamento das pessoas. O texto acaba me convidando a odiar menos. A olhar para o próximo com mais empatia.

Por diversas vezes eu ouvi a minha ex-esposa dizendo “domine a fera que existe dentro de você”, e só agora eu estou entendendo o que ela quer dizer. Ainda mais depois das eleições de 2018. Não adianta eu me revoltar com quem pensa diferente de mim, abraçando valores e posturas que vão contra tudo o que eu acredito como itens essenciais para ser uma pessoa boa e justa. Eu não posso me permitir desenvolver esse sentimento que só vai me envenenar, e não consertar o próximo.

O próximo, se é que será consertado, só vai mudar de ideia com amor, diálogo e compreensão.

Se bem que tem algumas pessoas que são burras mesmo, e não vão entender nada.

De qualquer forma… eu preciso parar de odiar as coisas. Não vale a pena.

Quem sabe eu pare de odiar a segunda-feira um dia. Por enquanto, eu continuo detestando, como a maioria dos brasileiros. Você vai descobrir quando foi que eu parei de detestar o dia mais nefasto da semana: quando eu parar de chamar segunda-feira de Los Hermanos.

E, antes de ir embora, eu tenho que me corrigir…

Se você ama as segundas-feiras, e consegue chegar ao trabalho pela manhã sorrindo e feliz da vida… você tem soluções!


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@oEduardoMoreira