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Gráfico prova que videogames sempre foram caros

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Todo mundo está falando do preço absurdo do PS5 Pro na casa dos US$ 700 (no Brasil, nada menos que 7 mil reais), e não podemos culpar essas pessoas. Há muito tempo um lançamento de console de videogame recebe um preço tão elevado.

E… antes mesmo de continuar… já vamos retirar esse elefante branco enorme da sala de cristal e deixar muito claro que este artigo não existe para tentar passar pano ou justificar o que a Sony fez com o preço do PS5 Pro.

Vamos estabelecer como regra que ele é caro pela própria natureza, e nada do que eu disser nos próximos minutos vai mudar isso. Certo?

Mas… apenas como recurso narrativo… será que sempre foi assim?

Bom… o título desse artigo responde essa pergunta, e tudo o que preciso fazer nos próximos minutos é apresentar argumentos que justificam o questionamento e a própria existência do texto que você está lendo.

Caso contrário, vou apenas gastar o meu tempo. E o seu também.

 

A percepção dos preços

 

Nossa percepção de valores de presente não leva em consideração a inflação, que sempre afetou nossas vidas. E isso nos impede de entender que os videogames sempre foram produtos muito caros.

Na infância, não sentimos o peso do preço das coisas porque não tivemos a menor ideia do quão caro elas já foram. É quando alcançamos a vida adulta e aprendemos a dor que é pagar boletos mensais no cartão de crédito é que percebemos que dispositivos de tecnologia de um modo geral e videogames em particular são caros.

Entender que US$ 500 no passado não valiam o mesmo que US$ 500 no presente é fundamental para compreender o real valor de tudo na época de nossos pais, ou até mesmo do meu tempo de infância e adolescência. E no setor de videogames, os valores sempre foram muito elevados.

Historicamente, a indústria de videogames sempre cobrou um rim de todo mundo no lançamento de novos consoles. E dá até para fazer um “mea culpa” nesse momento, pois eu só exigia dos meus pais que o produto estivesse em casa, mas sem sequer imaginar o quão complexo era para eles conquistar o dinheiro para que o item aparecesse ao lado da televisão.

E… mesmo assim… a Sony consegue ter um legado próprio nessa história de preços elevados para os seus consoles de videogames.

 

A Sony possui um legado só dela neste aspecto

O legado da Sony em relação aos preços de lançamento dos consoles é algo singular. Sempre foram produtos caros desde o lançamento do primeiro PlayStation a US$ 299. E como já estabelecemos a regra do “temos que colocar a inflação para determinar o real valor de tudo”, é fácil concluir que esse console já era absurdamente caro quando ele foi lançado em 1994.

É bem simples de entender: se hoje qualquer coisa que custa US$ 299 é considerado salgado para a maioria dos meros mortais, imagine há 30 anos atrás, colocando doa a inflação acumulada ao longo do tempo.

Aqui no Brasil, o PlayStation original era caro, e nunca foi lançado oficialmente. Porém, nunca ficamos sabendo que esse console nos EUA custou o equivalente a US$ 613 atuais.

É por isso (também) que os US$ 499 cobrados pelo PS3 chamaram a atenção (negativamente) na época do seu lançamento Nem mesmo as novas tecnologias que a Sony incluiu no console, como o leitor de Blu-Ray, não eram (para muitos) justificativas para o preço de um produto que, hoje, custaria US$ 780.

Ou seja, o lançamento do PS5 Pro, que custa US$ 699 sem suporte para leitor de mídia física ou base para posicionamento na vertical, é só mais um produto que entra nesse histórico negativo da Sony no lançamento de seus produtos.

E tudo isso (insisto, pois tem gente com audição seletiva neste caso) não muda o fato de que o PS5 Pro é um dos consoles mais caros já lançados. Dentro da própria Sony, só perde mesmo para o PS3 quando ajustado pela inflação.

O que pode realmente surpreender a você é saber que o PS3 não é o lançamento mais caro da história dos videogames.

 

 

Quando reajustamos pela inflação…

Para entender a evolução dos preços nos consoles de videogames, comparar os preços com os devidos ajustes em função da inflação é a regra mais justa para conseguir visualizar o cenário como um todo.

Que o PS5 Pro é caro, não resta dúvidas. Mesmo com todas as correções monetárias, ele supera o valor cobrado por todos os seus principais concorrentes na Microsoft e na Nintendo.

Aliás, a Microsoft foi quem melhor entendeu que não ganharia dinheiro na venda de consoles, e subsidiou vários dos seus lançamentos para conquistar jogadores.

Isso faz com que a nossa percepção sobre os preços dos consoles Xbox mude, pois alguns dos modelos lançados eram bem menos caros do que nossa memória se lembra.

Por outro lado, também precisamos compreender as respectivas posições da Sony e da Microsoft no mercado de tecnologia.

Enquanto a Sony tem no PlayStation um dos seus principais produtos (se não for o principal hoje, já que no segmento de smartphones ela só está pra valer no Japão e em outros setores de eletrônicos a empresa abandonou vários dos principais mercados globais), a Microsoft tem no Xbox apenas uma de suas divisões entre várias que dão muito dinheiro para ela.

A mesma Microsoft, que considerou acabar com o Xbox (mas felizmente repensou a ponto de agora planejar lançar um console portátil com a marca), é muito maior que a Sony, contando com dinheiro (quase) infinito para manter o seu negócio de videogames muito mais sustentável.

Dessa forma, a Microsoft “pode se dar ao luxo” de cobrar menos pelos consoles Xbox.

Dito tudo isso… o ranking histórico dos consoles de videogames mais caros da história não tem a Sony como líder, por incrível que pareça.

Produtos como o Atari 2600 (US$ 1.020) e o Intellivision (US$ 1.193) chegaram ao mundo com preços simplesmente proibitivos. E até dá para entender o que acontece neste caso.

Estamos falando de dois dos primeiros consoles de videogames da história que alcançaram o grande público. Eram produtos inovadores, de vanguarda. Logo, iriam custar muito mais caros naturalmente.

O Brasil só teve o registro de receber o Atari por preços competitivos porque várias de nossas empresas de eletrônicos decidiram fazer engenharia reversa e “piratear” a fabricação desses consoles. A mesma regra foi adotada para os clones do Nintendo.

Isso acontecia porque o Brasil tinha uma política estúpida de protecionismo da indústria nacional, que só prejudicou o consumidor final. Por outro lado, estimulou de alguma forma a inovação, já que empresas como CCE e Gradiente se valeram da criatividade para driblar a legislação da época.

Voltando para o ranking histórico de consoles de videogames.

Os líderes absolutos desse ranking indigesto estão da década de 1990, que também recebeu produtos que sofreram com a regra do “a inovação cobra o seu preço”.

O 3DO da Panasonic (US$ 1.510) e o Neo Geo (US$ 1.552). O primeiro saiu na frente entre os consoles que usaram o CD como fonte de mídia física, e o segundo oferecia gráficos e performance de jogos de fliperama (ou arcades) dentro da casa do jogador.

E mesmo com todas as inovações, não explicavam de forma alguma os preços abusivos que cobravam dos jogadores. Ninguém tinha esses consoles em casa, e quem queria jogar tinha que ir até uma (corajosa) locadora para ter uma chance de experimentar essas tecnologias.

Não resta dúvidas que o fator preço foi o que fez com que esses dois consoles fracassassem em vendas ao redor do mundo.

Olhar para os preços desses produtos e como a inflação afetou os valores ajuda a entender como foi a história evolutiva dos videogames.

Só não sei se consola os fãs da Sony que gostariam de pagar menos pelo PS5 Pro.

 

O ranking de preços dos consoles de videogames (corrigidos pela inflação)

  1. Neo Geo (1990) – US$ 1.552 (SNK)
  2. 3DO Interactive Multiplayer (1993) – US$ 1.510 (3DO)
  3. Intellivision (1980) – US$ 1.193 (Mattel)
  4. Atari 2600 (1977) – US$ 1.020 (Atari)
  5. PlayStation 3 (2006) – US$ 918 (Sony)
  6. Atari 5200 (1982) – US$ 864 (Atari)
  7. Xbox Series X (2020) – US$ 860 (Microsoft)
  8. PlayStation 5 (2020) – US$ 845 (Sony)
  9. PlayStation 5 Pro (2024) – US$ 699 (Sony)
  10. Xbox One (2013) – US$ 664 (Microsoft)
  11. Turbo Express (1990) – US$ 586 (NEC)
  12. NES (1985) – US$ 576 (Nintendo)
  13. ColecoVision (1982) – US$ 564 (Coleco)
  14. Master System (1986) – US$ 571 (Sega)
  15. PlayStation 2 (2000) – US$ 556 (Sony)
  16. TurboGrafx-16 (1989) – US$ 503 (Hudson Soft & NEC Home Electronics)
  17. Sega Genesis (1989) – US$ 477 (Sega)
  18. SNES (1991) – US$ 459 (Nintendo)
  19. Atari Lynx (1989) – US$ 451 (Atari)
  20. PlayStation (1994) – US$ 449 (Sony)
  21. Xbox 360 (2005) – US$ 447 (Microsoft)
  22. Game Gear (1991) – US$ 347 (Sega)
  23. Atari 7800 (1986) – US$ 402 (Atari)
  24. Dreamcast (1999) – US$ 365 (Sega)
  25. Xbox (2001) – US$ 361 (Microsoft)
  26. GameCube (2001) – US$ 359 (Nintendo)
  27. Wii (2006) – US$ 323 (Nintendo)
  28. Game Boy (1989) – US$ 225 (Nintendo)


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