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IA em entrevistas de emprego: inovação ou fraude?

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A história de Chungin “Roy” Lee, estudante de ciência da computação da Universidade de Columbia, ilustra bem os desafios éticos e práticos do uso de inteligência artificial (IA) em entrevistas técnicas.

Com apenas 21 anos, Lee desenvolveu uma ferramenta de IA para auxiliá-lo em testes de programação durante um processo de seleção da Amazon. A solução permitia resolver problemas complexos em tempo real, algo que considerava essencial para competir por vagas em gigantes da tecnologia.

Lee foi aprovado, mas recusou a oferta de emprego da Amazon, revelando que o objetivo era testar sua invenção. O episódio, porém, teve consequências: um vídeo da entrevista postado em seu canal no YouTube (posteriormente removido) e a divulgação pública de sua ferramenta chamou a atenção de sua universidade e de empresas do setor.

 

A reação da Universidade e o debate ético servido

Lee argumenta que os testes técnicos das grandes corporações são “teatrais” e pouco representativos do trabalho real de um programador. Para ele, memorizar soluções para problemas aleatórios é uma prática desgastante e ineficaz.

Sua ferramenta, segundo ele, não é trapaça, mas sim uma forma de otimizar processos já existentes. “Hoje, todos programam com ajuda da IA”, afirmou à CNBC, destacando que sua abordagem apenas reflete a realidade do mercado.

A Universidade de Columbia, no entanto, não viu com bons olhos a iniciativa de Lee. Dias após a entrevista, ele foi notificado para uma audiência disciplinar, acusado de violar normas acadêmicas ao usar a IA como “suporte” em avaliações externas.

A instituição, em comunicado, expressou preocupação com a colaboração histórica entre a universidade e empresas como a Amazon, sugerindo que casos como o de Lee poderiam comprometer parcerias importantes.

O estudante, por sua vez, transformou a polêmica em oportunidade: criou uma empresa para oferecer sua ferramenta a outros candidatos. A decisão obviamente dividiu opiniões: enquanto alguns defendem que o uso de IA é legítimo — desde que declarado —, outros veem como uma forma de burlar regras.

Nas redes sociais, internautas debatem se a IA é uma aliada na resolução de problemas ou uma ameaça à integridade dos processos seletivos. Um usuário comparou o uso da IA ao ato de “pesquisar no Google”, prática já aceita em entrevistas presenciais.

 

É o fim das entrevistas remotas?

A controvérsia envolvendo Lee não é isolada, e várias empresas estão reconsiderando seus métodos de avaliação e contratação em função do episódio.

O Google é uma dessas empresas.

Durante uma reunião interna, Sundar Pichai, CEO da empresa, sugeriu que as entrevistas técnicas passem a ser realizadas presencialmente. A medida visa garantir que os candidatos demonstrem habilidades reais, sem interferência de ferramentas automatizadas.

O movimento contrasta com a própria dependência do Google em IA: cerca de 25% do código produzido pela empresa já é gerado por inteligência artificial, e a contradição evidencia a complexidade do tema.

Se a inteligência artificial é reconhecida como uma ferramenta para a produtividade, por que ela não pode ser aceita para as avaliações dos profissionais? Seria o medo de distorcer a análise de competências do ser humano em entrevista de emprego?

É um pouco confuso.

 

O futuro da IA nos processos seletivos

O caso de Roy Lee e as mudanças nas políticas de contratação do Google levanta uma questão: até que ponto a IA deve ser integrada aos processos seletivos?

Para especialistas, a resposta depende do equilíbrio entre inovação e transparência. Ferramentas de IA já são usadas para filtrar currículos (via ATS) e simular respostas em entrevistas, mas seu uso ativo durante testes técnicos ainda é um tabu entre os contratadores

As empresas precisarão redefinir seus critérios de avaliação, focando menos em memorização e mais em habilidades práticas e criativas.

Já os candidatos, como Lee, defendem que a IA é parte natural da evolução tecnológica. “Se as empresas querem testar nossa capacidade de resolver problemas, por que limitar as ferramentas que usamos?”, questiona o nosso protagonista.

Fato é que a linha entre inovação e engano nunca foi tão tênue. E, com a IA cada vez mais presente, adaptar-se será essencial para empresas e profissionais.


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