Press "Enter" to skip to content
Início » Crônicas Cotidianas » Joana à francesa

Joana à francesa

Compartilhe

Joana era francesa. Mas tinha um nome abrasileirado. Joana.

Joana queria viver “à francesa”, mas não sabia como fazer ou como começar. Poderia simplesmente começar a caminhar pelas ruas de Paris numa tarde de outono de quinta-feira, se sentar em um sofisticado bar na Champs-Élysées para tomar o café e, assim, ficar mais esperta sobre olhares interessantes que seriam lançados para o seu discreto vestido preto. Ou tomar uma taça de vinho para se inspirar e lançar olhares para os rapazes que caminhavam apressados, voltando dos escritórios.

Porém, Joana acreditava que não tinha mais idade para lançar e receber olhares. Optou por ser uma dama da alta sociedade, o que automaticamente a impedida de viver “à francesa”. E, antes de continuar, não me entenda mal, amigo leitor: não quero aqui dizer que toda mulher francesa é propensa a aventuras, mas é inegável que as francesas são algumas das mulheres mais insinuantes e sugestivas do mundo.

Logo, o que Joana queria era sugestionar a alguém que a notasse ali naquele bar que ela estava fisicamente só, que se sentia só na vida há muito tempo, e que tudo o que ela mais queria era coragem para ir além do status quo de ser uma senhora comportada. Deixar a dama em casa atendendo os afazeres da vidinha monótona para… viver “à francesa”.

Primeiro, Joana pediu uma água. Tudo porque a sua vida parecia meio insípida nos últimos anos, mas também porque ela precisava de água para viver. E enquanto bebia a Perrier em goles lentos, refletia sobre a sua próxima decisão: o café ou o vinho.

O café simbolizava a racionalidade que Joana sempre teve ao tomar decisões afetivas. O namorado sincero, o noivo carinhoso, o marido honesto e bom pai dos filhos. No final das contas, depois de tantos anos, o café esfriou, ficou amargo, e o marido a trocou pela secretária 30 anos mais nova que ela.

Já o vinho representaria a ousadia que Joana sempre quis ter. O calor na face que a bebida alcoólica traz, o que ajudaria a explicar o rubro do rosto em uma possível abordagem. O frio no estômago que logo se converteria em um fogo interno. O gosto da aventura em uma bebida sofisticada.

Joana fechou os olhos, e sentiu a brisa fria do outono parisiense batendo em seu rosto. Parecia um sinal do vento indicando que o tempo é agora. Que chegou a hora de se decidir. Pensou em quantos cafés foram necessários para ela abraçar a ideia que a sua felicidade dependia dela mesma, por mais que o medo invadisse a sua alma.

Joana estava entendendo que viver com medo era como não viver.

Ela chama pelo garçom. Pede uma taça de vinho. O melhor vinho da carta daquele bar.

Cinco minutos depois, ela recebe uma garrafa do vinho solicitado. Joana reclama, alegando que o pedido veio errado.

Então, o garçom que a atendeu reforça que não houve nenhum engano. E acena para um dos extremos do bar.

Joana então vê um elegante homem na casa dos 45 anos, bem vestido, com um sorriso simpático, olhando em sua direção.

E só então Joana se dá conta que, enquanto decidia entre o café e o vinho, cruzou as pernas várias vezes. Algo que chamou a atenção do seu admirador… que decidiu prestar atenção naquela senhora usando um discreto vestido preto.

Um brinde para a Joana, que escolheu a bebida certa em uma quinta-feira de outono em Paris. E, assim, começou a viver “à francesa”.


Compartilhe
@oEduardoMoreira