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Max Verstappen é mesmo melhor que Ayrton Senna?

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Fãs de Ayrton Senna… eu consigo sentir como vocês estão irritados com o Gerhard Berger. E é quase certo que alguns dos fãs de Max Verstappen estejam se perguntando “quem é esse tal Burguer que falou do Max?”.

Para acalmar os dois lados (ou quem sabe iniciar uma pequena guerra até o início de uma nova temporada), venho aqui apresentar alguns pontos que entendo serem justos e plausíveis para uma análise totalmente imparcial e calcada nos fatos.

Pontos que ajudam a explicar por que Gerhard Berger tem algum fundo de razão ao afirmar que Max Verstappen já está melhor que Ayrton Senna.

Eu também não gosto muito da afirmação. Mas não é uma opinião tão absurda assim.

 

O que Gerhard Berger disse?

Em uma conversa com Tom Clarkson, jornalista que é o entrevistador oficial da Fórmula 1, Gerhard Berger afirmou o seguinte:

“Max é inacreditável, e talvez até melhor que Ayrton. Mas não é uma questão de talento. Não acho que Max seja mais talentoso. É o simulador. Na época de Ayrton, isso não existia. Hoje, Max pratica diariamente no simulador, o que fortalece a repetição e a memória muscular. Isso o torna um piloto de corrida melhor.”

Clarkson compartilhou a fala no podcast Pelas Pistas, conduzido por Thiago Alves, Christian Fittipaldi e Nelson Piquet Jr.

E aqui, temos várias camadas que precisam ser analisadas.

 

Berger realmente disse isso?

Muito provavelmente sim.

Clarkson não ia arriscar o seu prestígio dentro da Fórmula 1 para compartilhar uma fake news para um podcast nacional.

Como homem adulto com um QI acima de 90, ele jamais cometeria a burrice de acreditar que, em plena era da internet, uma declaração feita em um podcast para o YouTube no Brasil não teria uma repercussão global.

Logo, temos que partir do princípio de que Gerhard Berger realmente fez tal afirmação. E aqui, ainda vale o “teria dito”, já que não é o piloto que falou, e sim, o jornalista.

Mesmo assim: é o tipo de afirmação que pode ser desmentida ou confirmada com facilidade: basta alguém procurar Gerhard Berger em algum canto da Áustria ou Alemanha e perguntar para ele: “é sério que você disse isso?”.

Não creio que o ex-companheiro de Senna na McLaren teria algum problema ou constrangimento ao responder mais uma vez a pergunta.

Não estamos falando de nenhum segredo de estado neste caso.

 

Gerhard Berger disse alguma besteira aqui?

A resposta é um contundente NÃO, fãs de Ayrton Senna.

Tal e como acontece com tudo nessa vida, existe contexto e perspectiva na fala do Berger.

E eu sinto que estou jogando um discurso no vazio, pois quem está criticando o piloto pela sua opinião sabe muito bem quem ele é e o que ele foi na Fórmula 1.

Gerhard Berger foi companheiro de Ayrton Senna na McLaren entre 1990 e 1992, e se tornaram amigos por conta desse vínculo.

Antes e depois de Senna, o austríaco construiu uma carreira sólida na Fórmula 1, com passagens em equipes como Benetton e Ferrari. Conquistou 10 vitórias, 48 pódios, 12 poles e 21 voltas mais rápidas em 211 corridas disputadas.

Ou seja, ele passa bem longe de ser um cabeça de bagre. Se for assim, Rubens Barrichello também é.

Nunca foi um gênio da categoria, e nem se propôs a ser. Porém, é meio injusta a comparação pejorativa com Valteri Bottas.

Dito tudo isso… Gerhard Berger tem aquilo que praticamente 100% daqueles que estão criticando sua opinião não tem: a perspectiva de quem colocou a bunda em um assento de um carro de Fórmula 1 e correu de verdade pelo menos uma vez na vida.

E não o achismo do jogador de PlayStation (já que simulador de verdade é o impossível Assetto Corsa, e todo mundo sabe disso).

 

As camadas da fala de Berger

 

Viúvas do Ayrton Senna, comecem a se acalmar logo de cara, na primeira parte da resposta:

“Max é inacreditável, e talvez até melhor que Ayrton”.

De acordo com o jornalista que contou o caso no podcast brasileiro, Gerhard Berger não demonstrou ter sua opinião calcada em certezas ou verdades absolutas.

Ele coloca um “talvez”. Uma condicionante. Pois para ele (Berger), é difícil mensurar qual dos dois é o melhor.

Para definir a questão, Berger se vale de um fato OBJETIVO, já que uma subjetividade de avaliação poderia ser injusta: ele usa o elemento simulador.

E ele tem um ponto neste caso.

Por mais que nas décadas de 1980 e 1990 os testes dos carros fossem praticamente ilimitados e infinitos, nada se compara ao monstruoso volume de dados que um simulador pode coletar.

Em 2025, uma equipe de Fórmula 1 sabe o que acontece em cada centímetro de cada pista do calendário, com exceção daquelas que tiveram o asfalto recapeado de um ano para outro.

Há 30 anos atrás, a telemetria não chegava perto dos níveis que temos hoje. Sim, os dados eram coletados, mas colocando em perspectiva, seria o mesmo que pedir para uma calculadora normal (e não uma científica) fazer essa tarefa hoje.

Então, os pilotos atuais não apenas passam milhares de horas em simuladores, mas contam com um volume de dados tão grande, que o processo de evolução em pista é muito mais acelerado.

E Berger deixa claro isso quando diz:

“Mas não é uma questão de talento. Não acho que Max seja mais talentoso. É o simulador.”

De fato, essa é uma verdade absoluta (e… pelo amor de qualquer coisa, fãs de Max Verstappen… tentem não amaldiçoar o corpo e a alma da minha mãe neste momento, pois ela está com Mal de Alzheimer e não pode se defender da falta de educação e machismo de vocês…): Senna era muito mais talentoso.

Max Verstappen era rápido, habilidoso e destemido. Mas errava demais, era inconsequente e imaturo demais para conduzir um Fórmula 1 como um futuro campeão.

Verstappen aprendeu tudo isso ao longo do tempo, evoluiu, se tornou um top driver e, mesmo assim, levou mais tempo que Senna para vencer a primeira corrida e conquistar o primeiro título da categoria.

Já Senna atraiu os holofotes do mundo logo de cara.

Todos falam da performance histórica no dilúvio de Mônaco, mas se esquecem que os primeiros pontos de Senna com a Toleman foram registrados logo na segunda corrida, no GP da África do Sul.

Senna venceu a primeira corrida já no segundo ano, com uma Lotus que não era o carro mais rápido do grid. Era Ayrton quem se colocava entre os ponteiros com as poles.

O que Ayrton Senna fez ao longo de dez anos marcou história na Fórmula 1. Pela forma em como tudo foi conquistado, e em como ele entregou talento genuíno para vencer.

Não foi apenas o MP4-4.

De forma definitiva, sem Ayrton Senna, jamais existiria Max Verstappen.

Ponto final.

Mas… então… por que diabos Gerhard Berger tem razão?

 

Verstappen, uma evolução de Senna

Dizer que Max Verstappen não é mais talentoso que Ayrton Senna é uma verdade. Mas isso não quer dizer que o piloto holandês não tenha talento algum.

E eu tenho que reforçar isso para aqueles com ouvido e olhos seletivos.

Max Verstappen é o símbolo máximo de uma geração de pilotos que será lembrada por ser uma das mais talentosas, se já não for a mais capacitada da história da Fórmula 1.

O holandês liderou uma geração de pilotos que começaram muito cedo a competir dentro e fora das pistas. O primeiro simulador de Verstappen foi o videogame, e isso já dá uma enorme vantagem para ele em relação à Senna.

Muitos afirmam que a tecnologia deixa tudo mais fácil para os pilotos de agora. Porém, se esquecem que essa geração consegue trabalhar com essa mesma tecnologia muito melhor do que a geração de Senna, Berger, Prost, Piquet, Mansell e derivados.

Max nasceu com a tecnologia. Cresceu com ela. Evoluiu o seu estilo de pilotagem em função do funcionamento dos carros atuais.

É evidente que ele é melhor que Senna dentro desse contexto. E isso não é nenhum absurdo. É uma realidade baseada em fatos concretos.

Outra afirmação absurda é a do “o Senna seria campeão com um pé nas costas com os carros de hoje…”.

O tio Celso, que dirige um Celta 1.0 2014 duas portas até hoje, ignora completamente é que… os carros das décadas de 1980 e 1990 são ABSURDAMENTE DIFERENTES em relação aos carros de 2025.

Alguns especialistas afirmam que o estilo de pilotagem de Senna não seria adequado para os carros atuais, justamente por conta das diferenças de comportamento, tamanho dos pneus, efeito solo, trabalho de suspensão e amortecedores, DRS e vários outros componentes que, hoje, funcionam de forma muito diferente que no passado.

Vários pilotos que passaram mais de uma década na Fórmula 1 sofreram do mesmo efeito: as mudanças e transformações nos regulamentos e características dos carros impactavam na sua capacidade de condução e performance.

Podemos dizer isso do próprio Senna, que sentia dificuldades em se adaptar à uma Williams que ficou instável sem os aparatos eletrônicos abruptamente retirados do regulamento de um ano para outro.

Michael Schumacher teve o mesmo problema a partir de 2005, quando o regulamento foi alterado inclusive para frear o domínio da Ferrari. O alemão fez o que pode, mas sentiu mais as mudanças, em contraste com um Fernando Alonso, em ascensão na Renault.

Aliás, o mesmo Schumacher não foi nem a sombra do que era na Mercedes, depois de quatro anos parado e um carro bem diferente do que ele conhecia em vários aspectos. Aliás, o salto evolutivo entre 2006 e 2010 na Fórmula 1 foi enorme.

Nos casos mais recentes, Sebastian Vettel no final de sua carreira, e Lewis Hamilton desde a atual mudança de regulamento em 2022, entregaram performances abaixo do que se esperava deles.

Agora… combine tudo isso às horas de simulador, às toneladas de dados que as equipes possuem e ao talento…

…e concluímos que Gerhard Berger não disse nenhum absurdo ao afirmar que TALVEZ Max Verstappen seja melhor que Ayrton Senna.

Considerando o contexto aplicado, muito provavelmente é sim.

Porque tudo nessa vida evolui.

E sempre vão aparecer versões melhores de alguém no futuro.

Lembrando sempre que: MELHOR não quer dizer MAIOR.

Senna ainda está com relativa facilidade na frente do Verstappen na lista dos maiores de todos os tempos. Se Max chegar em Fangio com o quinto título, aí afirmo que passou o brasileiro.

Mas vou esperar que isso aconteça um dia, só para iniciar um novo artigo sobre o assunto.


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