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Na boa… Homeland é realmente uma série racista?

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Acho que depois de cinco temporadas de uma série, qualquer pessoa com o minimo de bom senso já entende qual é a proposta geral de sua narrativa. Não dá para chamar de inocente uma pessoa que acompanha Homeland (Showtime) por cinco anos, e só agora taxar a série de certas coisas, apenas por conta de pequenos detalhes estéticos ou conceituais.

Algo semelhante aconteceu recentemente com Game of Thrones (HBO), com a famosa “cena do estupro”, onde nem o estupro em si aparece (fica sugestivo na narrativa da série). Muitos desses que se chocaram com isso “aceitaram” (ou de certo se esqueceram) que logo no primeiro episódio tem uma cena onde uma criança é jogada de uma torre.

Para isso ninguém fala nada? Ou só se lembram que Game of Thrones se passa em uma época onde as coisas eram resolvidas na base da espada e machado quando lhe convém?

O mesmo se aplica à Homeland. Desde a sua primeira temporada, um dos objetivos dessa produção foi não só despertar a discussão sobre as questões da segurança nacional que norteiam os Estados Unidos de tempos em tempos, mas principalmente provocar. Levantar os dois lados da questão de forma que o telespectador se pergunte sobre a validade e justiça de tudo aquilo. Em várias oportunidades, Homeland mostrou que os norte-americanos não eram nada bonzinhos, e que não estavam no lado certo.

É claro que tem sempre aquele aspecto da lei de ação e reação. Em várias vezes, Homeland também mostrou que as células terroristas tinham motivações pessoais para se vingarem das forças de inteligência norte-americanas. Não que isso não seja verdade, mas essa é uma forma de “romantizar” toda a situação, além de tentar apresentar motivos torpes para ataques terroristas.

Em compensação, em certos momentos, os ditos terroristas realizaram investidas baseadas nos seus fundamentos religiosos e políticos, e isso torna Homeland mais próxima dos parâmetros da realidade de momento. Tudo isso acaba dando crédito à Alex Gansa e sua equipe de roteiristas.

Mas a grande questão é: Homeland é uma série racista?

A resposta é bem óbvia para mim: NÃO!

Ao longo de décadas, as produções norte-americanas trataram as forças de inteligência do país como os grandes heróis do mundo. E Homeland não seria diferente, mesmo com as observações que eu fiz acima, onde a própria narrativa da série mostra claramente que nem sempre eles são os heróis. Se olharmos para trás, no período da Guerra Fria, os soviéticos eram tratados como inimigos declarados. Recentemente, os norte-coreanos também foram considerados os grandes vilões da mídia.

O caso do grafismo na série é praticamente uma ervilha dentro de uma feijoada. As pessoas se esquecem que existe uma coisa chamada “ambientação”, onde elementos cênicos são inseridos para trazer um maior grau de fidelidade à história que é narrada. Ou vai me dizer que naquela região esse tipo de coisa não é visto ou escrito nas paredes? Ou vai me dizer que aquela não é a realidade daquele povo?

Se bobear, é a realidade do Brasil também, salvo as suas devidas proporções.

Entendo que esse acontecimento em Homeland só fez esse barulho todo porque vivemos em um mundo globalizado, onde o politicamente correto impera. Uma série de TV não necessariamente existe para expressar opiniões de um canal, de roteiristas e produtores sobre determinados acontecimentos de uma região do planeta. Estamos falando de uma história de ficção, que pode sim ser baseada em fatos reais, ou em um cenário político do momento.

Cenário este que a grande maioria das pessoas não tem acesso. Seja pela ausência de uma cobertura jornalística adequada, seja pela falta de informação, ou seja pelo desinteresse geral do grande público. Independente dos motivos, se Homeland opta por abordar esses temas, não necessariamente isso significa uma opinião oficial e política sobre o assunto. É apenas uma narrativa fictícia.

A não ser que os árabes tenham algo a esconder.

Aliás, as pessoas não são obrigadas a pautarem suas opiniões sobre o mundo a partir do conteúdo exibido em uma série de TV. As pessoas ainda podem optar por pensarem por si, buscarem os fatos como eles acontecem, e se informarem sobre o que realmente está acontecendo em diferentes locais do planeta. E a partir daí, formar a sua opinião. Baseado em fatos, e não em uma obra de ficção que se inspira nos fatos.

Entendo que Homeland está “na sua”. Não tem que contar a sua história com o receio de desagradar esse ou aquele país. Tem que provocar sim. Tem que apresentar os fatos sim. Tem que estimular a discussão sobre o que está errado no mundo E nos Estados Unidos. Nesse aspecto, a série sempre teve a coragem de fazê-lo, com maior ou menor eficiência.

E todo o barulho feito por conta de um grafismo da produção é absolutamente desnecessário.


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@oEduardoMoreira