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Notebook rebelde, ou quando “desligar o sistema operacional” é apenas um conceito

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Era uma típica noite de quinta-feira. Na TV, mais um Thursday Night Football horroroso chegava ao fim.

E no lugar de escrever aquele textão sobre como eu perco o meu precioso tempo assistindo aos jogos de quinta na NFL que saem do nada e vão para lugar nenhum, me vejo feliz por chegar ao final de semana com a minha sanidade mental em dia.

Afinal de contas, sobrevivi ao peso de um milhão de notificações ignoradas no smartphone ao longo dos dias, e naquele momento, só tinha uma última simples missão a ser executada: desligar o notebook, me desvencilhar da tela e, quem sabe, ler um livro de verdade antes de dormir.

Com um bocejo preguiçoso e a cerimônia habitual, cliquei em “Desligar” no menu do sistema operacional.

Mas, ao contrário do que qualquer manual de bom senso sugeriria, o notebook decidiu que não era o fim da nossa interação naquela noite.

E temos aqui mais um conto de terror tech começando.

 

Desligar? Jamais!

O ritual de encerramento das atividades do notebook começou normalmente: a tela escureceu, os ventiladores diminuíram a rotação, e aquele silêncio quase poético tomou conta da sala.

Foi quando, de forma absolutamente teatral, o logotipo do sistema operacional surgiu de novo como aquele primo chato que aparece justamente na hora que você vai sair com sua namorada para ver um filme no cinema.

Eu, incrédulo, observei a cena abismado, sussurrando para mim mesmo: “Você não fez isso, né, seu cretino?”

Ele fez.

O notebook reiniciou.

Não só reiniciou, mas me encarou, descaradamente, com a tela inicial, o cursor do Windows girando como um carrossel em provocação e a mensagem sádica:

“Atualizações estão sendo configuradas. Por favor, aguarde.”

Nem preciso dizer que o ódio tomou conta do meu ser, e tudo o que eu queria era berrar com aquele pedaço de placas de metal revestido por um plástico vagabundo.

Que parte de “desligar” se traduz para você como “reiniciar e decidir sozinho que é hora de atualizar”?

E eu tenho certeza de que mandei DESLIGAR o notebook, e não ATUALIZAR E REINICIAR o equipamento. São comandos bem diferentes.

E mesmo que fosse o caso: o Windows tem o comando de ATUALIZAR E DESLIGAR O COMPUTADOR… que, ironicamente, envolve sim uma reinicialização do equipamento antes de desligar por completo.

Minha paciência, já esgotada pelos bugs, problemas e pessoas chatas que fui obrigado a dialogar durante o dia, evaporou mais rápido do que café quente em um copo plástico.

 

Como acalmei a minha raiva neste caso?

A raiva subiu muito mais rápido quando me vi como refém observando o progresso agonizante das atualizações.

1%… 2%… Parecia que cada ponto percentual era cronometrado por uma tartaruga com jet lag. O sistema estava basicamente me dizendo: “Você vai esperar, e vai gostar.”

Tudo o que eu queria naquele momento era acelerar o processo de atualização e ir dormir sem cometer nenhum tipo de ato que ameaçasse a minha tão sagrada primeira instância.

Claro, decidi apelar para o “pai dos burros”, que naquele momento era o Google no celular.

Lá estava a infinidade de fóruns com títulos que pareciam saídos de uma reunião dos “usuários anônimos de notebooks desesperados por soluções criativas para problemas que não poderiam existir”.

E eu nem deveria estar zoando esse povo, pois naquele momento eu era um deles.

A parte mais divertida disso tudo são os títulos que você encontra no Reddit como pedidos de ajuda:

  • “Notebook reinicia sozinho após desligar: SOS!!!”
  • “O que fazer quando o Windows decide ser autônomo?”
  • “Ajuda: Meu PC me odeia.”

E as sugestões dos demais usuários eram ainda mais insanas que o próprio problema, o que mostra (mais uma vez) que a humanidade está perdida, e que tem muita gente que só quer escrever bobagens na internet para viralizar.

As dicas eram absurdas:

  • “Desinstale o driver da placa de rede.”
  • “Entre no BIOS e desative a opção de inicialização mágica.”

E o pobre coitado que criou o subreddit respondendo para o cidadão: “BIOS? Eu mal consigo lembrar a senha do Wi-Fi, e você quer que eu mexa no BIOS?”

Sério… ler essa interação surreal na internet fez com que meus níveis de raiva abaixassem gradativamente. Foi algo terapêutico.

Prometo fazer conteúdos sobre isso em algum momento no futuro.

Depois de um tempo, volto para a tela do notebook, e o progresso da tal atualização saltou milagrosamente de 26% para 100%, como se o notebook quisesse me fazer acreditar que estava “trabalhando duro”.

Mas como eu não posso ser feliz na vida…

O pior vem agora.

 

Tudo vira bosta

O notebook, da forma mais cretina do mundo, exibe essa mensagem:

“Não foi possível concluir as atualizações. Revertendo alterações. Não desligue o computador.”

Você está me dizendo que fez todo esse teatro, roubou meu tempo de leitura, e agora vai desfazer tudo, como se os últimos minutos da minha vida fossem um completo lixo para você?

Sabe aquela sensação de que o vilão venceu? Então… foi assim que eu me senti.

Quando finalmente consegui desligar o notebook – e dessa vez, foi desligar mesmo, e não um equívoco de comando do sistema operacional – fiquei encarando a máquina como se ela fosse uma sogra, daquelas bem insuportáveis.

E você já pode imaginar o que eu faria com aquela senhora, se não fossem as leis vigentes no Brasil.

Com o notebook, até poderia cometer atos impensados. Mas ele ainda é o meu principal dispositivo para trabalhar, ganhar dinheiro e contar essas histórias absurdas para vocês.

Minha relação com a tecnologia, definitivamente, se tornou como a de um casal em terapia. Cada um vê a sua verdade e age como lhe convém.

Naquele momento, percebi que “desligar” é apenas um conceito relativo no mundo dos sistemas operacionais.

E como um marido como outro qualquer, eu tinha duas alternativas:

  1. Ou obedecia ao notebook, calado e subserviente, só para não ter que passar por outra briga como essa;
  2. Ou procurava uma amante, um outro amor, ou alguém que me desse mais prazer na vida… em um notebook novo.

Os dois casos saem caro. Divorcio e manter uma amante envolve boas quantias de dinheiro.

E eu estou aqui, neste momento, olhando para a minha fatura de cartão de crédito.

Entendedores entenderão.


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