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Nunca foi sobre “A Última Ceia”

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Um pouco de conhecimento para os ignorantes. Vale inclusive para mim, que também confundiu alhos com bugalhos. Porém, diferente de algumas pessoas, não se ofendeu com nada.

Uma cena específica da tão criticada Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos Paris 2024 foi alvo de protestos de pseudo cristãos conservadores no Brasil e ao redor do mundo: a suposta reprodução do quadro “A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci.

Algumas pessoas com pobre capacidade cultural e cognitiva entenderam que a cênica no evento em Paris era uma forma de ofensa e blasfêmia à fé cristã. Muitos interpretaram com “escárnio” e “deboche” o fato de pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ supostamente ocuparem o lugar de figuras sagradas como Jesus Cristo e os apóstolos.

Então… e se eu contar que quem se sentiu ofendido é burro, pois não conseguiu sequer identificar qual era a obra de referência na cena?

 

“Eu nem estava falando de você”

Estamos diante de um caso de associação a partir de uma referência estética similar, mas não diretamente relacionada com a obra de referência.

Traduzindo o que escrevi no parágrafo anterior: parece, mas não é.

É óbvio que a cena apresentada na abertura dos Jogos Olímpicos lembra muito o “A Última Ceia”, pois existe uma certa semelhança.

Mas o fato de você parecer com a Giselle Bündchen não faz de você uma supermodelo e, principalmente, não te garante a cidadania alemã (graças a Deus, pois nem os alemães querem você no país deles).

O que muitos pseudo cristãos, católicos revoltados e hipócritas por natureza não perceberam (porque são burros) é que a obra de referência da cênica do evento em Paris NÃO ERA “A ÚLTIMA CEIA”.

Simples assim.

A obra em questão era “A Festa dos Deuses”, de Jan Harmensz van Bijlert. Esse quadro foi pintado no século XVII e está no Museu Magnin em Dijon, na França.

Em um país com uma cultura riquíssima, onde os Jogos Olímpicos acontecem em uma cidade com história milenar, fazer referências à cultura e arte é algo mais do que normal.

Assim como é algo absolutamente normal o brasileiro médio não entender todas as referências estéticas e culturais apresentadas naquela Cerimônia de Abertura.

E tudo bem com isso. São tantas referências culturais que apareceram em quatro horas, que absorver tudo isso logo de cara é algo muito difícil.

Só que nem a burrice nesse caso salva os ignorantes do preconceito manifesto pela burrice nos últimos dias.

 

Você está mentindo! É sim “A Última Ceia”

Calma, meu pequeno mentecapto que trai a esposa e relativiza o assédio de menores dentro da Igreja Católica…

Além do simples fato dos organizadores da Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos já confirmarem a referência de “A Festa dos Deuses”, existem pelo menos dois sinais mais do que evidentes de que não estamos falando da obra de da Vinci neste caso.

A primeira está na personagem central, representada pela DJ.

Ela está usando um baco. Não é a aura ou uma aureola em Jesus Cristo, uma vez que em “A Última Ceia” esse personagem está vivo e não morto.

Quem usa um baco em “A Festa dos Deuses” é Apolo, um dos deuses olímpicos. E, convenhamos, se alguém tinha que estar em uma cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, esse alguém era justamente ele.

A segunda referência é o cara pintado de azul no centro, dentro de uma bandeja cheia de uvas.

Essa pessoa que você chamou de forma ofensiva de “papai Smurf aviadado” é Dionísio, o motivo principal para a criação do quadro “A Festa dos Deuses”.

Dionísio é o deus do vinho e das festas, e a cena de “A Festa dos Deuses” mostra a sua chegada para a celebração projetada no quadro.

São pelo menos DUAS REFERÊNCIAS CLARAS ao quadro criado por Jan Harmensz van Bijlert.

Aliás, antes que eu me esqueça…

A “polêmica” cênica aconteceu durante o segmento “festividade” dentro do roteiro da Cerimônia de Abertura, onde uma plataforma suspensa no rio Sena virou uma pista de dança…

…e drag queens desfilaram animadamente ao som do eurodance.

E desconfio (só de leve) que foram as drag queens que irritaram os cristãos mais conservadores.

Afinal de contas, se a referência não era “A Última Ceia”, sobrou o que para os hipócritas se ofenderem?

 

Sim… você é homofóbico e burro!

Para quem se sentiu ofendido com algo que sequer fazia referência direta à sua fé, a verdade é uma só: você é burro e, acima de tudo, homofóbico.

Você é um doente, tanto nos aspectos morais como até mesmo nos religiosos. Sua fé é hipócrita e limitada, já que não só você não tem princípios cristãos na essência, como se esconde na religião para ter um caráter torpe.

E, diferente do seu achismo sobre a referência da “polêmica” cena que você sequer teve cultura para não entender as referências, eu tenho certeza absoluta do que estou falando sobre você e sua “convicção religiosa”.

Você é o pior tipo de cristão que pode existir: o falso cristão.

Provavelmente é o mesmo que finge não existir o assédio contra crianças dentro da igreja, que ignora avôs estuprando as próprias netas, que comete a infidelidade conjugal porque a “família tradicional tolera isso”, que acha que o papel da mulher na sociedade é mesmo abaixo do homem, ou que defende os preconceitos aos diferentes como “algo normal”.

Você não é digno de empatia. Você é digno de pena e desprezo.

A tentativa patética de diminuir a comunidade LGBTQIAPN+ “em nome da fé” sempre será combatida com informação e conhecimento.

No final das contas, a Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos Paris 2024 se torna cada vez mais genial que foi conforme o tempo passa.

Não apenas por apresentar uma “pequena revolução francesa” como um traço histórico de uma nação que abraçou a ideia de ser diferente.

Mas também por contribuir para escancarar a hipocrisia ignorante no mundo.

Legados se constroem também quando a cultura e a arte provocam os irracionais.


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