A BlackBerry foi uma das marcas de smartphones mais populares da década passada, especialmente no começo dos anos 2000. Foi ela quem definiu o que era um “telefone inteligente” em termos práticos, iniciando uma nova fase no mercado de telefonia ao redor do planeta.
Os telefones da marca eram símbolos de status e produtividade para profissionais do setor de tecnologia, usuários e aficionados do mundo tech, celebridades, executivos e líderes políticos que desfilavam em qualquer lugar ostentando os dispositivos com teclado QWERTY físico, que era impecável para mandar mensagens.
Tudo bem, eu sei que o iPhone chegou em 2007 e mudou tudo. Mas não é tão simples quanto parece. Algumas camadas da história da tecnologia ajudam a explicar o que aconteceu com a BlackBerry, e vale a pena gastar algum tempo explicando melhor este contexto.
A ascensão e o auge
A Research in Motion (RIM) foi criada por Mike Lazaridis e Douglas Fregin em 1984, e a empresa foi a responsável pelos telefones BlackBerry, que só chegaram ao mercado em 2002, com o BlackBerry 5810. Antes, a marca trabalhava com pagers.
Os modelos mais emblemáticos da marca foram o BlackBerry Pearl e o BlackBerry Curve, esse último inspirando com força o BlackBerry Bold, telefone premium da empresa.
Um BlackBerry se destacava principalmente pela presença do teclado QWERTY físico completo e pelo acesso à internet. Os dois elementos impulsionaram a popularidade dos seus telefones.
Os smartphones da BlackBerry eram vistos como uma ferramenta essencial para profissionais e executivos, não só por causa do teclado físico, mas também pelo acesso push a e-mails.
Era a primeira vez que qualquer pessoa poderia receber e responder a um e-mail de qualquer lugar, com uma agilidade maior do que a oferecida pelo teclado no padrão T9 dos celulares mais básicos.
E poder enviar mensagens para qualquer telefone BlackBerry de graça (sem pagar pelo SMS) chamou a atenção de muitos usuários de diferentes categorias.
Celebridades como Kim Kardashian, Katy Perry, Anna Wintour, Drake e Pharrell Williams sempre foram vistas com seus BlackBerrys na mão.
Mas quem mais impulsionou o uso do BlackBerry junto ao grande público foi o ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
Ele teve que convencer as agências de segurança e oficiais de inteligência do seu governo a permitir o uso do seu BlackBerry, algo que ele fez até 2016.
Aliás, Obama não foi só o primeiro presidente dos EUA a utilizar um telefone celular, mas foi o primeiro a instalar uma rede WiFi na Casa Branca.
Ou seja, esses smartphones com aparência profissional se tornaram objeto de desejo de qualquer usuário mais casual.
O resultado de tudo isso foi uma presença em massa da BlackBerr no mercado, com 20% de participação global no mercado de smartphones em 2009.
A queda
A chegada do iPhone em 2007 e a ascensão dos smartphones Android foram os dois principais fatores para determinar a queda da BlackBerry no mercado.
Muitos usuários foram atraídos pelas telas full-touch e propostas mais acessíveis de smartphones (ou mais atraentes, já que o iPhone sempre foi caro).
Aqueles 20% de cota de mercado em 2009 se transformou em menos de 2% no final de 2013. Uma queda livre que fez da BlackBerry um “esquecido no churrasco” da telefonia móvel.
Em 2018, depois de alguns anos apostando no Android como sistema operacional para os seus smartphones, a Research in Motion anunciou a sua saída do mercado de telefonia móvel.
E a consequência disso foi a morte dos smartphones BlackBerry.
A reinvenção da BlackBerry como empresa
A BlackBerry também era uma empresa especializada em softwares de segurança, e um dos principais atrativos do BlackBerry Messenger era justamente a sua capacidade de manter as mensagens mais protegidas de olhares alheios.
Porém, até mesmo o BBM perdeu popularidade com a chegada do WhatsApp, a ponto de deixar de existir em 2019.
De qualquer forma, a RIM aprendeu que poderia explorar comercialmente as suas soluções de segurança em software. E assim o fez, e segue viva até hoje.
No começo de 2024, os seus resultados financeiros eram melhores do que o esperado com o desenvolvimento de softwares e produtos de segurança cibernética para empresas de diferentes setores, incluindo soluções para carros.
A BlackBerry de hoje passa bem longe de ser a mesma empresa que fabricava smartphones, já que todo mundo optou por um iPhone ou Android.
Mas é uma competente empresa de segurança informática que, de alguma forma, se reinventou e aprendeu com os erros.
Jamais esqueceremos da lendária BlackBerry que nos entregou ao mundo o prazer de digitar em um smartphone com um teclado físico diminuto.
E algumas das minhas melhores amizades no mundo online começaram com mensagens trocadas no BBM.
E compreendo que a Research in Motion perdeu mesmo o bonde da história, tal e como fala o filme sobre a empresa que está disponível nas plataformas digitais.
Neste processo de “recordar é viver”, a história da BlackBerry é uma das mais interessantes e nostálgicas que você pode encontrar.
E só quem usou um BlackBerry sabe o que foi viver essa experiência na vida.
Mais do que interessante. Emblemática.