Início » Cinema e TV » O Auto da Compadecida 2 | 5 motivos para não ver no cinema

O Auto da Compadecida 2 | 5 motivos para não ver no cinema

Compartilhe

Não sou o tipo de pessoas que vem aqui de forma deliberada para criticar negativamente um filme.

Tá, já comecei mentindo. Mamonas Assassinas e Madame Teia desmentem o que eu escrevi no parágrafo anterior.

Porém, eu me vejo no dever de fazer o serviço de utilidade pública para que outras pessoas não percam o seu tempo com filmes que não precisam ser vistos no cinema.

E deixo bem claro que “O Auto da Compadecida 2” não é um filme objetivamente ruim. Ele não é o Kraven.

Mas é decepcionante. A ponto de você poder esperar tranquilamente pela sua estreia no Globoplay.

A partir de agora, cinco motivo para você nem tentar ver esse filme nos cinemas.

 

O interior da Paraíba “de estúdio”

O primeiro filme mostra de forma brilhante e viva o interior da Paraíba de forma viva e orgânica.

Você sentia o sol e a poeira. Você percebia o calor que fazia no local durante as filmagens. O sentimento de imersão era pleno.

Em “O Auto da Compadecida 2”, praticamente tudo foi feito em estúdio. E pior, com a complementação do CGI, que não teve nem muita força para disfarçar que estava lá.

Tudo bem, você precisa de uma certa suspensão de descrença para entrar naquela história. Mas… comparado com o primeiro filme, os resultados ficam aquém do desejado.

Parte da experiência de “O Auto da Compadecida 2” é aniquilada pelo excesso de cenas internas e total ausência de externas.

 

Não era o texto de Ariano Suassuna

Esse talvez seja o grande diferencial do primeiro para o segundo filme.

Para quem não sabe, “O Auto da Compadecida” é uma peça de Ariano Suassuna, uma das mais importantes do nosso país. Foi reproduzida por diversas vezes, e é uma das referências do nosso teatro.

E o primeiro filme é, basicamente, aquele mesmo texto. Ele consegue emular muito bem a construção narrativa do Ariano. Até mesmo as interpretações do elenco são afetadas por essa proposta.

No caso de “O Auto da Compadecida 2”, o texto é INSPIRADO na obra do Suassuna, mas não é o texto dele. E isso fica evidente nos diálogos e até na construção de narrativa.

Parte da experiência do primeiro filme se perde quando não temos aquele que realmente entende daquela realidade colocando as palavras na boca dos personagens.

E por falar em personagens…

 

Personagens novos que não agregam nada

“O Auto da Compadecida 2” oferece novos personagens para mudar a dinâmica da narrativa. Até mesmo retirando o foco em João Grilo e Chicó, o que é um erro.

Em alguns momentos, ou os novos personagens não acrescentam absolutamente nada à trama, com alguns plots saindo do nada e indo para lugar algum, ou são extremamente irritantes depois de 20 minutos de cena.

Interpretações que mais pareciam caricaturas do que a representação de um interiorano nordestino. E eu entendo que o tom teatral da obra original permite alguns exageros neste aspecto.

Porém, causou um certo desconforto ver alguns personagens com um comportamento que estava no limite (e ultrapassando o limite em alguns casos) entre o engraçado e o insuportável.

É claro que pelo lapso de tempo (quase 25 anos) seria muito difícil (ou melhor, impossível) trazer todos os personagens do primeiro filme de volta.

Mas faltou um certo trabalho de desenvolvimento dos novos personagens. No final, você não se importa com nenhum deles.

 

Roteiro e montagem horrorosos

É difícil de acreditar que “O Auto da Compadecida 2” contou com o mesmo time de produção e direção, pois o filme é muito ruim no seu roteiro e montagem.

A história é um arremedo de coisas sem pé nem cabeça, que aparecem e desaparecem de forma repentina. Diferente do primeiro filme, que foi construindo sua narrativa em escala e de forma progressiva.

Por conta disso, a montagem de “O Auto da Compadecida 2” é prejudicada, pois determinados acontecimentos que mostrariam uma progressão dos personagens são colocados de forma isolada ou aleatória.

O que, de novo, eliminou a conclusão de algumas narrativas, que ficaram sem resposta no final do filme.

Do meio para o final de “O Auto da Compadecida 2”, começou a me dar angústia ao perceber que, sim, os roteiristas iam cometer um grande crime narrativo.

 

O mesmo final

Eles não fizeram nem força neste caso.

“O Auto da Compadecida 2” tem EXATAMENTE O MESMO FINAL QUE “O Auto da Compadecida”.

Rigorosamente a mesma coisa.

É inacreditável como a preguiça imperou aqui, confirmando que o roteiro foi feito na base da preguiça, e que esse filme é sim um enorme caça níquel.

Nem mesmo o dilema ético de João Grilo faz sentido de existir. Afinal de contas, sua “amnésia” só existe para a sua passagem além-túmulo, e não para as coisas que ele fez na Terra.

Sem falar que tudo o que ele fez em uma existência é de conhecimento dos seus julgadores, inclusive com uma sentença sobre seus atos.

Ser julgado novamente sob o pretexto do “não sei o que é certo ou errado” e ignorando completamente que existe um livre arbítrio que, em partes, relativiza a consciência dos aspectos morais é algo totalmente incongruente.

Se você viu o primeiro filme, sabe o final do segundo.

Logo, não perca o seu tempo saindo de casa para ver “O Auto da Compadecida 2” nos cinemas.

Espera o filme estrear no Globoplay.


Compartilhe