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O CEO messiânico voltou

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Que Deus nos salve. Ou o Elon Musk. Quem vier primeiro.

É correto dizer que o Vale do Silício está passando por mais um período de transição. Os líderes de tecnologia estão abandonando a abordagem puramente técnica, adotando discursos visionários e messiânicos.

Parece que todo mundo decidiu “se inspirar” (ou copiar) Steve Jobs na cara dura. Ou todos voltaram às raízes, com a inovação sendo impulsionada por ideais considerados revolucionários.

É até interessante ver tudo isso. Mas… será que gostamos dessa mudança?

 

A crise incentiva a mudança de discurso

CEOs como Tim Cook (Apple), Satya Nadella (Microsoft) e Sundar Pichai (Alphabet), que antes eram vistos como tecnocratas focados em eficiência financeira e tecnológica, agora são superados por líderes que aspiram a moldar o futuro do planeta.

Dois exemplos dessa nova abordagem dos CEOs de tecnologia podem ser mencionados com facilidade: Jensen Huang da NVIDIA e sua chamativa jaqueta de couro e Elon Musk, da Tesla, X, Starlink e várias outras coisas que ele é dono.

Com a tecnologia se se expandindo além de smartphones e redes sociais e focando em áreas como Internet das Coisas, Inteligência Artificial e colonização espacial, o discurso de inovação messiânica cabe como uma luva para essas mudanças.

Mas… nada como uma crise para incentivar as mudanças, não é mesmo?

O retorno ao messianismo tecnológico de Steve Jobs (e, em partes, de Bill Gates também, que até hoje compartilha suas previsões de tempos em tempos) é impulsionado por três crises:

  • A perda de fé em processos graduais de inovação.
  • O esgotamento da inovação incremental.
  • A necessidade urgente de novas narrativas que expliquem o mundo contemporâneo.

Essa tríade de problemas força os CEOs a serem diferentes na promoção e visão de futuro sobre os seus produtos, como uma espécie de sinal de identidade própria quando comparados com os executivos do passado.

Enquanto Steve Jobs via a tecnologia como ferramentas criativas, Musk e Altman (por exemplo) apresentam visões apocalípticas e transformadoras sobre o futuro do trabalho e da humanidade.

Isso beira ao que vemos em determinados segmentos religiosos e políticos, e particularmente tento não me incomodar com isso.

Bom… quero dizer… tem o lance da política…

 

Visão messiânica se fundindo com ideologia política

Eu não sei se você percebeu, mas… o interesse dos líderes tecnológicos pela política só aumentou nos últimos anos.

Principalmente depois que a Rússia interferiu na eleição presidencial dos EUA em 2016 através do Facebook. Parece que todos os CEOs entenderam o que podem fazer com o poder que concentram nas mãos.

Os novos líderes tecnológicos desejam na verdade redefinir conceitos antes considerados como fundamentais, como o progresso do coletivo e a própria democracia.

Não se contentam em transformar a tecnologia com produtos e serviços. Querem torná-la uma visão de mundo.

Em alguns casos, até existe a ambição em resolver problemas globais, mas todas essas soluções são de engenheiros mais pragmáticos, e não de CEOs realmente interessados em ver o mundo melhor para todos.

Equilibrar a ambição com a humildade necessária para não colocar tudo a perder pode eventualmente reduzir os riscos associados ao messianismo tecnológico.

Mas é de se duvidar que Sam Altman, Elon Musk e Mark Zuckerberg sejam pessoas que contam com “humildade” como palavra de ordem em suas respectivas vidas.

Essas pessoas ignoram o fato que produtos como Google Glass e o Metaverso prometeram mundos e fundos, mas fracassaram miseravelmente.

A falta de modéstia deles pode decepcionar a milhões no futuro. Sem falar nas consequências graves de uma visão prepotente sobre o papel de cada um no mundo.

Sim. Eu sei. Sou pessimista. Mas também sou realista.


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