Imagine a cena: você, em um albergue, compartilhando um beliche com um mochileiro alemão que ronca como se estivesse competindo com um trator no nível de decibéis. Você está convivendo com esse completo desconhecido há três dias, e você não dorme há cinco noites.
As contas estão certas. Você ouvia o ronco do indivíduo dois dias antes de chegar no tal albergue. Sua vida de mochileiro até que vai bem, e você está pensando no próximo destino em sua aventura, com os US$ 10 que sobrou na sua carteira.
Mas… nenhum perrengue importa para você. Afinal de contas, você tem nas mãos o fantástico, espetacular e obscenamente caro Samsung Galaxy S25 Ultra, e entendeu que era mais fácil ser andarilho do que ficar sem o dispositivo que é franco candidato a melhor smartphone de 2025.
Pensa comigo: por que gastar com um endereço fixo quando você pode capturar cada detalhe da sua vida instável em impressionantes resoluções de cinema?
Quem sabe você não cria um canal para o YouTube e vive de gravar vlogs de suas andanças pelo mundo?
Se bem que… viver de AdSense é pior do que ser mendigo (e falo isso com conhecimento de causa).
Um andarilho com um Galaxy S25 Ultra
Estou supondo que você é sim um sem-teto, mas isso não quer dizer que não seja um “sem MacBook Air” para publicar seus posts e editar vídeos gravados pela câmera do smartphone.
Estamos criando aqui um cenário hipotético, onde você escolheu viver dessa forma como uma prioridade na sua vida. Ter o Galaxy S25 Ultra vai abrir mais portas para o seu mundo do que a porta do seu apartamento próprio.
Logo, entre um deslocamento e outro em uma grande cidade, você com certeza vai encontrar um café com Wi-Fi gratuito para poder “trabalhar”. E também estou colocando no campo da suposição que essa sua brincadeira de ficar postando vídeos de sua viagem no YouTube e TikTok seja mesmo o seu “trabalho”.
E isso porque você já considera vender o seu MacBook Air para levantar mais uma grana para fazer aquela viagem para o Macao que você tanto sonha.
Com o poderoso processador Qualcomm Snapdragon 8 Elite for Galaxy, o Galaxy S25 Ultra é tão poderoso, que faz o seu portátil da Apple parecer uma máquina de escrever metida à besta.
Afinal de contas, nada como se sentir como um hipster em pleno 2025, por mais que esse comportamento já seja algo hipster, direto de 2013. Se bem que… não é a mesma coisa abrir o MacBook no Starbucks e tirar um smartphone caro do bolso enquanto bebe um latte superfaturado.
Mas considero o fato de que essa cena nunca vai acontecer, pois quem torrou pilhas de dinheiro em um smartphone não vai ter a menor chance de pagar por um café com leite caro.
Ao menos o um ano gratuito do Gemini Advanced vai permitir que você, como andarilho hipster e com sérias restrições orçamentárias, ofereça um aplicativo de controle de gastos e reeducação financeira.
Porque você com certeza vai precisar com esse seu cartão de crédito estourado.
Aliás… não dói pensar que esse caríssimo Galaxy S25 Ultra perdeu o suporte para o Bluetooth na S Pen, que basicamente virou um pedaço de plástico que só serve para a interação com a tela.
Sabe o que mais pode interagir com a tela do smartphione? Isso mesmo: o seu dedo. O mesmo que você usa para tirar a casca de ranho do nariz dentro do cinema.
Lembrando que você pode pagar nada menos que R$ 14.999 em um smartphone que tem um acessório que é PIOR do que modelos lançados nos anos anteriores.
Aliás, eu gostaria de entender por que a Samsung tirou o Bluetooth da S Pen. Porque, para mim, não faz muito sentido essa decisão. Em um smartphone de entrada ou intermediário, tudo bem. Até entendo.
Mas em um telefone que pede para você hipotecar a alma para forças desconhecidas?
O que aconteceu aqui?
Você pode até tentar justificar a compra do Galaxy S25 Ultra para os amigos (e falhar miseravelmente, causando constrangimento alheio): “É um investimento no meu futuro como cineasta amador!”
No fundo, você passa bem longe de ser o novo Christopher Nolan, e o verdadeiro motivo que fez você investir no Galaxy S25 Ultra e deixar de dar entrada no seu imóvel próprio é que esse smartphone é a única coisa que impede você de ser chamado de fracassado completo.
Admita que você aceitou viver de pensão e aluguel pelo resto de sua vida porque a única estabilidade que importava para você era o do sensor da lente traseira principal do smartphone mais caro da Samsung (até o próximo da linha Z Fold chegar).
Você aceitou ser um sem-teto (literalmente) para viver a meca do mundo digital.
Você aceitou hipotecar a alma, e eu só posso te parabenizar por isso.
Optar pelas inovações de Inteligência Artificial e uma S Pen sem Bluetooth deve ser mais interessante do que coisas banais e mundanas, como comida na hora da fome e abrigo na madrugada de chuva.
Que a força da bateria, ainda que decepcionante por contar com apenas 5.000 mAh, esteja com você!