Acredite, se quiser… mas a pergunta que dá título para esse artigo é mais comum do que parece.
Não são poucas as pessoas que realmente acreditam que seus gatos podem ter traços de psicopatia. Soa como uma brincadeira ou humor extremamente macabro, mas alguns donos de animais quase enlouquecem com os seus animais de estimação.
Ter um Garfield em casa, no sentido literal, é a última coisa que você pode querer na vida. E a pergunta é tão popular ao redor do mundo, que cientistas com muito tempo livre na vida, deixaram de lado a pesquisa da cura do câncer para focar esforços em algo aparentemente mais importante e edificante.
Os cientistas levaram isso a sério
Um estudo recente realizado por pesquisadores da Universidade de Liverpool busca entender melhor o comportamento dos gatos domésticos e se esses animais realmente exibem características associadas à psicopatia.
Chamar gatos de “psicopatas” é algo relativamente comum entre os tutores, especialmente após experiências negativas com seus felinos.
Pode ser um pouco cruel se referir ao pobre animal desse jeito, até que ele começa a destruir seus caros móveis e brigar com o cachorro do absoluto nada.
A expressão é (obviamente) figurativa, mas levou os cientistas a investigar se existe algum fundamento científico para tal afirmação.
O principal objetivo do estudo é, basicamente, descobrir se um gato realmente se comporta como um psicopata. E foi levado tão a sério, que podemos afirmar que existe uma base mensurável para detectar tal comportamento, já que os cientistas utilizaram um modelo psicológico previamente existente.
O modelo triárquico de psicopatia, que deu origem ao CAT-Tri+
Os pesquisadores adaptaram o que é conhecido na área como modelo triárquico de psicopatia, que avalia três traços principais: ousadia, malícia e desinibição.
Esses traços foram escolhidos para entender melhor as tendências comportamentais dos gatos, e foi a base para o teste denominado CAT-Tri+.
O teste consiste em 46 perguntas que os tutores devem responder sobre o comportamento de seus gatos. E aqui, eu fico um pouco incomodado com a avaliação.
É a percepção do dono que vai determinar se o gato é psicopata ou não? Tá, eu sei que o animal não pode falar. E é justamente por isso: o bichano não tem como se defender da visão enviesada e tendenciosa do seu tutor.
De qualquer forma, as opções do teste variam desde “não descreve meu gato” até “descreve extremamente bem” o comportamento observado.
As perguntas são organizadas em cinco categorias:
- Ousadia
- Desinibição
- Malícia
- Animação com outros animais
- Animação com humanos
O resultado final gera um índice que ajuda a identificar traços psicopatas nos gatos e, em função disso, o dono depois se vira para o que vai fazer com o animal dentro de sua casa ou apartamento.
A metodologia do teste e seus resultados
A equipe de pesquisadores conduziu três estudos distintos para validar o teste e suas escalas.
O primeiro estudo focou na identificação dos elementos candidatos para desenvolver as escalas. O segundo utilizou um questionário baseado no CAT-Tri preliminar, enquanto o terceiro investigou a relação entre as atividades diárias dos gatos e suas pontuações nas escalas
No total, mais de 2.000 tutores participaram do estudo, fornecendo dados valiosos sobre o comportamento felino e suas interações com humanos e outros animais.
Ou a sua visão distorcida pelo medo, pavor e trauma resultantes da hiperatividade dos gatos que, em alguns casos, são cruelmente castrados pelos seus tutores.
E ninguém pergunta para os gatos o que eles pensam sobre isso.
Os resultados indicaram que características como desinibição e animação em relação a outros animais estão associadas a uma melhor qualidade nas relações entre gatos e seus tutores.
Por outro lado, traços de malícia e ousadia correlacionaram-se com relações mais problemáticas. E até aí, normal: alguns seres humanos são ousados e maliciosos, e nem por isso consideramos essas pessoas psicopatas.
Pelo menos não em todas as pessoas que conhecemos. Existem casos específicos que contrariam a regra.
O estudo serviu de alguma coisa?
Saber como os gatos se comportam pode até fazer com que a gente entenda como ele se comporta nos aspectos psicológicos, mas isso não vai mudar a nossa relação com eles.
De qualquer forma, os pesquisadores acreditam que essa compreensão pode ser útil em contextos como, por exemplo, os abrigos de animais.
E essa é a primeira coisa que eu concordo com os pesquisadores, e isso faz o estudo ter uma certa dose de sentido de sua existência.
Identificar traços comportamentais pode facilitar a adoção e ajudar a evitar o abandono de gatos com problemas comportamentais.
E garantir que animais abandonados tenham a melhor adaptação possível na casa dos seus novos donos é uma tarefa nobre, dando utilidade para a perda de tempo com essa bobagem.
No final das contas, não há evidências científicas que confirmam a psicopatia nos gatos. É mais fácil os donos desenvolverem esse desvio comportamental ao longo da vida.
Mas ao menos agora temos mais elementos para melhorar a convivência entre humanos e felinos, com insights sobre a personalidade dos gatos que podem reduzir problemas comportamentais que levam ao abandono dos bichos.
E ainda é mais válido mandar o dono para o terapeuta, pois só ele pode falar o que pensa e sente nessa relação.