As buscas na internet mudaram. O Google ainda reina na hora de pesquisar qualquer coisa online, mas as novas gerações já preferem TikTok ou Instagram como fontes de informação. O que faz uma certa dose de sentido.
Essa migração não é, por si só, um problema. O risco está na velocidade com que desinformações se espalham nessas plataformas. Um conteúdo viral pode parecer confiável à primeira vista — mas enganar milhões exige apenas um toque de edição.
Veja o caso do “conserto de tela com isqueiro”. Um vídeo publicado no TikTok, pelo usuário @lucascastro420, já acumula 13 milhões de visualizações. Ele promete: passe um isqueiro aceso sobre a tela do celular, e pronto — o pesadelo acabou.
Nem preciso dizer que temos aqui mais um caso de fake news em forma de vídeo para formato curto.
Do que estamos falando neste caso?
Não é a primeira vez que esse truque reaparece. E, infelizmente, não será a última. Vídeos como esse voltam a circular com força, aproveitando o ciclo efêmero das redes. Muita gente esquece que já viu aquilo antes — e cai no mesmo golpe, de novo.
O vídeo impressiona aos olhos mais desatentos: telas com linhas coloridas, falhas no toque, tudo aparentemente resolvido com uma chama. Mas o que não é mostrado são os cortes, os truques de edição e as consequências reais.
Não existem milagres na internet, principalmente quando o milagre vem de um vídeo do TikTok. Mas nem todos os usuários estão preparados para essa conversa.
Consertar com fogo? Perigoso e inútil
Passar uma chama em uma tela danificada é mais do que ineficaz — é perigoso. O calor de um isqueiro pode comprometer outros componentes internos do aparelho, derreter conexões, afetar a placa lógica.
E pior: pode aquecer a bateria do celular. Isso, por si só, já é uma ameaça. Baterias de íon-lítio não foram feitas para suportar calor extremo. Elas podem inchar, vazar — e sim, até explodir.
A técnica não recupera o toque, não ressuscita pixels mortos, não corrige rachaduras. Só agrava o problema. Se a tela quebrou, a única solução é substituí-la por outra.
Ou, em alguns casos, trocar o dispositivo. E se sobrar tempo, acionar o fabricante na justiça para recuperar o dinheiro pago pelo dispositivo antigo, uma vez que (muito provavelmente) a falha foi provocada por um defeito oculto no dispositivo.
Quando o viral custa caro
Esse tipo de conteúdo se espalha porque oferece uma solução mágica para um problema comum — e caro. Trocar a tela de um celular, especialmente os dobráveis, pode doer no bolso. Mas tentar economizar seguindo truques perigosos sai ainda mais caro.
Ao consumir conteúdos técnicos em redes sociais, é preciso mais do que curiosidade: exige senso crítico.
Viral não é sinônimo de verdadeiro. É só para fazer com que as pessoas que acreditam em qualquer coisa fiquem compartilhando esse conteúdo na internet de forma indiscriminada e desprovida de senso crítico.
E eu espero, de verdade, ter ajudado aos mais desatentos. Seria péssimo ver alguém caindo nesse truque, perdendo tempo e dinheiro para tentar um truque que, claramente, não vai dar certo ou resultar em efeitos positivos para o telefone.