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O que eu aprendi com a Maratona Internacional de Floripa de 2019

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Antes de começar, eu quero pedir sinceras desculpas para as amigas Flávia e Ivone, pela demora em escrever esse texto. Muitas coisas acontecendo aqui em Florianópolis, os compromissos regulares, e apenas uma semana depois de vocês duas me visitarem é que eu consegui algum tempo para falar sobre o que eu testemunhei ao fazer parte da uma parte da experiência de vocês.

Certo. Vamos lá.

Eu amo esportes. E não apenas o futebol. Não me conformo que o brasileiro médio só consegue apreciar e torcer por apenas um esporte quando existe um universo de possibilidades que entregam experiências empolgantes, momentos únicos e lições inescapáveis. Eu poderia escrever um blog apenas relatando as coisas que o esporte me ensinou, mas optei por compartilhar com vocês as lições da trilha sonora da minha vida.

Quem sabe no futuro.

Mas nesse momento, eu só posso dizer sobre como foi gratificante acordar às 5h da manhã para acompanhar Flávia e Ivone até a Maratona Internacional de Floripa. Sair da rotina é sempre bom, e o sono você recupera depois, durante o dia. Vivenciar momentos diferentes em nossa vida e aprender um pouco com as pessoas ao seu redor realizando algo que você não consegue fazer (ou até consegue) e, principalmente, testemunhando pessoas comuns perseguindo os seus sonhos é o que eu defino hoje como “uma grande experiência” para a vida.

Eu posso me considerar um privilegiado. Em 40 anos de vida, com exceção de Pelé, eu testemunhei boa parte da carreira dos maiores atletas da história em diferentes esportes. E um dos motivos para assistir a diferentes esportes é justamente esse: ver o ser humano se superando e escrevendo a história diante dos nossos olhos. Atletas profissionais são humanos acima da média, que abandonam o lugar comum para, em alguns casos, conquistar o status de lenda. Escrevem a história para assumir um lugar no panteon de notáveis do universo esportivo.

Porém, o meu melhor presente ao acordar bem cedo para acompanhar a Maratona Internacional de Floripa em uma manhã de domingo foi olhar para os anônimos. Para as pessoas comuns que sabiam que não poderiam vencer os profissionais, e que não buscavam quebrar recordes olímpicos. Eu acordei cedo para testemunhar pessoas comuns superando os seus limites pessoais, dificuldades, obstáculos, dores, medos e angústias para alcançar um único objetivo: terminar a prova.

 

 

Foram pensamentos e sentimentos diversos em diferentes momentos. Por exemplo, eu vi vários senhores e senhoras que são jovens a mais tempo que eu correndo de forma animada, enquanto eu acompanhava a passagem deles, com vergonha de mim mesmo, pensando: “sério, eles estão correndo com essa vitalidade, enquanto eu só penso no sanduíche de mortadela com tomate seco… ou no X-Bacon que eu tanto amo…”.

Não são atletas. São senhores e senhoras que respeitam as limitações do seu corpo e, dentro do seu ritmo, estão correndo 5 km, 10 km, 21 km… 42 km! Para mim, é um feito incrível, mas para eles que estão acostumados a correr, é uma saudável rotina. Ah, sim, e mais uma conquista para a galeria pessoal, repleta de momentos de superação.

Ao conversar com Flávia e Ivone antes da prova, eu entendi por que pessoas comuns decidem correr tanto por tanto tempo. Os motivos são os mais diversos, mas talvez o principal deles é mesmo a superação pessoal. É claro que essas pessoas querem vencer os seus medos, curar mágoas do passado e do presente, superar frustrações e traumas e evitar a todo custo gastar dinheiro com psicólogo ou psiquiatra (nem todos, mas muitos acabam fazendo isso).

É óbvio que a maioria busca uma saúde melhor através da atividade física. Eu nem precisava mencionar isso, mas se eu não colocar esse parágrafo no texto, eu corro o risco de apanhar de algumas pessoas.

Mas quando eu identifiquei alguns olhares determinados e olhando sempre para a frente, eu compreendi que as causas eram maiores do que as explicações teóricas. Só essas pessoas poderiam me contar o que realmente elas estavam sentindo e buscando, e seria difícil conversar com mais de 10 mil pessoas em um domingo. Mas eu posso dizer que olhares e expressões faciais podem falar muito mais do que as palavras, entregando sentimentos e pensamentos que até podem ser indecifráveis, mas que falam muito mais alto aos corações mais sensíveis.

Então, a vergonha alheia por não correr deu lugar ao sentimento de profunda admiração por cada uma dessas pessoas que tiveram a coragem de acordar às 5h da manhã para correr atrás dos seus sonhos e objetivos, superando limitações e dificuldades.

Algumas dessoas pessoas decidiram contar para mim e para o mundo o que significava para elas concluir a prova. Ou melhor, demonstraram, o que deixou tudo ainda mais interessante.

Eram pessoas passando a linha de chegada com os filhos no colo, amigos se abraçando, casais se beijando, risos e zoações, lágrimas de felicidade… manifestações de satisfação genuína em conquistar algo que exigiu muita luta, concentração e esforço.

Aqui, você entende que essas pessoas que completaram a prova materializaram as metáforas da vida. Passamos uma existência assumindo as nossas maratonas pessoas, desafiando nossos limites e a persistência das vozes contrárias que insistem em afirmar que jamais vamos conseguir alcançar os nossos objetivos. Correr pode parecer algo pequeno para muitos irracionais que se atrevem a chamar essas pessoas de malucas ou lunáticas. Mas para cada um daqueles que sentiram a plena satisfação de alcançar esse objetivo, eu tenho a plena convicção que é mais um passo gigante para a construção pessoal e objetiva, cuja linha de chegada parece não ter fim.

E, de fato, não tem.

 

 

Corremos ao longo da vida sem saber onde vamos chegar e, em muitos casos, sem a certeza que vamos chegar onde queremos ou até mesmo em algum lugar. Pode parecer frustrante não chegar ou jamais alcançar a linha de chegada que projetamos ao longo de toda uma vida. Por outro lado, os sábios vão perceber com o passar do tempo o quão longe conseguiram avançar, visitando lugares incríveis, testemunhando cenários maravilhosos e conhecendo pessoas singulares.

Se eu não tivesse acordado às 5h da manhã para acompanhar a Flávia e a Ivone, talvez eu não recebesse como recompensa as histórias que testemunhei, vindas de pessoas comuns que só queriam completar a prova. Por isso (e pelo pacote geral), eu agradeço às duas pela iniciativa e coragem. Aplaudo de pé a todos que completaram a prova naquele domingo.

Por fim, eu fui desafiado a correr 5 km em 2020, na mesma Maratona Internacional de Floripa. E eu devo dizer nesse momento que vou declinar do desafio. Sim. A dupla Flávia e Ivone vai ficar furiosa com essa declaração. Porém, a diabetes, rins que não estão funcionando tão bem, a minha vida corrida e sedentária ao mesmo tempo (incrível como trabalhar na frente do computador seis horas por dia entregam esse resultado) e o desejo incontrolável de seguir comendo Big Mac pelo menos uma vez por mês me impedem de cumprir o desafio com dignidade.

Desculpe, meninas.

Mas eu sempre vou ser aquele cara na beira da estrada, com um smartphone na mão e muitas reflexões na cabeça, registrando o momento em que pessoas comuns alcançam objetivos especiais. Minha contribuição está em levar essas impressões adiante, e tentar fazer com que mais pessoas olhem com inspiração para os atletas cujos nomes não sabemos, mas que são heróis de si e exemplos para todos nós.


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@oEduardoMoreira