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Os 50 anos do início do movimento dos Panteras Negras, e como até hoje erguemos os punhos para protestar

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São 50 anos da criação do movimento dos Panteras Negras, e nesse momento nunca foi tão importante falar sobre esse assunto.
 
A força do gesto de atletas negros norte-americanos com o punho cerrado no alto, denunciando a violência, os assassinatos e o separatismo promovido contra os afro-americanos, repercute até hoje.
 
Os Panteras Negras foram além de ser um partido para protestar e denunciar contra o racismo. Foi um movimento cultural com profunda influência na sociedade. O cabelo Black Power, o rap, o Hip-Hop e toda uma filosofia artística nasceu a partir desse movimento. É uma das contribuições mais importantes da etnia negra para a humanidade em contextos históricos.
 
O racismo não diminuiu em 50 anos. Se tornou pior, mais verborrágico. E quem entende diferente disso vive em uma bolha. É desinformado, ou se acomoda na neutralidade dos fatos.
 
Apenas um exemplo.
 
Colin Kaepernick, ex-quarterback do San Francisco 49ers, finalista de um Super Bowl e protagonista do recorde de jardas corridas para um jogador de sua posição em uma temporada (181 jardas), foi ignorado pela ex-equipe na revisão dos momentos históricos em partidas históricas.
 
De novo: mesmo com registro de recorde. Mesmo ele sendo finalista de um Super Bowl.
 
Tudo porque ele começou a se ajoelhar durante o hino dos Estados Unidos em cada jogo, para protestar sobre as mortes de negros pelas mãos de policiais brancos, em condições no mínimo “questionáveis” (para não dizer absurdas), que sequer eram investigadas com o devido rigor, para não punir policiais brancos.
 
Sem falar que, quando o mesmo Colin Kaepernick fechou um contrato de publicidade com a Nike, vários norte-americanos começaram a queimar artigos esportivos da marca, protestando contra o jogador.
 
Sim. Eu estou falando de um tema que incomoda a você. Mas que machuca a mim diretamente.
 
É uma pena que, no Brasil, o assunto, que ou é tratado como um elefante branco no meio da sala de cristal ou com indiferença por aqueles que não são diretamente afetados, tomou nos últimos tempos um viés político que mostra o quanto a grande massa simplesmente não entende como algo importante.
 
O brasileiro médio, o afegão médio, a grande massa… é simplesmente indiferente. Para muitos, o racismo é um direito institucionalizado porque “eu tenho o direito de não gostar de negros”.
 
Você tem o direito de não gostar de qualquer pessoa, mas a cor da pele não deveria ser o fator determinante. Não gostar de alguém por causa de algo nela que não pode ser mudado é algo infeliz, triste, que diminui qualquer ser que se enquadra nessa situação.
 
Hoje, vejo pessoas afirmando que “ser racista não é crime”, disseminando o discurso da desinformação em nome dos seus conceitos éticos. É humilhante tentar debater com mentes ignorantes, apresentando que o crime de racismo e injúria racial está na Constituição Federal.
 
As mesmas pessoas que pregam o combate à corrupção, de forma falsa.
 
E o mais triste de tudo isso é perceber que as pessoas que se afirmam conscientes do problema, que alegam que são contra o racismo e o preconceito, ao testemunharem tamanha violência verbal e moral, se calam, de forma até conveniente, para não confrontar o coletivo com uma opinião contrária.
 
50 anos depois do nascimento do movimento dos Panteras Negras, eu vejo que pouco mudou, e o quanto preciso todos os dias levantar os punhos cerrados para protestar, na esperança de ser enxergado como alguém digno de respeito. Na marcha da evolução da espécie humana, eu sinto que ainda preciso gritar para alertar aos meus irmãos de outras etnias que o mais importante, no final das contas, é o que trazemos dentro de nós.
 
Porém, de forma inútil, ainda vivemos na superficialidade da discussão, e na futilidade da estética. E não vejo perspectivas de melhora. Infelizmente.
 
Ah… mais uma coisa… antes que eu me esqueça…
 
Você, mulher loira de olhos azuis e cabelos bem tratados, linda aos meus olhos… não culpe a mulata que roubou o seu marido. Apesar dela ter um corpo muito mais definido e atraente que o seu, a culpa é sua, não dela.
 
Você, homem branco bem sucedido, que se reconhece como raça superior… não culpe o negão que está transando com a sua esposa nesse momento. Apesar do pau dele ser maior que o seu, a culpa é sua, e não dele.
 
O racismo institucionalizado em uma sociedade pode gerar como consequências pessoas sem uma visão ampla de relacionamento com o próximo, incapazes de ouvir o que o coração do outro é capaz de dizer. Não observa para as reais necessidades do outro.
 
Racismo é muito mais um desvio de caráter do que o simples direito de não gostar daquele que é diferente.
 
Pense nisso.

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@oEduardoMoreira