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Os Incríveis (2004) | Cinema em Review

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Entendi que seria justo voltar ao tempo e rever Os Incríveis antes de escrever sobre Os Incríveis 2. E, como na época em que o filme estreou eu não falei sobre essa animação da Disney, cá estou eu escrevendo os meus pitacos sobre uma das melhores animações do cinema.

Admito que não me lembrava mais dos detalhes do primeiro filme, logo, é mais do que providencial qualquer um fazer o mesmo antes de ir aos cinemas conferir a segunda entrega. Entrar no clima é importante para melhor compreender fatos e acontecimentos. E o sentimento de nostalgia é providencial. Até porque não estamos falando de um filme que se desatualiza com o passar do tempo. Mesmo depois de 14 longos anos.

Aliás, todos nós concordamos que a animação volta no momento certo. É o momento dos heróis no cinema, e a Disney entendeu essa questão do timing para oferecer a segunda parte dessa história.

Os Incríveis apresenta a família aparentemente normal, que esconde os seus poderes pela força da lei, já que eles são proibidos de usar suas habilidades. Não só o casal principal precisa lidar com isso, mas principalmente os seus filhos, que começaram a crescer e compreender o quanto é difícil se ajustar em um mundo normal, mesmo com poderes especiais.

O mais curioso de tudo isso é que, logo nos primeiros minutos do filme, o Sr. Incrível chega a comentar que um dia gostaria de viver uma vida normal. E, quando isso acontece, ele começa a sofrer com isso. O filme constrói bem o paralelo entre ter a consciência de que ser diferente e especial não é nada fácil, e que viver em um mundo cercado de normais pode ser algo que, para um especial, é limitante. Principalmente quando o seu propósito de vida é ajudar as pessoas.

 

 

Tudo começa a virar na vida dessa família quando uma organização secreta decide recrutar o Sr. Incrível para uma missão secreta, o que oferece a possibilidade de voltar à ativa, fazendo o que sabe de melhor. Mas os anos de inatividade cobram um preço. E não só ele percebe que precisa de ajuda, mas que precisa da ajuda da sua família para descobrir a coisa mais importante para eles naquele momento: não ter medo ou vergonha de serem especiais em um mundo cheio de gente comum.

Os Incríveis pode ser encarado como um belo impulso para a auto estima daqueles que se reconhecem como diferentes nesse mundo cheio de padrões de comportamento e rótulos previamente definidos pela sociedade. De fato, é difícil para aqueles que sabem que estão fora dos padrões se encaixar em um mundo assim. E esse tipo de mensagem vale para crianças e adultos. Os filhos do casal representam justamente o adolescente médio, que está em uma fase da vida onde o ajuste ao meio se complica, justamente por querer ser diferente ou fugir dos padrões.

É um filme que fala de auto-aceitação de forma direta. Em sua máxima, convida o espectador a compreender que, antes de salvar o mundo, é preciso salvar a si mesmo. Esse processo do Sr. Incrível em resgatar quem ele era no passado e em como isso afeta o seu presente, melhorando suas perspectivas materiais e psicológicas, é algo que pode acontecer com todo mundo. E, muitas vezes, o que precisamos é de um desafio que quebra os padrões e paradigmas para ter a coragem de fazer o futuro agora e reinventar a própria história. Especialmente quando entramos na tal “crise de meia idade”.

A reinvenção fica clara na mudança de uniforme do personagem. A reformulação da imagem é necessária para mostrar que estamos em uma nova fase da vida, em um novo momento, abrindo portas para novos destinos e perspectivas. E Os Incríveis deixa essa lição de forma explícita, evidente e bem feita.

Parte dessa reinvenção também acontece na Sra. Incrível. Helena se dá conta que, pela iniciativa do Beto em tentar reviver o passado, que ela mesma ficou para trás em relação aos seus anseios e aspirações. Esconder tudo isso dos filhos só acendeu o estopim de pólvora para uma revolução geral em todos os envolvidos. Mas nela, a mudança foi para retomar o seu papel no mundo e no casamento. Edna é pontual ao lembrar para ela que é ela quem tem que lembrar ao marido quem ela é de verdade: uma heroína, tal e qual ele também foi um dia.

Mas uma das coisas mais legais que esse filme deixa é o reforço da premissa básica que “família que batalha unida, vence unida”. A família une suas forças e seus poderes para combater o grande vilão que, por sua vez, vem do passado do Sr. Incrível (não poderia ser de outra forma, mesmo porque o roteiro é meio previsível nesse aspecto). E os novos desafios vindos do processo de renovação do personagem é o incentivo que faltava para que todos eles aceitassem as suas condições de heróis. Heróis deles mesmos, inclusive.

 

 

As crianças descobrindo suas reais capacidades e trabalhando com os pais em prol de uma causa maior é a metáfora de unidade familiar perfeita para os novos tempos. Em uma família moderna, pais e filhos trabalham juntos nas grandes realizações. A hierarquia estabelecida existe, mas o filme mostra o paralelismo de habilidades, qualidades e singularidades que cada pessoa possui e deve desenvolver nas diferentes fases da vida. E, quando é feito em família, resulta em conquistas espetaculares.

No final das contas, é um filme que mostra o quanto vale a pena apostar em você e no fato de você ser especial. Aliás, aceitar que é especial em relação aos demais não é nenhuma presunção. É a coragem de se aceitar e se reconhecer como ponto fora da curva. Como alguém diferente.

Como alguém Incrível.

Os Incríveis é um filme excelente. Deixa tantas lições para crianças e adultos, e entrega isso em um roteiro acessível, sem muitas complicações. Como disse antes, é um roteiro até óbvio na sua narrativa principal, mas entrega a surpresa do bebê ser a pessoa mais poderosa daquela família. É um entretenimento leve, onde as quase duas horas de filme não cansam. Para os adultos, não é uma maratona, desde que eles tenham a capacidade de aproveitar todas as lições apresentadas. E as crianças ficarão satisfeitas com a história bem elaborada e objetiva.

É um filme que facilmente passa na tal “regra dos 15 anos”. Foi ótimo rever tal proposta.

Agora sim, estou pronto para Os Incríveis 2.

 

 


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@oEduardoMoreira