Os introvertidos estão voltando.
Em 2019, a internet vivia o auge das redes sociais visuais. As plataformas davam o protagonismo para os usuários que tinham a coragem de dar a cara para bater em fotos no Instagram e vídeos curtos no TikTok, dando luz para os extrovertidos, fotogênicos e excêntricos.
Quem não era fotogênico, criativo, tímido e feio não tinha chances na internet. Simples assim.
O tempo passou, e cinco anos depois, o texto escrito e outras formas de comunicação visual ganharam novas relevâncias, e fico feliz em pensar que o blog não morreu.
O texto voltou a ser relevante, felizmente.
O retorno da web baseada em texto
A web textual ainda prospera, mesmo com todo o avanço em vídeos curtos e algoritmos centralizados nas imagens.
Plataformas especializadas em nichos seguem encontrando audiências que desejam o conteúdo escrito, principalmente para as análises mais profundas.
De fato, a (pouca) audiência que eu tenho está desejando por textos mais longos e com conteúdo desenvolvido de forma mais densa.
E até mesmo a produção de vídeos está mais centrada para os textos combinando com as imagens. Estou fazendo alguns testes neste sentido nos conteúdos do meu canal no YouTube, e os resultados foram bem interessantes.
Sem falar que os vídeos curtos no TikTok contam hoje com legendas, para que todos possam acompanhar o conteúdo, independentemente do local ou de sua limitação.
Na prática, o blog não morreu. Só está se reinventando, migrando para um ambiente onde a profundidade do conteúdo é mais apreciada do que a superficialidade das redes sociais visuais.
E é aqui que eu saio ganhando.
Sempre gostei de escrever. E estava me incomodando o cenário em que teria que produzir sempre textos curtos para ter ou reter uma audiência temporária.
Meu principal objetivo nos blogs é garantir uma audiência que vai voltar para ler outros artigos tão aprofundados quanto este.
Fidelizar a audiência é mais importante do que basear todo o conteúdo no hype que dura apenas 15 minutos.
Na verdade, menos. Algumas pessoas não ficam dois minutos lendo um artigo, o que é sempre péssimo para quem produz conteúdo.
Substack e podcasting em sua melhor fase
Vamos falar um pouco mais sobre as plataformas que estão em ascensão, ocupando (em partes) o lugar das redes sociais visuais.
O Substack se tornou um dos grandes revitalizadores da escrita digital, permitindo que escritores e pensadores cultivem audiências sem a necessidade de exposição visual.
Ou seja… blog.
Os newsletters oferecem um canal de comunicação íntimo e profundo, diferente das interações rápidas e superficiais das redes sociais.
Quem gosta de ler está cada vez mais propenso a assinar os feeds de conteúdo em texto que, na grande maioria dos casos, chega ao leitor pelo e-mail.
Me encontro nesse grupo, pois percebo que recebo um volume muito maior de informação no meu e-mail ou no meu feed de notícias via Feedly do que se dependesse das plataformas digitais que já existem.
Neste sentido, o Substack oferece um refúgio para introvertidos que preferem comunicar suas ideias de forma escrita, longe dos holofotes visuais.
Outra alternativa para aqueles que não gostam de dar a cara para bater é o podcasting, que existe desde o início dos anos 2000 (eu mesmo passei anos gravando e produzindo programas para a internet), mas que experimentou um boom nos últimos anos.
Aqui, temos mais uma grande oportunidade de livre expressão sem a pressão da câmera, o que é ótimo para introvertidos. O podcasting permite a criação de conexões mais profundas e genuínas com a audiência, já que a exposição visual não é um fator determinante para estabelecer o vínculo com a outra pessoa.
O podcasting sempre foi uma ferramenta poderosa para compartilhar conhecimentos e perspectivas, construindo vínculos com os ouvintes e entregando conteúdo relevante para o coletivo.
Um espaço digital mais diverso e fragmentado
A internet de 2024 é muito mais diversificada do que há cinco anos, e isso se reflete nas possibilidades de produção de conteúdo e conexão com outras pessoas através dessa comunicação online.
Diferentes plataformas atendem a diferentes formas de expressão e preferências de público, permitindo que todos possam encontrar o seu público ou o conteúdo que deseja consumir.
É fato que as redes sociais visuais ainda são dominantes em volume de acessos e número de usuários. Porém, estamos diante de um cenário onde o sucesso online não é mais definido exclusivamente pelo Instagram e TikTok.
A internet de hoje, por incrível que pareça, está valorizando a reflexão, a profundidade e o pensamento cuidadoso. A sua imagem não define quem você é, mas sim a sua essência.
Sempre gostei de me expressar por texto, e ver a internet voltando para a leitura do conteúdo é algo que me agrada muito mais do que a obrigação de me expor para ter a atenção dos outros.
É claro que a fragmentação da internet, com o aumento de conteúdo diversificado em diferentes segmentos, torna mais difícil a tarefa de “ser visível” no meio desse oceano de informações.
Neste caso, é preciso um equilíbrio maior entre autenticidade, adaptação às novas ferramentas digitais e originalidade para garantir a tão desejada relevância.
É um momento de reconfiguração do espaço digital, o que deve abrir novas oportunidades para qualquer pessoa. Agora, o introvertido vai ter o mesmo espaço da gostosona que tira fotos seminua no Instagram.
E está tudo certo. Prefiro esse mundo, que é mais justo, do que o monopólio da futilidade que se construiu nos últimos cinco anos.
É sim um desafio se adaptar às novas plataformas sem perder a essência da voz autêntica. Mas ao menos pessoas como eu voltam a ter uma chance.
Na internet do TikTok e do Instagram, eu estava condenado ao desaparecimento.