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Para a Netflix, o tamanho não importa

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Aprendi a não duvidar da Netflix, pois tudo o que disse que daria errado para a plataforma de streaming se provou exatamente o contrário. Então, aprendi a reconhecer a minha completa ignorância sobre o mundo que a plataforma vive.

Em recente entrevista, o cofundador da Netflix, Ted Sarandos, defendeu a ideia de que “o tamanho da tela não importa” para uma boa experiência cinematográfica. O que realmente importa é a qualidade do conteúdo em questão.

Não sei se quem assistiu ao filme “Mad Max: Estrada da Fúria” na tela dos cinemas concorda com essa afirmação, mas é importante entender os pontos que Sarandos está defendendo.

 

Filme bom é aquele que você vê em qualquer tela?

As mulheres vivem dizendo que “o tamanho não faz diferença”, e eu acredito em algumas delas. Já no caso de Ted Sarandos, temos que entender o que ele quer dizer com os tamanhos de tela para ver filmes.

Na entrevista, Sarandos usa como exemplo o filme “Lawrence da Arábia”, afirmando que o longa pode ser visto na tela do smartphone sem maiores problemas. O único problema aqui é que o executivo usa um ótimo filme para respaldar o seu ponto.

Eu duvido que Sarandos assistiu ao “Madame Teia” na tela do smartphone. Sem falar que a tal experiência cinematográfica atual, com produções cheias de detalhes visuais, não necessariamente se encaixa com o formato de tela pequena.

É o que defende Christopher Nolan, atual vencedor do Oscar de Melhor Direção com “Oppenheimer”. Ele é conhecido (também) por ser um dos pioneiros e maiores defensores do uso da tecnologia IMAX, que se tornou dominante nos cinemas.

Nolan certamente discorda da visão de Sarandos, defendendo a experiência pura das salas dos cinemas e a maior imersão que a tela grande e o som mais potente proporciona.

E eu tendo a concordar tanto com Sarandos como com Nolan, mas com alguns asteriscos para os dois.

 

A relação custo-benefício é o que realmente importa

Nada se compara com a experiência das salas de cinema, e isso é fato. O problema é que a relação custo-benefício dessa experiência não está fechando: ficou caro demais para ver um filme que não é um “Oppenheimer” da vida.

Além disso, ficou meio pedante essa visão dos grandes estúdios em ignorar o streaming, afirmando que só pode ser considerado “cinema” se você está vendo em uma tela grande dentro de uma sala escura.

Os filmes devem chegar onde as pessoas estão. E neste momento, a audiência está na sala de casa, no conforto do sofá, assistindo filmes na Netflix comendo pipoca e bebendo refrigerantes com preços muito menores do que aqueles cobrados pelas grandes redes de cinema.

A praticidade e o enorme catálogo da Netflix são dois elementos que a audiência está valorizando e prestigiando. E os grandes nomes da indústria migraram para as plataformas de streaming, o que significa que conteúdos de maior qualidade estão chegando com maior frequência.

Qualquer ida ao cinema custa hoje pelo menos R$ 100 por pessoa, considerando todos os gastos envolvidos (transporte, estacionamento em shoppings, o ingresso para o filme e a comida que você consome).

Por outro lado, choramos para pagar a Netflix, o Max, o Disney+ e outras plataformas… que custam menos que ir aos cinemas toda semana.

Se os grandes estúdios seguirem acreditando que contam com o monopólio criativo, entregando o “mais do mesmo” nos filmes e cobrando ingressos caros em nome da melhor experiência, o cinema como conhecemos está seriamente ameaçado. E faz tempo que falo sobre isso.

Tudo bem, o Sarandos foi meio tendencioso na sua afirmação. Mas não dá para dizer que ele está completamente errado. O tamanho da tela deixa de importar quando a tela grande esfola o nosso bolso ou cartão de crédito.


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