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Perdemos. De novo. Como povo, perdemos

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O que dizer?

De novo, perdemos.

Olhando para o cenário geral, não há vencedores. Perdemos a nossa capacidade de dialogar, de desenvolver ideias, de debater opiniões contrárias. Perdemos a paciência. Perdemos a razão. Perdemos o respeito ao próximo. Perdemos tanta coisa, que não temos nada. Nem a nós mesmos.

Nós, que já somos um povo sem identidade (porque somos uma mistura de várias etnias, apesar de alguns imbecis acharem que são melhores que outros), agora estamos divididos. Aliás, já estávamos divididos, porque teve um grupo que ousou dizer “nós contra eles”. Agora, nem discurso ensaiado tem. Nos dividimos automaticamente.

“Ou você está comigo, ou você é o meu inimigo.”

Que porra é essa? Virou The Walking Dead essa merda? Rick Grimes vs Negan?

Não somos melhores quando pensamos assim. Pelo contrário: nos tornamos cada vez piores. Nós, povo brasileiro, estamos virando a escória. O pior de nós está surgindo por causa de ideologias sem fundamento, visões de mundo distorcidas e sem base fundamentada, pré-conceitos arcaicos e discursos de ódio de lado a lado.

Sim. Você, que ontem comemorou tudo o que aconteceu, você tem tanto ódio no coração quanto aquele que defende que petista tem que ser abatido na base da bala.

Todos nós. Perdemos.

Em um estado democrático de direito, todos devem ter preservados o direito de livre expressão. Assim como todos precisam responder pelas consequências daquilo que fala. É óbvio que eu entendo que determinados discursos não devem ser propagados. Mas isso vale para mim. Não posso interferir no entendimento do outro. No máximo eu tenho o meu direito de não seguir com o discurso do outro adiante.

Do mesmo modo, nada justifica a violência. Absolutamente nada. Nada justifica a agressão à vida do outro. Nada justifica o atentar à vida do outro. Isso vai contra todas as minhas convicções como ser humano. E nem vou falar de religião aqui, pois não quero deixar o tema ainda mais polêmico.

Mas… pelo o que pude ver… cada um usa a religião, conceitos éticos e morais e princípios de respeito ao próximo quando convém, não é mesmo?

Pois é… por isso é que estamos na merda.

Particularmente, eu acredito que os bons são a maioria. Acredito que não existem pessoas 100% ruins. E acredito naqueles que procuram seguir suas vidas com o princípio básico de não prejudicar o próximo. Eu sei, em tempos como esses que vivemos é difícil seguir tal linha de conduta, que dirá observar esses traços no próximo.

Porém, diante do comportamento que testemunhei de muitos nas redes sociais, só posso compreender que todos nós perdemos com os acontecimentos de ontem. Que fracassamos como projeto de sociedade organizada e racional, que não temos mais a capacidade de discutir as diferenças sem partir para a agressão.

Voltamos para a era de Spartacus, mas dessa vez, as pedras e espadas são smartphones e computadores. E isso, porque não temos armas na nossas mãos.

Isso mesmo. Eu disse isso.

Independente do que eu penso a respeito de tudo o que aconteceu, eu mantenho as minhas convicções pessoais intactas. Mas elas não são relevantes diante do ocorrido. Foi sério demais. Foi grave demais. Pesado demais.

Todos nós precisamos rever conceitos. Todos nós precisamos parar para respirar um pouco, e tentar refletir com racionalidade em tudo o que aconteceu. Olhando de forma mais analítica, foi vergonhoso. Triste. Revoltante até. Não precisamos descer tão baixo.

Não precisamos perder a nós mesmos em nome de nossas convicções.

Sim. Eu disse tudo isso. Eu sou o cara que lamenta por tudo o que aconteceu. E sou o cara que não muda as minhas convicções pessoais diante de um cenário tão lamentável.

Só não vejo a necessidade de humilhar o próximo para provar o meu ponto.

Ainda me vejo como um ser humano inteligente e racional para dizer com todas as letras, sem medo de me arrepender das minhas palavras:

“Me solidarizo com a família Bolsonaro e com aqueles que apoiam o candidato e o ser humano diante de uma violência covarde e absurda. Desejo ao ser humano Jair Bolsonaro uma rápida e plena recuperação.”

Todos que me conhecem sabem que o meu voto nessas eleições jamais será para Jair Bolsonaro, pois como cidadão, eu não me vejo representado nos seus conceitos, filosofias e visões de mundo. De forma democrática, não o reconheço como a melhor opção para ser o comandante máximo do Brasil. Como cidadão, não concordo com seus valores, posicionamentos e atitudes.

Porém, eu também o vejo como um ser humano.

Não é difícil conciliar tudo isso.

Basta ter um pensamento minimamente racional, e olhar o próximo com humanidade.

Vamos tentar parar de perder como povo. Por favor.


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@oEduardoMoreira