Não faz muito tempo que Google e Lenovo revelaram os planos em comum sobre a negociação que envolveu a Motorola. A notícia surpreendeu muita gente na época. Só depois descobrimos que a Google já contava com planos para se desfazer de uma marca que, apesar de todo o esforço feito por eles, era fonte de prejuízos para a empresa.
Analisando com calma, a decisão foi bem lógica. A Google nunca foi muito interessada na fabricação de hardware, já que tem parceiros importantes para isso – que, por sinal, não viram com bons olhos o fato da gigante de Mountain View ter uma fabricante para chamar de sua, sem falar nas preferências que a Motorola recebeu na hora de aplicar novas tecnologias.
Além disso, apesar dos bem sucedidos Moto X e Moto G, a Motorola segue bem longe de ser rentável. E a Google não quis ficar com esse abacaxi nas mãos por muito tempo, correndo o risco de perder os sócios que vendiam mais smartphones Android. Por tudo isso, passou a Motorola para a Lenovo.
Por outro lado, a Lenovo já estava de olho no mercado mobile ocidental a algum tempo, mas não sabia como fazer parte dele. A marca sempre lucrou muito na sua terra natal, a China, mas precisava de um grande atrativo para conquistar novos mercados, tal como a sua marca ThinkPad, que originalmente era da IBM, faz até hoje. O objetivo era ser um sucesso no mercado mobile da Europa e América. E a Motorola pode muito bem cumprir esse papel.
IBM ThinkPad, o início do auge
Em 2005, a IBM sacou que o mercado de computadores pessoais iria entrar em declínio. E olha que isso aconteceu antes do grande “boom” dos smartphones, e os tablets sequer existiam. Porém, a competição entre os fabricantes do setor de computadores já era grande, e mesmo sendo uma das líderes em vendas, a IBM entendeu que isso não ia durar por muito tempo.
Então, de forma quase surpreendente, decidiu vender a sua divisão de computadores pessoais IBM ThinkPad para a Lenovo, que já fazia muito sucesso na China, mas não conseguia entrar no mercado ocidental.
Isso mesmo… é basicamente a mesma a história que vemos agora na compra da Motorola.
Liu Chuanzhi, fundadora da Lenovo, afirma que haviam três fatores fundamentais que tornam a compra da IBM ThinkPad um grande sucesso. O primeiro foi, claro, as marcas IBM e ThinkPad, onde eles puderam usar a primeira por cinco anos (só usaram por três). O segundo, era a tecnologia superior da IBM no processo de design de computadores. O último, e talvez o mais importante: a Lenovo herdou os canais de distribuição de PCs da IBM.
Esses três pilares transformaram a Lenovo na maior fabricante de computadores pessoais do mundo. E são esses os fundamentos da compra da Motorola, que hoje não oferece lucros, mas que tem um peso enorme no mercado mobile.
Motorola e Moto: as novas IBM e ThinkPad?
A Lenovo já demonstrou sua capacidade em transformar um bom produto em um ótimo produto aos olhos do mercado. A hora não poderia ser melhor para adquirir Motorola, ainda mais pelo fato de que, nos últimos dois anos, a Google se encarregou de renovar a imagem da empresa, com a ótima linha Moto.
Os chineses compraram a Motorola pagando uma ninharia, adquirindo uma marca conhecida e que recuperou sua boa imagem. Com isso, entra no mercado ocidental, obtendo os canais de distribuição que lhe faltavam para oferecer aos mercados da América e Europa smartphones com preços justos e de boa qualidade.
Nesse momento, a Lenovo é a maior fabricante de computadores, com um crescimento de 60% a mais do que os seus principais concorrentes. Eles estão cientes que esse sucesso se baseia em um mercado em decadência, logo, eles não descuidam do segmento mobile. Hoje, a Lenovo é a quarta maior fabricante de smartphones e tablets no mundo, e a segunda maior na China.
Todos sabem que o futuro está nos dispositivos móveis, e a Lenovo deve fazer de tudo para transformar a Motorola e a linha Moto na IBM ThinkPad do mercado mobile. Fortalecer suas vendas nos mercados ocidentais, e se transformar assim na maior fabricante de smartphones e tablets. E não apenas na Ásia, mas sim, no mundo todo.
Só o tempo vai dizer se esses planos vão dar certo. Pelo histórico da Lenovo… há potencial.