Um novo estudo sobre a psicologia da infidelidade trouxe descobertas que desafiam conceitos tradicionalmente aceitos sobre o tema. Ao contrário do que muitas vezes é retratado na cultura popular, a maioria dos indivíduos que traem não se sente culpada e, na verdade, descreve suas experiências extraconjugais como altamente satisfatórias, tanto do ponto de vista emocional quanto sexual.
A pesquisa foi conduzida por especialistas das universidades Johns Hopkins e Western Ontario, em parceria com a plataforma de relacionamentos extraconjugais Ashley Madison. Publicado na revista científica Archives of Sexual Behavior, o estudo analisou quase 2.000 usuários do site antes e depois de se envolverem em affairs, revelando que mesmo casamentos sólidos não impedem a busca por relações fora do matrimônio.
A percepção popular versus a realidade
A ideia de que a traição é acompanhada de culpa intensa e arrependimento é amplamente explorada em filmes, livros e programas de televisão. E como bem sabemos a essa altura da vida, Hollywood é uma fábrica de contar mentiras.
Os resultados do estudo indicam um cenário muito diferente do que a ficção entrega. Segundo o professor Dylan Selterman, da Universidade Johns Hopkins, os participantes relataram um alto grau de satisfação com suas relações extraconjugais e pouquíssimos sentimentos de remorso.
A pesquisa sugere que, para muitos, o adultério não se trata de uma fuga de um relacionamento fracassado, mas sim de uma forma de obter satisfação que não encontram em seus casamentos.
A surpresa fica por conta da constatação de que os participantes ainda expressavam sentimentos de amor por seus parceiros, mesmo enquanto buscavam novas experiências sexuais fora do relacionamento.
O dado desmonta a crença de que a infidelidade é sempre um sintoma de problemas profundos na relação. Em muitos casos, a traição parece estar mais relacionada à busca por novidade e satisfação sexual do que ao descontentamento emocional.
A insatisfação sexual: o principal motivo para a traição
Uma das descobertas mais relevantes do estudo foi que a maioria dos entrevistados citou a falta de sexo como a razão principal para trair. Muitos relataram estar em relacionamentos onde o amor ainda era presente, mas onde a atividade sexual era escassa ou inexistente.
A pesquisa revelou que cerca de metade dos participantes não mantinha relações sexuais com seus cônjuges, e isso os levou a buscar satisfação em outros lugares, com outras pessoas.
Dentre os outros motivos mencionados para a infidelidade, destacam-se o desejo por mais independência e variedade na vida sexual.
Curiosamente, questões como falta de amor ou ressentimento em relação ao parceiro foram citadas com muito menos frequência, indicando que a traição pode ser, para muitos, uma forma de complementar a vida sexual sem necessariamente desejar o fim do casamento.
Essa perspectiva reforça uma visão pragmática sobre a monogamia: manter a exclusividade sexual ao longo de décadas pode ser um enorme problema para muitas pessoas.
De acordo com Selterman, existe uma suposição social de que os casais permanecerão sexualmente satisfeitos com uma única pessoa por toda a vida, mas a realidade mostra que esse ideal nem sempre se sustenta.
Para alguns, a traição acaba se tornando uma alternativa para lidar com essa insatisfação sem necessariamente comprometer a estrutura do relacionamento.
O que tudo isso significa para os relacionamentos modernos?
A pesquisa levanta questionamentos importantes sobre como a sociedade encara a fidelidade e o compromisso.
O modelo tradicional de casamento pressupõe a exclusividade sexual como um pilar essencial, mas os dados sugerem que essa expectativa pode não refletir a realidade de muitos casais. A traição continua a ser um tema tabu, porém, o estudo indica que para muitos indivíduos ela não é vivida com culpa ou arrependimento.
Isso não significa que a infidelidade seja uma solução ideal para todos os casais, mas evidencia que as razões por trás dela são mais complexas do que se imagina.
Em um cenário onde a monogamia é frequentemente tratada como um dado imutável, pesquisas como essa mostram que a realidade pode ser muito mais flexível, desafiando convenções e levantando debates sobre as dinâmicas dos relacionamentos contemporâneos.
Sou suspeito para falar.
Abandonei o conceito de monogamia desde que me divorciei, e entendo hoje que a cumplicidade é algo muito mais relevante do que a fidelidade. Além disso, abracei o “meu corpo, minhas regras” com força.
Mas entendo perfeitamente as pessoas que ainda estão pragmáticas no conceito de monogamia, pois tal pensamento existe no ser humano há séculos. É muito difícil abandonar determinados valores na vida, mesmo quando a realidade prática mostra que a teoria não funciona.
Enfim… é a ciência tentando contribuir com o progresso do coletivo. E nada como simplesmente perguntar para as pessoas o que elas pensam para descobrir como o mundo está se movimentando em relação aos históricos tabus impostos pela sociedade.
Para ler o relatório na íntegra, clique aqui (PDF).