
“O Segredo de Brokeback Mountain” completou 20 anos, e é um marco para a história do cinema. É um dos primeiros grandes filmes abertamente queer a conquistar a aclamação de crítica e repercussão global, mesmo com o contexto social conservador da época e toda a resistência de um coletivo homofóbico.
O filme de Ang Lee conquistou o mundo por sua autenticidade. A história é disruptiva e, ao mesmo tempo, crível, pois foi contada com uma maturidade que desafiou até mesmo as mentes mais obliteradas pelo preconceito.
Após 20 anos, reconhecemos a grandiosidade de um filme que transcende o tempo, deixando marcas profundas no cinema e na evolução do coletivo em uma visão mais empática e humanizada sobre o manifesto genuíno do amor entre duas pessoas do mesmo sexo.
A delicadeza do amor em um ambiente hostil

Ambientado nos anos 1960, o filme narra a relação entre Jack Twist (Jake Gyllenhaal), um cowboy de rodeio, e Ennis Del Mar (Heath Ledger), um trabalhador rural. Os dois desenvolvem um vínculo emocional e romântico durante um verão nas montanhas, mesmo diante das rígidas normas de masculinidade e do preconceito social da época.
Ao fim da temporada, cada um segue seu caminho, condenados a viver o resto de suas vidas na obrigação de seguirem com suas existências heteronormativas.
Ambos acabam se casando com mulheres, criam famílias e ocultam seus verdadeiros sentimentos. Ainda assim, continuam a se encontrar ao longo dos anos, mantendo viva uma paixão que nunca pôde ser vivida em plenitude.
Tal e como acontece com uma frequência cada vez maior ao redor do mundo.
Não são poucas as histórias das pessoas que decidem abandonar o seu lugar comum de viver uma vida “normal, como todo mundo” para abraçarem a essência de sua sexualidade e, mais do que isso, reivindicar o direito de serem quem são na essência.
E sobre a narrativa, é correto dizer que a série “Grace and Frankie” (Netflix) bebe da premissa básica de “O Segredo de Brokeback Mountain” para iniciar a sua trama. E esse é apenas um exemplo do tamanho do legado que esse filme deixou para a cultura pop.
Por que assistir a “O Segredo de Brokeback Mountain”?

Porque é um filme sensível, retratando a repressão de uma essência em troca de uma masculinidade que não era autêntica. O envolvimento entre Jack e Ennis é retratado de forma sutil, com olhares, silêncios e gestos contidos, refletindo o medo e a impossibilidade de amar livremente.
Em contraste, os cenários de “O Segredo de Brokeback Mountain” eram belíssimos, contrastando com o isolamento emocional vivido pelos protagonistas, que estava em uma prisão existencial constante.
Heath Ledger está genial nesse filme, em uma das mais tocantes performances de sua carreira.
E é claro que toda a polêmica do Oscar de 2006 conta, já que “O Segredo de Brokeback Mountain” perdeu o prêmio de Melhor Filme para o esquecível “Crash”, mesmo com Ang Lee vencendo como Melhor Diretor.

O mesmo Ang Lee que quase abandonou a carreira por causa da morte do pai. Mas que retomou o gosto em dirigir filmes com este projeto. Ele entendeu que essa história simplesmente precisava ser contada pela capacidade de impactar a audiência.
Esta é uma das obras mais aclamadas de Lee, e é um divisor de águas na representação LGBTQIA+ nas telas. Mesmo sem um final feliz, é um filme honesto ao abordar a complexidade do amor.
É impossível não se conectar com “O Segredo de Brokeback Mountain” com uma elevada intensidade emocional. Nunca o cinema viu um duelo tão emblemático entre a virilidade e respeito.
E o amor queer, que sempre foi marginalizado em personagens LGBTQIA+, foi representado com profundidade, seriedade e beleza. Finalmente.
Depois de 20 anos, “O Segredo de Brokeback Mountain” segue como um filme atual, necessário e inesquecível.

