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Precisamos repensar a nossa relação com a música

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O iPod teve a sua morte anunciada em 10 de maio de 2022, e esse produto icônico marcou um “antes” e um “depois” no mundo da música, mudando de forma drástica a nossa relação com essa expressão artística. E o anúncio dessa morte mostra que temos que repensar mais uma vez como nos relacionamos com o consumo musical e com os nossos artistas preferidos.

Eu ainda tenho vários arquivos em MP3 no meu smartphone, incluindo álbuns completos que são bem difíceis de serem encontrados nas plataformas de streaming. Será que vou ter que me livrar de tudo isso em nome do novo?

Vamos tentar refletir sobre a nova relação com as playlists, agora que o streaming é o rei do consumo musical.

 

 

 

Qual será o futuro das playlists?

Hoje, as pessoas contam com uma certa veneração pelas playlists sugeridas por plataformas de streaming como Spotify, YouTube Premium, Deezer e Apple Music. É possível agrupar músicas a partir do seu estado de ânimo ou por temas como Guilty Pleasures (que são as músicas que você não quer que ninguém saiba que você gosta) ou One Hit Wonders dos Anos 90.

Por outro lado, álbuns musicais são verdadeiras histórias contadas por artistas canção após canção, onde a ordem das músicas é algo muito importante. Um claro exemplo do que estou falando é American Idiot, opera rock do Green Day, onde a sequência das músicas dispostas mostra a real intenção daquele conjunto de músicas.

Não queremos aqui marginalizar o modo shuffle, pois a aleatoriedade sempre traz o frescor do novo na experiência de consumo musical. Por outro lado, Adele nos lembrou em 2021 que a ordem das músicas é importante para entender os sentimentos mais profundos do artista ao colocar as canções naquela ordem dentro de um álbum.

Logo, algumas pessoas entendem que o abuso no consumo de playlists está tirando uma parte do significado da música como um todo. Para muita gente, música não é uma experiência fragmentada ou intercambiável, pois tudo o que pode ser substituído nessa vida se torna prescindível ou esquecível.

 

 

 

Sem o iPod, vamos voltar a ouvir álbuns completos na sequência?

Eu espero que sim. Caso contrário, Bob Dylan vai ficar extremamente irritado com todos os fãs de música. E com razão.

Para ele (e para muitos outros expoentes da música), os álbuns completos são livros que precisam ser apreciados para maior identificação pessoal com essa obra. Conhecer o pensamento completo de um cantor ou compositor é parte fundamental da experiência de consumo musical. É o que justifica dedicar um tempo de nossas vidas para conhecer a alma daquele cantor, cantora ou banda.

É indiscutível que o streaming democratizou a música em todos os aspectos, permitindo que mais e mais pessoas possam conhecer novos artistas e bandas de uma forma mais ágil e prática. Hoje, todo mundo carrega música no seu bolso e ouve suas canções preferidas em qualquer lugar, o que é algo incrível.

Porém, é preciso encontrar maneiras para preservar essa experiência de conhecimento mais amplo do que um artista pode oferecer com ideia geral de sua obra, sem fragmentar seus pensamentos e intenções.

Caso contrário, vamos apenas passar pela música, usando o shuffle de forma quase automática, ouvindo as canções por ouvir, e sem pensar no que elas podem nos oferecer.


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@oEduardoMoreira